**ARMINDO LOUREIRO E AS PALAVRAS** - Manoel Ferreira
Armindo Loureiro não está mais entre nós. Faz longo tempo que está
ausente. A sua sensibilidade, a sua poesia fazem muita falta. Mas deixou para
nós os seus versos, a sua poesia. Faz um ano que escrevi esta crítica. Momento
de matarmos a saudade deste grande poeta e homem.
**************************************************************************************
**ARMINDO LOUREIRO E AS PALAVRAS**
"Palavras e mais palavras
Vão escorrendo da minha mente
São palavras que estavam atadas
Escondidas simplesmente" (Armindo Loureiro)
A vida é mistério. Des-velar os mistérios é velar a vida, vivê-la na sua
completude, na sua integridade. As artes são re-presentações da vida. A poesia
é a vida re-presentada nas palavras, a dimensão da sensibilidade da vida, do
viver. Os mistérios da poesia é o "eidos" da vida e, portanto, devem
ser velados.
No instante da a-nunciação da poesia na sua re-presentação da vida, sim
é o que o poeta Armindo Loureiro verseja no poema "Palavras e mais
palavras/Vão escorrendo da minha mente". Mistérios e mais mistérios são
nelas a-presentados, e cada palavra são miríades de um único mistério, são
luzes que iluminam os interstícios da alma, interstícios que clamam, rogam por
serem velados, por serem raios de novos desejos, esperanças, vontades do ser,
por serem a vida na sua dimensão espiritual, por espiritualizarem as
contingências, sermos a vida. Quantos mistérios a serem velados em cada
palavra, em cada metáfora deste poema - não é um excerto, estrofe de um poema,
é um pouco tal é a complexidade que em si traz dentro. Mister, condição sine
qua non mergulharmos profundo neste poema para visualizarmos a sua
profundidade, leituras e releituras, todas as dimensões sensíveis presentes,
todas as dimensões da alma figurando para sentirem a sua profundidade de seu
ser., e é no movimento da vida que se vão re-velando, diante das situações e
circunstâncias, diante dos sonhos do "ser".
"São palavras que estavam atadas/Escondidas simplesmente".
Versos profundos. Nos interstícios dos mistérios as palavras se encontram
unidas, comungadas, reunidas, Verso-Uno da poesia, e "simplesmente
escondidas", os desejos do des-velamento se apresentam, a arte da poesia
se mostra, e a cada passo, a cada palavra do poema as palavras, sejam símbolos,
signos, metáforas, são versejadas, versificadas à luz dos sonhos, esperanças do
"ser".
Poeta e palavras, poeta e versos estão atados, escondidos simplesmente,
e é no tempo que vão sendo desvelados. Em verdade, em verdade, este poema de
Armindo Loureiro é o Verso-Uno do poeta e das palavras, cabendo-nos, a nós os
leitores, o desvelamento, descobrirmos a origem do poema que é o poeta e o
poeta que é a origem do poema.
Manoel Ferreira Neto.
(08 de fevereiro de 2016)
Comentários
Postar um comentário