*ASSIM DIZIA NADA LAREDO DE OLIVEIRA** - Manoel Ferreira
Vós que ledes uma obra, poema ou prosa, sentindo neles as sincronias,
sintonias, harmonias da linguagem, estilo, semântica, linguística, perfeitas,
obras-primas, recitando, peito arfando, olhos brilhando, o soneto do Belo, da
Beleza, tecendo todos os encômios ao artífice da obra, não vos esqueçais o Belo
de hoje não o será amanhã, é na continuidade do tempo que o Belo vai se
re-velando, vai se mostrando, e mesmo assim há-de se in-vestigar o tempo do
momento, o que era Belo na obra deixa de sê-lo, mister procurar nela outras
dimensões que abram os leques para novas buscas. Cristalizar valores é
negligenciar a vida que precisa sempre de outros verbos para a jornada.
Vós que, num instante, arrancardes, de dentro de vossas almas, uma idéia
esplendorosa, mágica, tal idéia será o húmus de outros princípios morais e
éticos, serão os grãos de outros sentimentos e emoções, sementes da
espiritualidade, não vos esqueçais de que idéias nascem sob a égide das
conjunturas do tempo, servem ao momento, são paliativos das dores e
sofrimentos, a vida dirá se esta idéia é ou não húmus de outros princípios
morais e éticos.
Vós que trazeis no mais recôndito de vosso ser estes três pilares,
sonho, esperança, fé, pilares da continuidade da vida, não vos esqueçais de que
podem ser ilusão de ótica, podem ser alpiste para as incapacidades,
inutilidades; sonho, esperança e fé são pilares, quando a autoestima
pres-ent-ifica-se nos instantes-limites, quando se sabe o que realmente se
deseja, o ad-vir que desejam desfrutar. Sem a autoestima, nenhum sonho,
esperança , fé tem qualquer valor. Mister estar disposto a morrer por um
projeto, caso contrário, sonho, esperança, fé são leis do menor esforço.
Vós que engolistes a seco o Nada, ele é a chave do encontro da verdade,
e por esta concepção e crença saís pela vida a fora nadificando morais, éticas,
condutas e posturas emocionais, comportamentos existenciais pré-estabelecidos,
não vos esqueçais de que o Nada mesmo é a sabedoria de que a ação, aquilo mesmo
de colocar a mão na massa, é a Vida. Nadificar as coisas em nome de uma crença
nada significa, é construir com o Nada o vir-a-ser do eterno.
Vós que pensais o ir acumulando experiências, vivências, conhecimentos
ao longo da caminhada proporciona tranquilidade, serenidade, estar de bem com a
vida, estais eminentemente equivocados porque acumular conhecimentos não é
existir, sim arrastar-se no mundo. Fazer das experiências, vivências
conhecimentos tabernáculo da esperança, isto sim, é existir, estar à busca da
plenitude. Conhecimento não é sabedoria. Sabedoria é sentir a carência da vida,
afagá-la com obras.
Vós que sentis as carências dos homens, a solidão que lhes habita, as
necessidades de que prescindem, dando-lhes as mãos para a superação das dores e
sofrimentos, para a suprassunção dos medos, não vos esqueçais de que os vossos
pensamentos, vossos ideais, vossas utopias não são os mesmos deles, indicar um
caminho não é impor regras e normas, princípios, sim ajudar a cada um a se
encontrar no mundo, isso com a presença do respeito e do reconhecimento.
Vós que profetizais com o "nada" de vossas vidas, desejando
vossas vidas sejam diferentes, não vos esqueçais de que as verdades que possam
ad-vir da profecia só se realizam com o con-sentimento da vida e suas dimensões
trans-cendentais. Ademais o "nada" de vossas vidas não é o Nada nas
suas dimensões de busca. O "nada" de vossas vidas não serve nem a vós
próprios.
Manoel Ferreira Neto.
(29 de fevereiro de 2016)
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