**POST-SCRIPTUM** - Manoel Ferreira
Assim que me encontrei com o Presidente da Academia Curvelana de Letras,
Rubens Bittencourt, na rodoviária, por volta das oito, nove horas da manhã, por
ocasião de minha matéria sobre os despautérios do vereador Carlos Magno
Gonçalves, membro da Academia, dizendo-me aquele que iria tomar as suas
providências. Não era boa tal matéria porque estava por ser realizada a sede da
Academia, pensei comigo: "Sim... Vou lhe dar mais um motivo para suas
providências". No mesmo botequim "copo sujo", BAR DA PRAÇA,
escrevi esta matéria. O diretor do tablóide, GERALDO MAGELA DE ABREU, recebeu a
matéria com muito carinho, publicando-a.
Recebi pelas ruas ameaças de ser processado judicialmente. Mandei que o
fizessem, tinham todo o direito. Jamais aconteceu. As providências contra a
matéria do tablóide Centro de Minas não foram tomadas. Não fui processado. Nada
foi escrito e publicado a respeito.
Algo posso dizer de camarote: "Sejam galos. Defendam as galices
todas. Mas não cantem no meu ouvido. Não cacarejo, uivo a todos os ventos"
O ANTICRISTO
Veio-me à mente por mais as pessoas estejam informadas da realidade em
que vivem, problemas e dificuldades por que passam, ainda caem no
“conto-do-vigário”. Por inocência, ingenuidade? Não. Porque, mesmo, as
informações são tantas, não lhes têm acesso, não lhes são permitido
conscientizarem-se das coisas; em específicos ângulos, são-lhes barrados
quaisquer conhecimento, só quem é parte do sistema está ciente do que acontece
– pode agir a seu bel prazer, não importando condutas e posturas.
No dicionário, o termo “sede”, somos informados ser a “casa principal de
uma ordem religiosa”, entidade, instituição. Neste sentido, a “sede” dos padres
redentoristas em Curvelo é a Basílica de São Geraldo, ou seja, onde a doutrina
cristã, religiosa é trabalhada na comunidade, cujos objetivos são a fé, amor,
evangelização, espiritualidade – a fé de nosso povo curvelano é inabalável,
nosso símbolo maior é São Geraldo. E todos sabemos da conduta ilibada de nossos
padres na história cristã e religiosa – não tenho notícia de desvio de conduta
dos redentoristas. A “sede” do “poder público” é a Prefeitura, onde os
interesses econômicos, sociais, políticos são trabalhados a favor da
comunidade. Sempre nos momentos de sonhos e saudades, imagino os curvelanos
dando saltinhos pelas ruas de alegria com o desenvolvimento através da gestão
do nosso prefeito e equipe.
“Sede” exige os desejos dos homens estejam na pauta e estatuto
quotidianos. Nela, objetivos, metas, projetos, intenções estão voltados aos
homens, visam desenvolvimento, amadurecimento deles, “real-izar” interesses
beneficiem a todos cultural, humana e humanisticamente.
Se tais objetivos não são vigentes, observa-se a olho nu não existirem,
o que vige são as ideologias, fogo de egoísmos particulares (enfim, vontade de
poder foi sempre tentadora, já o dia Nietzsche, em seu nome continuo-lhe o
pensamento noutras jurisdições e foros), as condutas são as mais ilegítimas,
maculadas, pode-se dizer tratar-se de “Sede de Orates”.
Em termos da cultura e artes, a sede é academia, cujos objetivos
nucleares e essenciais são as divulgações, o crescimento cultural, intelectual,
humano e espiritual dos homens, da comunidade, “en-raizando” as produções
artísticas, pro-duzindo consciências-estéticas-éticas na totalidade. Tomei em
mãos a res-ponsabilidade de “en-raizar” o escritor Antônio Nilzo Duarte e suas obras,
felizmente anda de “vento em popa” – o que habita o coração dos homens é o
amor, somos o “coração” das Minas Gerais, faltava alguém falar de amor
verdadeiro. Sonhos, utopias-estéticas-éticas de um povo só são realizados nas
artes, religiões (já o disse o compadre Paulo César Carneiro Lopes).
Se estes não são os objetivos, em primeira instância, não se pode falar
em academias, muito menos em “sedes” culturais e artísticas, pode-se dizer que
um grupo de “salauds” se reúne debaixo de um teto com interesses que só Deus
mesmo pode saber, porque é Ele quem conhece profundamente a alma humana (há
aqueles que tiram a roupa e pisam em cima, afirmando que empreendem grandes
serviços à comunidade, recebem até “medalhas de honra”: são os que precisam
assegurar os seus lugares na confiança deles, são os que necessitam de “juízes”
já que não conhecem seus dons e talentos). Em segunda, as artes e a cultura
estejam vigentes na comunidade, seguem a trajetória no mundo, espiritualizando
os homens. Pode-se dizer estão mãos destes homens que se reúnem debaixo de
tetos para solidificar a alienação e insanidade total, absoluta. As artes são
manifestações culturais de um povo, são-lhe a vida, devem então estar no meio
dele, trabalhando necessidades e urgências. Temos cultura, arte, grandes
personalidades nas artes e na cultura – exemplos para mim são Marcos Antônio
Alvarenga, Antônio Nilzo Duarte, Paulo Cesar Lopes , Ludmila Paixão – o que nos
falta é a responsabilidade com isto, e isto só se torna real a partir de
engajamento, de lutas em favor dos verdadeiros artistas, das artes, da
comunidade. Antigamente não era preciso identificar os artistas dizendo
“verdadeiros”, mas hoje existem os “oportunistas da imortalidade”.
Dissemos as pessoas estarem informadas da realidade em que vivem... Se
estivessem da necessidade das artes, do que significam na vida e na realidade
da comunidade, não receberiam com toda alegria e saltitância “gatos por lebres”
, não cairiam no “conto-do-vigário”. Na História, grupos de homens resolvem
tomar as artes em mãos, as artes são deles, isto é, têm de tirá-las do povo
porque significam consciência, espiritualidade, e não é negócio sejamos
conscientes, espirituais e espirituosos, interfere no presumido poder que têm;
as escolas estão incluídas, o que ensinam nunca foi literatura.
Leitor, quereis algo mais deprimente, difícil de engolir, do que ouvir,
como ouvi neste “buraco de mundo” em que resido, que Curvelo tem “casa de
cultura” e não tem cultura. Temos sim, e temos pessoas cultas e intelectuais de
renome internacional como é o caso, dentre outros, de Lúcio Cardoso, André
Carvalho, Ângelo Antônio. Alguém muito querido gosta de tirar sarro de minha
cara, dizendo que sonha comigo membro de academia – é o oportunismo da
imortalidade que refuto com todas as letras. Jamais, ‘ne-never´, não preciso de
juízes, minha juíza é Maria Santíssima.
Nasci artista, Deus legou-me o dom das palavras (não fui feito pelas
mãos dos interesses e ideologias “chinfrins”: mando-lhes as “bananas” de
Sartre); a escrita é o “ar que respiro”, como definiu alguém curvelano por quem
tenho carinho e amor enormes. A minha responsabilidade: a
consciência-estética-ética. Ser escritor não é só colocar livros no mercado
literário, usufruir fama e prazeres mil (Antônio Nilzo Duarte não comercializa
suas obras; eu tenho a responsabilidade com a minha carreira de escritor: sou
filho de Machado de Assis, Dostoiévski e Sartre) – nossa atualidade, nosso
sistema criou o monstro chamado “fama e imortalidade” através das artes, de
qualquer outra atividade; arte não é fama, imortalidade, os escritores na
história lutaram pela consciência-estética-ética, a imortalidade foi resultado.
Caríssimo leitor-curvelano, todos somos culpados de nossa história – já
o disse Walter Benjamin -, somos responsáveis por rever-lhe as mazelas e pitis.
Sou escritor “livre”, sou quem dá sentido, rédea (fazer os homens rirem de
felicidade, eis o lema; ninguém é feliz por cair no “conto-do-vigário”) a esta
liberdade com a minha responsabilidade, e elas são as letras.
Manoel Ferreira.
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