**A VIDA SABE O QUE FAZ** - Manoel Ferreira
A alma circuns-pecta pers-cruta as ad-jacências de suas vivências -
sentimentos des-vairados que resultaram em re-colhimento para re-criar verbos
de possibilidade de encontros, de liberdade em projetar quimeras e sorrelfas ao
além, sonhos e esperanças ao vir-a-ser de vida outra envelada nas contingências
do presente e do quotidiano. A alma intros-pectiva sonda as bordas de suas
experiências - lembranças e re-cordações de instantes de prazer, ideais e
utopias olvidados por outras necessidades e urgências prioritárias, sonhos e
esperanças frustrados, fracassados, fora esquecida a disponibilidade do tempo,
num átimo de segundo impensado tudo perdido, tudo deposto, as bases da vida não
foram cuidadas com percuciência, a continuidade dos passos faz-se por inter-médio
de dificuldades; faltas, dores e sofrimentos são consequências in-evitáveis...
Até onde vai o caráter perspectivo da existência, ou noutras palavras,
tem ela mesmo outro caráter? Uma existência sem interpretação, sem
"razão", não se torna precisamente um absurdo? Uma vez que, por outro
lado, toda existência não é fundamentalmente interpretativa, isso não pode ser
decidido, como seria necessário, pelas análises mais zelosas do intelecto, as
mais pacientes e minuciosas intros-pecções; desta forma, o espírito do homem,
no decurso destas análises, não pode impedir-se de ver a si próprio conforme a
sua perspectiva e somente nela. Enxerga-se um palmo além da ponta do nariz, a
existência dobra as curvas de confins.
O mundo voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos
recusar a possibilidade de se prestar a uma in-fin-idade de inter-pretações.
Os ponteiros do relógio continuam seguindo a trajetória do tempo, das
horas. As horas passadas não re-tornarão. Não se chega ao Éden voltando ao
genesis, sim seguindo em frente.
A vida sabe o que faz, sabedoria profunda. Momentos há que exige
conhecimentos, exige que se aprenda o que não fora aprendido, aprendizagem
permeada de dificuldades, misérias, pobrezas, dores e sofrimentos... Dá-nos o
cobertor conforme o frio - não tivéssemos condições de suportar as coisas, não
nos dariam tais fardos. Isto para os homens especiais, aqueles que ela escolhe,
o que aprenderam fará todas as diferenças. Chegado o tempo, ela mesma, a vida,
cuida de mostrar os caminhos, de orientar nos novos caminhos.
Por vezes, longos e intermináveis anos são levados para se ver um sonho
realizado. Há quem só no final da vida degusta o prazer de único sonho
realizado, vive-o, vivencia-o pujantemente. Há quem vê seus sonhos realizados, passando
por dificuldades indescritíveis, inomináveis, mas estes sonhos realizados são a
pedra de toque de esperanças, a todo instante projeta novos ideais, novas
utopias, novos desejos e vontades. Aí é que a vida reconhece o que habita o
íntimo deste homem, os seus merecimentos.
A vida é pura sabedoria. Vivendo e sofrendo, nas dificuldades, miséria e
pobreza, é que se mergulha profundo nesta sabedoria, assimila-a, vive-a, é-se
outro, o que passou foram apenas pedras de toque de aprendizagens.
Manoel Ferreira Neto.
(23 de fevereiro de 2016)
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