Sonia Gonçalves ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O TESTEMUNHO HISTÓRICO #MANOEL FERREIRA - ORIGEM CIRCENSE#, DE ÉDSON GANDRA ***
Muito
legal mesmo Manoel Ferreira Neto saber um pouco mais de você, desse lado lúdico
circense o qual nem suspeitava, teu amigo escritor, teu livro, tua genitora e
lógico tua sempre arte da escrita. Acho que o circo perdeu um palhaço, mas o
mundo ganhou um grande escritor e pensador filósofo, seus escritos te farão
eterno.Parabéns pelo todo contextual, muito legal mesmo!Bjos noite serena. ⭐️💫✨🌟
Sonia
Gonçalves
***
RESPOSTA
AO COMENTÁRIO SUPRA
Gratidão
por seu comentário, Sonia Gonçalves. Houve tempo já que falei de minhas origens
circenses. Sobremodo comum isto de as pessoas entenderem certas revelações de
artistas, escritores, filósofos como fruto de imaginações férteis. Sempre
necessário que alguém seja o responsável pela revelação, colhida da fonte, sendo
assim não havendo dúvidas ou insinuações escusas.
***
Pois aqui
está, colhida da FONTE, um pouco de minhas origens circenses. Edson Gandra se
encontrou com a Tuca nas ruas da cidade de Gouveia, Minas Gerais, em 1937, e
ele conta a história que presenciou, e nada há mesmo de não na sua revelação de
minhas origens, confere ipsis litteris com as histórias que me contaram da
minha progenitora, Maria Elba Lacerda(vulgo Tuca), ainda que ela tinha o dom do
teatro, participou de teatros, e fora congratulada, mas ela não pôde seguir a
carreira. Em tudo que a Tuca tocava algo nascia, tinha o dom. Algumas coisas
não foram reveladas pelo Edson Gandra, não porque não soubesse, achava ele que
há coisas que se dizem e há coisas que não se dizem. Por mim, poderia ter colocado,
as minhas origens são as minhas origens, por que negá-las ou escondê-las? Em
verdade, quando o circo chegou a Gouveia em 1937 já estava falido. A mãe de
Tuca, trapezista, fugira com outro artista do circo, deixando Tuca e Napoleão
com meu avô, OSVALDO BORGES, mas ele não tinha condições de largar o circo e
cuidar deles, então deixou-os na rua e foi embora. Vinte e cinco anos depois,
meu avô apareceu em Curvelo para conhecer a Tuca, foi quando o conheci.
Respeitei o fato de ele não haver citado estas coisas. As contingências da vida
são contingência da vida, são a minha história. Digo-as, pensem o que pensarem.
***
Este
comentário do saudoso amigo Edson Gandra era para ser ou o Prefácio ou a Orelha
de minha novela Ópera do Silêncio, publicada pela Editora Armazém de Idéias,
Belo Horizonte, 2000, mas a celebridade da Literatura Dr. Paulo César Carneiro
Lopes, doutorado pela Universidade de São Paulo, daqueles que sabem de tudo,
egrégios "sabem tudo", não consentiu que fosse. Tinha de ser feita a
Orelha pelo poeta Newton Vieira, pois que fora ele quem abriu as portas da
Editora para mim. Newton Vieira confessou-me não ter condições de escrever
sobre a obra, além das possibilidades dele. Dei-lhe algumas dicas; escreveu
como lhe dissera, só ornamentando com algumas linhas de sua criação. Isto ele
não assume, daqueles que vivem de aparência. Para mim, este é o Prefácio da
obra. Nela, só há a Orelha.
***
Há outra
perspectiva que comunga com a vida mambembe dos palhaços. Vivem pelas estradas,
a representarem seus espetáculos de cidade em cidade. Morei em Itabira, Belo
Horizonte, São Paulo, Guarulhos, São Roque, Juiz de Fora, Diamantina. Um
itinerante da filosofia e da literatura, desejando encontrar o porto de suas
idéias e pensamentos acerca do Pensamento e do Mundo. Encontrei o que buscava
após 40 anos de andanças, encontrei o Rio de Janeiro, minha amada Esposa e
Companheira das Artes, Graça Fontis, encontrei outra cultura que comunga com
excelência com as minhas idéias e pensamentos, a Liberdade, eis a essência dos
cariocas. A cada dia perco mais as tradições do conservadorismo dos mineiros,
dos curvelanos. De coração, sou hoje carioca. E outra coisa inda: meu avô,
deixando o circo, veio residir aqui no Rio de Janeiro, aqui viveu, aqui está
sepultado. Viveu aqui por trinta e cinco anos. Nestas circunstâncias, discordo
de Édson Gandra: em termos das origens, pertenço a Gouveia, Curvelo, mas é o
Rio de Janeiro a minha vida como a penso e sinto em mim.
***
Não.
Efetivamente, não daria para ser palhaço, estar de fato no picadeiro como
palhaço, levando crianças a fazerem pipi nas calcinhas de tanto rir, os adultos
chorarem por haverem guardado, perdido o espírito da ingenuidade e inocência no
coração e na alma. Não saberia eu fazer estas graças tão engraçadas, de fazer
rir e chorar. Mas o palhaço que há em mim enveredou-se pelas letras a fora,
pela Literatura e pela Filosofia, as sátiras fazem rir e chorar, a obra faz
pensar e refletir o que é isto - existir? Felizmente o mundo perdeu um péssimo
palhaço: há muitas graças ainda por serem realizadas neste picadeiro de
palavras e idéias, mas sou cônscio de que minhas letras e pensamentos fazem a
minha eternidade, e vamos de pensamento em pensamento levando a arte para os
homens. Com efeito, faço o meu destino, faço a minha existência, faço o que
será o eterno de mim, equilibrar no trapézio das decisões e consequências é que
são elas, o picadeiro da existência com as contradições e dialéticas não é
brincadeira.
***
Gracias
muchas, Soninha Son, por seu reconhecimento e amizade, sei de antemão às
revezes que sinceros e verdadeiros. Beijos nossos.
Manoel
Ferreira Neto
***
#MANOEL
FERREIRA# - (ORIGEM CIRCENSE)
Édson
Gandra
(Membro
da Academia Municipalista de Letras, de Curvelo, Minas Gerais).
***
Manoel
Ferreira, curvelano, tem uma personalidade muito filosófica e o seu “ego
imperativo” demonstra a sua impetuosidade que o faz vencer os obstáculos de sua
vida intelectual consistente, fazendo-o superar as dificuldades que o escritor
encontra quando quer e precisa projetar-se no cenário cultural, para que a
avidez das letras trace o seu caminho definitivo no cenário dos bons escritores
contemporâneos.
***
Seus
avós, de origem circense, talvez tenham legado a acrobacia genética que o faz
lançar-se no picadeiro da vida com a fertilidade do artista que arranca do
público os aplausos pela magia literária de sua obra na fecundidade de sua
linguagem e imagens.
***
Conhecendo-o
a mais de trinta e cinco anos, posso garantir que ele, além de escritor, é um
ser humano capaz de gerar tanta amizade, que o seu coração se dilata para
escrever com a sua generosidade a poesia da vida (embora não goste de poesia)
que ele a vive e nos faz viver pela sua palavra.
***
Em
janeiro de 1937, uma procissão de S. Sebastião circulava a antiga Igreja do
Rosário, em Gouveia, que fora construída no meio da avenida principal, hoje
denominada Juscelino Kubitschek.
***
As linhas
irregulares da avenida formavam, ali no fundo da igreja, uma praça que às vezes
era utilizada para a montagem de circos ou touradas, únicas atrações possíveis
naquela época.
***
Nessa
praça, foi naquela ocasião armado um circo, cuja denominação não mais me
recordo, para uma temporada de espetáculos.
***
Na minha
idade de doze anos, aquelas atrações circenses tinham o belo do impossível e as
sensações do misterioso, e o esplendor da arte se manifestava em todos aqueles
artistas que se exibiam com o rigor exigido pelo espetáculo.
***
Mas o
circo se silenciou de um dia para outro e o largo se tornou um vasto proscênio
que se estendia a um futuro incerto e interrogativo.
***
No
casarão envidraçado, que até hoje existe, naquele local, e que serviu de pousada
àquela trupe, ficaram esquecidas duas crianças: uma de três anos, a Tuca, em
verdade, Maria Elba Lacerda; outra de cinco anos, o Napoleão.
***
A
procissão passava e uma jovem conhecida por Diu, Clautilde Winders de Almeida,
de família gouveiana, filha de Vicente de Almeida e Alzira Winders de Almeida,
acolhia as duas crianças, carregando a menor, de cabelos encaracolados, e dando
mão ao esperto garotinho.
***
Os
meninos choravam! Para a minha idade, tudo aquilo parecia natural.
***
A Tuca,
acolhida pela Diu, serviu de encantamento à família generosa, pois teve uma
infância gloriosa pelos dotes que recebeu de seus pais e, no Grupo Escolar, e
em tudo que tomava parte, exibia nos auditórios e nas apresentações, toda a
graça artística de que era possuída, frutos genéticos herdados de artistas
circenses, seus pais e seus avós.
***
Estava
fadada a versátil criança, a constituir, no futuro, uma família e a legar a um
de seus filhos a versatilidade artística da magia circense, expressada na arte
da palavra escrita, a que chamamos prosa, e também que podemos exprimir em
literatura.
***
O vasto
proscênio que naquele dia se iniciou, como já disse, se estendeu vida afora,
depois de fechadas as cortinas do palco que se extinguiu, para reabri-las mais
tarde, como acontece agora ao filho da Tuca, o escritor-filósofo Manoel
Ferreira, que reaparece no cenário do mundo literário, como o artista das
palavras, da imagem e da poesia, que é o seu frasear tão singular, nos
monólogos, diálogos e descrições de seus personagens fantásticos e misteriosos.
***
A feliz
ilustração da capa de seu livro “Ópera do Silêncio” nos convida a sentir que as
cortinas do proscênio estão agora a se abrir para a encenação do presente, onde
o autor se apresenta, alegoricamente: “Sou um homem-desequilibrado. Sou um
homem-desequilíbrio”, quem sabe, um palhaço que ri para si mesmo, que faz os
outros rirem, ou um equilibrista que flutua sobre a prancha que se desliza
através das moendas da vida, e na impetuosidade desses movimentos, se
estabiliza na plataforma do saber, com rumos à imortalidade, que diz pertencer
às três cidades Curvelo-Diamantina-Gouveia.
(19 de
junho de 2019)
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 23 DE JUNHO DE 2020, 12:55 p.m.#
Comentários
Postar um comentário