#LEITE BALSÂMICO DOS ÚBERES DA LUZ# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***
Quem sabe
possa, inspirando-me na luz incidindo na tela do computador, vinda de por trás
e acima de mim, acendo esta ao invés da outra que me ilumina a cabeça, fazer
surgir à luz todos os segredos, enigmas, não por estar desejando decifra-los,
deixar-lhes para trás, belo sorriso esboçado no rosto, serpentear a modéstia de
orgulhos ingênuos. Surjam do interior.
***
Se é que
posso descrever o centro, de onde pende a lâmpada acesa, círculo de amarelo
escuro, dizendo que a minha palavra busca iluminar o reflexo do branco no
papel.
***
Não é
estranho que assim o diga, se busco me justificar de algumas ignorâncias me
surgem no íntimo, e nada posso fazer senão deixá-las inscritas como uma
repugnância por serem responsáveis por tantos segundos sem uma única palavra na
mente, vazio, puramente vazio, e, no tempo, tornar-se-ão sabedorias das mais
estúpidas que se possa encontrar nalguma agenda escondida, dentro de cofres a
sete e mais chaves, que não se sabe quantas.
***
Sou homem
demasiado limpo, então nos últimos tempos não suporto vestir roupas escuras,
sinto um nó de amargar as profundezas do espírito e da alma, e, portanto, nos
últimos tempos visto cores alegres, amarelo forte, azul, cinza, vermelho... sou
indivíduo demasiado limpo para a mácula das palavras mentira, fantasia,
imaginação. Fica a mentira isolada da verdade.
***
Quanta
repugnância quando me sai da boca a palavra mentira! E quando alguém teimoso
feito uma mula insiste que as palavras definem o homem, conceituam seus
impossíveis, fracassos, melancolias, e não sei mais o que a dizer, sem cair
numa repetição sem limites e fronteiras? Olho-o de soslaio de imediato e o que
me resta na retina é um branco esquisito e estranho.
***
Na
realidade, isto me diverte muito, de ouvir as pessoas tagarelarem por todos os
becos, alamedas, avenidas, ruas o sentido de viver, da vida, de não sei mais o
quê sobre os dramas e faltas incólumes que habitam ingenuamente o íntimo da
alma humana. Só mesmo caindo na gargalhada com estas palavras, pois dramas e
faltas habitarem ingenuamente o intimo da alma humana é um absurdo, por esta
razão, pensando enfatizar bem a idéia que me perpassa o espírito, e de soslaio,
a olho e com ela me identifico bastante, a ponto e natureza de a perseguir no
ritmo da música que toca no computador, enquanto registro no diário que há
algum tempo venho tentando fazer, para passar o tempo, enquanto o sono me vem
convidar aos sonhos diferentes e iluminados.
***&
Ai!
muitas vezes chega a enfastiar-me as letras que a língua vai tecendo com os
seus movimentos, quem sabe gestos, não o sei, sei que as letras unidas dizem-me
de tédio, angústia, náusea, não sei mais o que poderá fechar com chave de ouro,
a verdade, enfim, fora pronunciada, não esperava que algum dia o fosse, perdera
a esperança nalgum recanto ou canto, não interessa saber.
***
A
mentira, sobre o que garatujo nesse espaço pequeno de entre linhas, as letras
quase exprimidas de todo, até fazendo com que comece a bordar as letras,
encontrar as minhas próprias, as que ninguém será capaz de imitar, só poderá
con-templar, nenhum artista seja capaz de re-criar mantendo a perspectiva...
***
Enfastia-me
o talento de com elas ir tecendo a rede em cujas espaços não há saída
plausível, se houver é que algum mistério está sendo vivido agora, e como estou
preocupado em registrar o que se me apresenta de imediato, sem pensar que nada
tem sentido em tudo isto, não passam de palavras inúteis, muito difíceis de
serem pensadas, chegando a assumir como próprias ou dar-lhes as costas.
***
Por onde
andam as lágrimas dos meus olhos, nalgum tempo vertiam-se tão fáceis com estas
letras? Aonde fora o ornamento do meu coração, antes não sedento de saciar as
carícias anteriores a quaisquer outras, de saciar a fome que poeticamente me
habita, se rasgo a folha deste dia, e nada mais existirá disto que deixo
inscrito em letras, agora estou buscando um estilo barroco de cada uma, como as
conheço de alguém íntimo?
***
Oh
silêncio dos que brilham no leite balsâmico dos úberes da luz! Por que hei de
ser luz? E avidez das imagens e sentimentos revelados em sentidos que fogem à
capacidade de entender e compreender o que mesmo estão a dizer, se o que digo
não tem sentido tanto melhor para mim.
***
É noite.
Eleva-se mais intensa a voz das fontes; a minha alma é uma fonte. A minha luz
dirige-se a tudo o que é obscuro. Se por todos estes anos, vinte e cinco
agendas, correspondendo aos anos em que venho registrando algumas coisas, quem
sabe desejando inclinar-me para a sabedoria, e frequentemente sem medir limites
e fronteiras, é porque me recordou a vida, haver algo desconhecido ao meu
derredor, que me olha de soslaio, esboçando sorrisos muito ensaiados para o meu
paladar refinado; de esguelha, quando me olho ao espelho, a imagem refletida,
sou o único responsável por ela, mesmo que não aceitem, ninguém poderá mudá-la,
nem eu mesmo.
***
Se
houvesse alguém quem, com insistência, nada podendo fazer para me desvencilhar
dele, questionando-me: “Quem é você? Se não quiser gastar seu tempo com
futilidades, responda-me com uma palavra apenas. Dar-me-ei por
satisfeito?"
***
De modo
algum não me furtaria ao prazer de lhe responder, não gastaria meu precioso
tempo com banalidades, para não repetir a palavra tão próxima da outra, o que
bate contra o estilo. Teria de passar, quem sabe, toda a vida procurando
entendê-las com a contundência e pujança do desejo de as ouvir, de caírem bem
no peito, suscitando quem sabe esperanças outras que não as tão já conhecidas
da humanidade, dos homens em qualquer buraco deste mundo sem fronteiras.
***
Responder-lhe
que sou de entre essa gente quem, com modéstia, raiando a imbecilidade,
esquisitice, canta de galo nos galinheiros de grandes sombras, onde as galinhas
refestelam-se na poeira.
***
Admito
que exagerei na tinta que imprime a letra, não seriam necessárias tais
palavras, nada acrescenta ou lega-lhes um sentido profundo. Contudo, não houve
outras que melhor dissessem o que perpassa a alma, quando me estremeço inteiro,
fatigado de mim mesmo. Não houve outras.
***
Orgulha-me
confessar que, apesar de viver ser o in-verso de exprimir, pudera-me haver dito
algo que mereça a atenção de alguém, estas palavras são poucas para o mistério
anterior às horas outras, quem sabe no crepúsculo, aonde o vento emudece, até à
sombra divulgado de minhas modéstias. Há-de chegar o minuto de as transformar
em línguas ingênuas, voluptuosidades, despertando-me a gratidão do muito apreço
que nutro por elas, sempre zelosas do vento.
***
Falaria,
ao invés de todas as palavras, coisa alguma, ficaria em silêncio, olhando a luz
de por trás de mim que se reflete na tela co computador. Falaria de sabedoria
diurna, alegre e desperta que, se olvida o que perpassa a alma, o espírito,
desdenha de todos os orgulhos ingênuos que poeticamente deixa-me-ser à luz de
por trás.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 21 DE JUNHO DE 2020, 14:50 p.m.#
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