#DOS INSURRECTOS E PROSCRITOS O VENENO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***
Epígrafe:
#Confluente
a largueza do mar aberto
E aos
simples invejantes pescadores
A
sondarem distâncias em buscas do soldo de vários dias.#(FONTIS, Graça. In:
AZ-VIANDO CAMINHOS, RJ, 2020)
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Dôo-me às
quimeras gélidas! Entrego-me às frias ilusões!
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Serpentes
cujos venenos alucinam perdidos idílios... desejos são outros. Tempos dispersos
encontram-se, alinham-se no percurso das contingências. Pretéritos são
pretéritos, ensombrecem sítios e lugares onde se estabelecem, condenados à
inércia. Venenos cujos efeitos inestimáveis e irreversíveis correm nas veias,
sem destino, seria que se importassem? Não é dado sabê-lo. "I used to
could", só assim para expressar intuitiva e sensivelmente que costumava
acreditar pudesse.
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Sinto-me
em um oco imutável, sub-merso em um tanque gélido, in-subordinado de cerrações.
Amanhecera frio, cerração cobrindo a montanha, o bosque, ventando poucochito,
macambúzio eu, "Confluente a largueza do mar aberto/E aos simples
invejantes pescadores/A sondarem distâncias em buscas do soldo de vários
dias." Meu espírito sumido, sob a maciça série de in-diferença, que
resgata o tanque do bosque, faz-me apregoar a devoção da querença da bonita
sereia que um dia esse ânimo viveu, viveu-o solenemente deitada na doca, sob a
noctívaga claridade da lua e estrelas.
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Barcos de
pesca jazem na areia, próximo dos viscosos blocos de pedra arremessados
desordenadamente na base do molhe, para protegê-los das ondas, e que deixam
entre si barcos borbulhantes. Na entrada do anteporto, contra o céu
embranquecido pelo sol, recorta-se a sombra de uma draga.
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Parvo
crocitar tateia do mundo a realidade da língua. O som existe no coaxar
ab-surdo, no gralhar des-coordenado e in-forme, no cricrilar altissonante e
des-afinado. Toda a gralhada alheia passa por mim – a claridade turba-se, certa
im-potência atinge a pronúncia, labirinto de caminho im-previsível.
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Verbo-filosófico
- a selvagem sabedoria da perene angústia da verdade e hipocrisias, da solene
náusea das cretinices e nesciedades, fica prenhe em solitários cupins, em
ásperas pedras dá à luz o mais novo de seus rebentos, a leoa sapiência que ruge
com delicadeza e ternura, e não há ginete que não troteie à mercê da marcha
cadenciada das regências e concordâncias da perquirição e utopias do vazio som
de ideais singulares, perpétuos.
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Entra-me
uma revoada de memória na alma. A imagem vem postar-se ante mim, acompanhando-a
eu em todas as perspectivas, em todas as suas visões, em todos os seus ângulos,
sem perder o ar de riso sublime, sem perder a fisionomia de alegria solene, a
face resplandecente de revelações mágicas do absoluto. Às vezes, enquanto a
contemplo, vejo-a inclinar-se, revelando alguns sonhos que, porventura,
desejara realizar e me tornassem diferente de quem sou, diferença esta que, em
princípio, sugere a de sentir dimensões da alma e do espírito que alguns homens
sentiram presentes em suas vidas, registraram-lhes, mas, ao longo dos anos,
outros homens também sentiram, mas não registraram, e, de repente, surjo eu em
cena quem também as sente, revelo-as, mas sendo sincero com a diferença
existente entre mim e o verbo perfeccionante do tempo. As conjugações,
regências e concordâncias tornaram-se inoperáveis, era-me defectivo e não o
sabia. Sonhos, esperanças, ilusões tornaram-se apenas fugas, escapadelas de
existir ser uma paixão, a consciência traz-me o sentimento presente e forte do
efêmero, sabia-o.
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Entrego-me
às sorrelfas de res-soar tanto no presente quanto no passado o suspiro dos
in-surrectos, proscritos, hereges.
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Poesia da
filosofia - e a coruja canta no silêncio da noite a linguística das querenças
do belo sublime, da suave beleza da sabedoria que sacia a sede do pleno
plen-ificado de outros uni-versos do verbo que à lareira verseja as chamas dos
idílios do silvestre porvir da floresta de místicos mistérios do eterno.
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Filosofia
da poesia - no alvorecer, o canto dos pássaros saudando os raios numinosos do
sol, a natureza que diviniza o panorama de estesia simples e inocente, a
estética do sublime, que gerundia de éritos do tempo os abissais sonhos de
sabedoria e sapiência, a consciência-estética-ética, Ser e Verbos...
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Na
amplidão de longínquos "prêt-éritos", prêt-à-porter por pensamentos
hereges, presentes na memória, o prazer de re-versos desejos, o clímax de
in-versas vontades, a extasia de ad-versas visões-do-espírito, de re-vezes às
antemãos... sarcasmos, ironias, cinismos ornamentando a face de pilhérias,
expondo na pupila do olhar o brilho das rebeldias e insolências.
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Poesia-pensante
- a idiossincrasia do eterno esquecida no tempo, a flor de cactus presenciada
nos alvores de outro ser do verbo, que me alimente de outros sub-juntivos e
gerúndios do saber-verbo-uno, do verbo-uno-saber, uno-saber-verbo das buscas e
querências, a luz de minh´alma res-plende de nonadas aos brilhos das
travessias, assim vou per-filando ou per-formando as poeiras das estradas ao
lusco-fusco do picadeiro de gargalhadas, os pós que cobrem os móveis de casa
velha, do palco de desejâncias da leveza do ser, da choupana de dia-lécticas e
contra-dicções, precisamente na porta de trás, de onde se ad-mira a lua
enamorada das estrelas.
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Num compasso
de des-lumbramento, igualmente, ad-vogo a luminosidade argêntea re-flectindo
sobre as linfas! Como gratular à claridade que nos legam os coriscos para
alumiar o que se acha nas obscuridades ou na opacidade? Como ser fidedigno às
linfas que nos extinguem a sofreguidão, percebendo, desde entretantos e até
entre tantas comoções, sensibilidades, padecimentos e mágoas, exultações e
enaltecimentos?
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 14 DE JUNHO DE 2020, 11:03 A.M.#
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