**NO FRIOZINHO DA ANTÁRTIDA** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***
Con-vexos
idílios velados de tempos inestimáveis, remontando às zagaias do caos, tempos
de roncos do boi-tempo, vãos ideais da verdade, ocos pensamentos das
tonteirices que o vinho eiva nas bordas das quimeras e ilusões. Côn-cavas
fantasias escondidas atrás da superfície lisa do espelho, furtivas idéias da
plen-itude, quiçá explicite isto à mercê da língua que espreme a míngua da alma
inteira que rumina carências.
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Tergi-versados
enigmas trancafiados nos cofres da memória, fúteis utopias do perpétuo que re-colhe
e a-colhe as luzes do in-finito. Des-conexas fantasias enveladas de éritos das
volúpias e ex-tases, hilárias esperanças do ad-vir a-nunciado nas bordas do
uni-verso, e nos horizontes alhures a neblina sarapalha os ventos.
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Tempo e
vento. Tempo e ser. Ventos e tempos.
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Tem dias
que, se se sente como quem idealizou o nada, sonhou o vazio, teve fissuras
pelas nonadas, a vida sarapalha de leste a felicidade e amor plenos, resta
sentir o sabor do contrário que seduz a língua a criar eruditos vernáculos da
decepção para atiçar a alma a re-fletir as sinuosidades da vereda que levam ao
ser do efêmero, às energias da psiqué desvairada pelo flúmen do prazer.
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Frágil
sentir o friozinho dos ventos contraditórios, chamas da lareira acompanhadas de
vinho não aquecem, a alma se embrulha toda no sudário das nostalgias, edredom
das saudades místicas.
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Tem dias
que, se se sente à beira da eternidade, con-templando as cafuas e abismos, o
inaudito das belezas do in-finito, sonhando prazeres e volos do além, a alma
pres-ent-ifica as dialéticas da plen-itude e fugacidade dos desejos que
preenchem as forclusions do ser.
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Tem dias
que se se... Não havendo dias que se se..., olha-se as coisas e objetos com
indiferença, observa-se a vida com náuseas, o ser se esvaece nas "grutas
das maquinés desoladas", o tempo se esgarça nas cintilâncias lunares, o
nada se atira de cabeça no precipício, o cosmos e o caos mergulham no in-audito
do genesis... a vida nos auspícios da pureza.
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Mas tem
feito frio, hein! Mas, enquanto a esfera da pena desliza no branco da página,
mesmo que garatujando nonsenses, sarrabiscando tontices, a mão não precisa de
luva para lhe aquecer, a alma não se enchafurda no espírito subterrâneo,
desejando as caliências do além, flores de cactus preenchendo vazios,
arrematando enigmas e mistérios do inolvidável.
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Vou-me
embora para a Antártida, lá a esfera da pena dirá as in-verdades da verdade, o
frio intenso é fruto da imaginação fértil.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 17 DE JUNHO DE 2020, 11:32 a.m.#
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