ABREM-SE OS VÁCUOS ANTES DE SE ABRIREM OS OLHOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***
Permeio o
sentido obliterado e oblíquo da emoção com o significado e sentido do
sentimento.
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Na
passagem do homem pelo tempo, o abismo apreendido exige a sua postulação frente
ao real. Atribuo a felicidade ao "habitamento" das dimensões
sensíveis na alma. As imagens retornam a encenar frente aos meus olhos. Na
minha consciência, tudo está muito translúcido; já nada consigo sentir nela. A
melancolia escorre pelos lábios oculares, morrendo e renascendo na esteira do
mundo. Ser todo coerência comigo mesmo. Em derredor, o silêncio, sinto ainda a
palpitação do coração, que não pode adormecer, tremer de delíquio no horizonte.
O silêncio atento indica as ausências por demais. O caminho que segue ondula
através do campo. Penso como seria possível desvencilhar-me desta tenacidade,
de seu ardor. Contemplo um instante do alto do ser resplandecente. Submeto-me a
uma ordem óbvia, mas o significado é desordenado, invertido, despido de
caracterização. Com a paz, como que se aflorou de frente de meus sinceros
desejos um mundo de misteriosas delícias, um vasto caminho de ternuras e de
esperanças um dia novo e desconhecido para mim, que me deixa a alma em êxtase.
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Tenho um
rosto nítido e límpido. É que nas pequenas e ínfimas emoções abrem-se os vácuos
antes de se abrirem os olhos. Invadido pelo amor até às entranhas. Descanso um
pouco a vista no olhar sereno. Encho-me os sonhos de amorosos enleios
voluptuosos. A alma se me palpita de gozo e só o espírito se me aniquila. Os
próprios sentidos tomam parte na vergonhosa ingenuidade. O íntimo entreabre-se
um instante, compreendendo o alcance da felicidade e orgulha-se de ter
contribuído para com ele. A linha do eterno é o imortal acumulado no horizonte.
O sentimento de amor é um processo que sucede através do tempo e por meio do
qual a eternidade atinge a transcendência. Digo-me em voz baixa sedutoras
palavras de amor. A comoção enriquece-me o rosto com uma austera polidez,
retirada do profundo estudo da realidade humana. Não procuro enganar-me - bem
sei o que me espera!... Arrisco mesmo a súplica, cortando-me a palavra com um
olhar em que a tristeza lê a inutilidade na experiência dos fatos essenciais da
vida. Falta à presença a arte paciente, ou o querer decidido, para produzir a
forma que ela concebera em abstrato como a única digna, por raridades especiais
e exóticas, de encarnar as suas idéias. Caminhando em silêncio, revolvo um
sentimento que se me apresenta. Há sempre um quê de divino e sagrado. Uma
lágrima insiste em prolongar-se, nenhuma impaciência, desenhando-lhe o
acontecer pretensioso, ao pousar no infinito das emoções sentidas.
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Umedece
as esperanças de afetar grande tranqüilidade. A idéia de escrever esta memória
só hoje pela manhã é que veio a ocupar-me o espírito. Para manter no mesmo grau
de entusiasmo o enlevo de um amor complexo. Torno-me moralmente inseparável por
um tácito consórcio de absoluta confiança deste tempo a olhar no espírito.
Despejo-me até ao fundo em palavras de íntimos segredos. Chega a parecer-me
desonestidade. O coração se tem aberto por si mesmo. Tudo pode extinguir-se,
menos este sentimento, em toda a sua individualidade, que me acompanha como uma
qualidade inerente à vontade.
***
Nem pela
idéia, nem pela forma, a ausência poderia legar e doar às inteligências
persuasão ou maravilha..
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 14 DE JUNHO DE 2020, 02:30 a.m.#
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