Graça Fontis PINTORA ESCRITORA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA A PROSA SATÍRICA #SEM CONCEITO INTELIGÍVEL# ***
Ai ai...,
que texto maravilhoso, do princípio ao fim, é de tirar o fôlego do ledor atento
aos próprios erros linguísticos, e para esses, meu querido Escritor, você
fomentou uma bela reflexão ao abordar as diversas faces da linguagem, do
pensamento a escrita, tão pertinentes para a compreensão da semântica na
comunicação corriqueira nem sempre agradável aos ouvidos... só quem convive com
você pode avaliar sua tolerância a ditos e escritos sem conformidades ao
léxico, a tolerância é zero rsrs...., Parabéns por este belíssimo texto nos
dando sempre a oportunidade de maior conhecimento, grata, "Amor"!❤💯🥰👏👏👏👏👏👏......
Graça
Fontis
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RESPOSTA
AO COMENTÁRIO SUPRA
Efetivamente...
A minha tolerância com as gafes da Língua Portuguesa é zero ao quadrado, ao triplo,
até a quinta potência.
Como
dissera na prosa satírica: o meu ouvido é sensível, sensibilíssimo à Língua,
capta nonsenses à revelia, quem sabe não seja do meu parentesco com os cães,
ouvido canino. É desagradável. Então, quando se diz respeito à escorreição
gramatical na escrita, aí é mais difícil de suportar, a escrita exige correção,
e justificativas, explicações não cabem. Sou nojento com a Língua Portuguesa;
mesmo que não houvesse sido professor, inda sê-lo-ia. Preconceito,
discriminação, sei lá, fato é que no Centro-Norte de Minas a população de
caipira é imensa, sempre evitei conversar com eles. Mesmo que não os
corrigisse, sentiriam desconfortáveis, um fala certo, outro fala errado. A
minha mãe legítima evitava conversar comigo, devido ao fato de corrigi-la. Já
disse abertamente a professor de Português: "Você deveria fazer jus à sua
função de professor e falar certo, não só na sala de aula, mas no quotidiano da
vida.", só não apertou meu pescoço por diplomacia. Aquando orientei a primeira
monografia de Filosofia para aquisição do diploma do Curso Universitário, no
Seminário Sagrado Coração de Jesus, Diamantina, exigi tanto do meu discípulo
Renato Diniz Magalhães Filho que ele pensou em parar o nosso trabalho, não
estava aguentando tantas exigências. Mas chegamos ao final, ele tirou 10 na
mostragem de sua monografia para a Comissão Julgadora. Anos mais tarde,
dissera-me ele: "Você, Manoel, me ensinou a escrever."
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São
coisas que não adianta qualquer tentativa de interditar, evitar, é parte integrante
do ser, está no sangue. Podem chamar-me, considerar-me, reconhecer-me imbecil e
idiota em todos os níveis, mas na Língua Portuguesa não consinto e admito em
quaisquer circunstâncias. É a minha identidade. Ficar sabendo que alguém disse
a alguém: "Manoel é um eminente analfabeto da Língua Portuguesa, como o
homem fala errado, meu Deus!", isto para mim seria mui triste,
sentir-me-ia um verme.
Beijos no
coração, meu AMOR querido.
Manoel
Ferreira Neto
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SEM
CONCEITO INTELIGÍVEL
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
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Seria até
interessante se os indivíduos começassem a se expressar através de meias
palavras, ou seja, dizendo apenas parte delas. O problema seria se seriam
entendidas, compreendidas como acontece com a comunicação com as palavras
completas.
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Digo
isto, pensando em algo que sempre ouvira: "para o bom entendedor meia
palavra basta", adágio, inclusive. Se a pessoa é boa entendedora com meia
palavra, então, uma excelente entendedora com as palavras ditas completamente, com
a boa pronúncia. Em verdade este dito popular significa unicamente que as
intenções podem ser logo descobertas, não necessitando uma maior explicação.
Não haverá quem pense, imagine, elucubre, com o aval de todos os psicólogos,
testemunho das intenções das palavras, estar eu enviando alguma indireta,
recadinho? Nada disso.
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Por mim,
tenho dificuldades muito grandes em perceber as intenções das pessoas com a
linguagem usada por elas, e muitas vezes, para não passar como imbecil e
idiota, sou obrigado a supor o que estariam dizendo, a estabelecer um sentido a
respeito, apesar de algumas vezes estar com eminência equivocado, tendo de
perguntar o que mesmo querem dizer. Se usam uma linguagem mais apurada,
demonstrando algumas regras e normas da língua escrita, aí sou capaz de
entender e compreender, podendo então continuar o colóquio com desenvoltura e
liberdade.
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Sendo
assim, teria ainda maiores dificuldades de entendimento se as pessoas
começassem a se expressar através de meias palavras, não teria eu condições
alguma de saber o que estariam falando. Tomando-me desse exemplo: "ter e
com algum sa o que estari fal...", não tem qualquer sentido, nem mesmo na
linguagem poética, se não houver uma razão de ali figurarem, semântica,
linguística. Ademais, a questão mais contundente seria como eu me comunicaria,
pois não teria a destreza e perspicácia de dizer apenas uma parte das palavras
em todos os momentos, em todos os lugares, em quaisquer situações e
circunstâncias. Ter-me-ia de calar para sempre, fechar a boca vez por todas, e
apenas ouvir sem qualquer possibilidade de conhecer o que está sendo dito.
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Sentir-me-ia
um estranho no ninho. Teria de ajuntar as minhas tralhas, participando a minha
mudança para o mato, vivendo em contacto com os animais; acredito até que os
nossos colóquios através da sensibilidade seriam sim muitíssimo enriquecedores
e de fácil acesso de entendimento.
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Existem
coisas neste sentido realmente difíceis de compreensão nesta mesma linha de
pensamento, para o bom entendedor meia palavra basta. A questão do uso corrente
e vicioso da palavra “trem”. Este termo é usado para substituir qualquer outra
palavra. Em princípio, se a pessoa indica a coisa desejada, dizendo que
pretende adquirir aquele trem... – de um modo inteligível: alguém num bar
indica uma empadinha, tendo esquecido o nome do alimento, dizendo que deseja
comer aquele trem, é inteligível. Agora, se alguém pede alguém para ir à
mercearia comprar um trem para comer, aí nem os gênios conseguem saber o que a
pessoa está querendo dizer. De antemão às revezes, não se come trem, haja dente
para triturar o aço, estômago para digeri-lo, intestino para eliminá-lo. Houve
quem inclusive de modo cordial e gentil, indagara se sou do time do personagem
de Francisco Millani, minha tolerância é zero.
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Se é
comigo que isto acontece, de imediato, digo que somente na Estrada de Ferro
Central do Brasil ou na Estação da Luz é possível encontrar um trem.
"Poderia ir até lá e tentar comprar um, já que a vontade é tanta, mas como
fui operado duas vezes de hérnia não posso carregar peso, seria preciso
contratar um guindaste para levar o trem até à sua casa." Fora ipsis
litteris o que dissera a uma amiga com quem almoçava num restaurante carioca,
com certeza em Botafogo, quando ela dissera: "Tem hora que me dá vontade
de comer um trem!" Saíra ela da mesa, pisando duro, chamando-me cretino e
imbecil. Logo questiono o nome da coisa mesma que a pessoa está desejando, e
muitas vezes ela não sabe explicar. Ah, irrito-me bastante com esta palavra. Não
sei se é devido ao fato de eu sempre ter me preocupado em nomear as coisas,
definindo bem as minhas intenções e desejos de expressão, ou se é pelo fato de
ser eu um homem muitíssimo exigente com a expressão das coisas, sendo isto
quase o mesmo.
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Servindo-me
do verdadeiro sentido do dito popular de para o bom entendedor meia palavra
basta, as intenções podem ser logo descobertas, não necessitando maiores
explicações, como vou saber o que a pessoa quer, deseja, necessita, se ela só
sabe nomear as coisas através da palavra “trem”? Vou necessitar de maiores
explicações até que eu possa saber o que deseja, e neste ponto ela terá de
saber o nome específico das coisas, e muitas vezes não sabe. O "trem"
usado na linguagem mineira, nestas mesmas situações, é inteligível, habita-lhe
a cultura.
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Se fossem
apenas as dificuldades de entendimento com as meias palavras, com o termo
“trem” substituindo qualquer outra palavra, ainda poderia até tentar conviver
com isto de modo razoável, pois que de outro modo creio seria até impossível,
mas não é só isto. Se o uso indiscriminado, corrente do termo “trem” me irrita,
irrita-me ainda mais ouvir as pessoas falarem errado, não saio é soletrando
como se escreve a palavra pronunciada erroneamente, apenas a pronuncia, também
ministrando a santíssima Língua Portuguesa quando diz respeito aos disparates
da Gramática, gafes absurdas, não terem a menor preocupação com o que dizem,
como dizem. Se se trata de uma pessoa que se observa de antemão não ter tido
condições de estudar, o que estudou serviu apenas para assinar o seu nome,
compreendo, embora o ouvido se sinta muito ferido. Agora, se se trata de
personalidades, acadêmicos, irrita-me de um modo que o desejo é pedir licença,
dizendo que numa outra oportunidade, aquando aprender a conversar direito,
terei imenso prazer em ouvi-la, mas nas suas condições o melhor mesmo é ir
embora. Como se pode ensinarem a Língua e dizerem "A maioria dos alunos
não ligam para isto de falarem corretamente", aqui nesta frase, o verbo
fica no singular.
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Estou
ultimamente sendo muito condescendente, compreensivo com todas as pessoas de
nível, ouvindo a sua linguagem ridícula, mas noutros tempos simplesmente
interrompia o colóquio, corrigindo a pessoa, gostasse ela ou não. Algumas
tiveram a ousadia de me perguntar se estava querendo corrigi-las. O erro é o
mais certo neste mundo - dissera outra, deixando um convite - "pense bem
nisto!" Respondi que não, quem era eu para praticar um ato deste,
corrigi-las, estava apenas a lembrá-las da forma correta de dizer, os
eufemismos ajudam bastante em certos instantes, alfim podia ter deixado a
escola, formou-se e de imediato foi lutar pelo seu pão de cada dia. Não sendo
"eufemismo", obviamente, mas o ouvido é mui sensível em relação à
fala, não intenciono nenhum juízo, e se me perquirissem a razão da fala correta
ser do modo como estou dizendo, não saberia explicar a verborréia gramatical, a
queda no ridículo seria inestimável. Qualquer explicação não convenceria o
interlocutor, persuadir-lhe-ia de ser o que canta a gramática, estava
enrolando, tentando enganar. Teria de dizer a verdade: "Não sei explicar a
razão de o verbo ficar no singular com a expressão "a maioria..." E a
resposta sendo: "Concorda com maioria e não com alunos." Quê
vergonha!... Corrigir e não saber explicar o certo. Não me utilizaria do
eufemismo para me explicar, para suavizar ou minimizar o peso conotador de
minha atitude de homem indelicado, sem educação, vive de corrigir as pessoas.
Não mesmo. Simples assim: os ouvidos são de mais sensível à fala.
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Outras
vezes, num colóquio, dizendo que os meus tímpanos acusam de imediato quando
ouço alguém falando errado, talvez tivesse audição canina da Língua, disse-o em
tom jocoso, algumas pessoas disseram que teria de partir deste mundo para um outro,
porque aqui as pessoas não sabem a língua. Respondi-lhes que não, havia uns
poucos que sabiam e eu convivia no meio deles. Sem conceito inteligível uma
fala neste nível, há quem até seja especialista, doutor, mestre da digníssima
senhora Língua Portuguesa, outros não, referia-me à questão do ouvido, alguém
mencionou que o namorado havia presenteado a amada no Dia dos Namorados com um
aparelho de ouvido, nada mencionava sobre a Língua específica. Estava no hall
do teatro, conversava com algumas pessoas, nem poderiam imaginar a tolerância
minha com a fala.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 09 DE JUNHO DE 2020, 08:57 a.m.#
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