#DE TABANA-GIRA E ALIÁS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***
Epígrafe:
"Dentro
do jogo impuro das difusas causalidades
Lúdicos
no reverso das vontades.
Digo não
ao prisioneiro de mim
Às
insuficiências, à fragilidade limitadora
E aos
múltiplos perfis exteriores
Circulantes
ilimitados da desfaçatez nebulosa
Então...
sobejante e empoderado sou nadante
Do mar e
sol que cada manhã tudo restitui
Sou
"Rio", sou-risos!" (FONTIS, Graça - In: "AZ-VIANDO
CAMINHOS", RJ, 2020)
***
Até
louco, quem sabe?!... Não seria necessário tanto para mostrar que este início é
uma continuação do título, se melhor ficar registrado, memorizado, diria com as
letras de tabana-gira e aliás. Refiro-me ao ponto de interrogação, exclamação,
reticências, chamando a atenção para “de tabana-gira e aliás até louco, quem
sabe”.
***
Não me
seria dado pensar ou sentir que estou louco e, por isso, busco modos e estilos
de mostrar que não, aliás, as minhas condições da faculdade mental andam às mil
maravilhas, um esplendor, inclusive sendo capaz de criações e recriações as
mais engenhosas possíveis, às vezes nada dizendo, sendo apenas uma demonstração
de flexibilidade com as palavras, encontrando-as no momento certo,
“grudunhando-as”, numa linguagem chula, se assim posso dizer, se depor contra a
minha imagem, desejando alcançar um nível um pouco mais alto, não me importando
fosse do tamanho de um degrau de escadaria normal.
***
Às vezes,
ponho-me a lembrar do início desta longa jornada letras adentro, quando
desejava com os sorrisos nos lábios e um aperto enorme no coração, quem sabe a
dizer-me os méritos seriam muito poucos as criações sem limites e fronteiras,
muitas alegrias e prazeres, muitas lutas e sofrimentos, aliás, significando
isto a condição humana. Tinha de escrever a respeito deste tema, enfatizando
esta ou aquela idéia, mergulhando o mais possível na sensibilidade, desejando o
verbo amar. Tinha de fazê-lo a todo custo.
***
Não sei
se escrevesse sob medida, isto não posso fazê-lo, mas que me impunha as idéias,
questionamentos, sonhos, querendo realizar algo de que não me dis-punha a
pensar não ser este o caminho. Alguém íntimo dissera: “Se deixar disso, irá
produzir muito e de boa qualidade”, embora não me lembre das palavras mesmas,
ipsis litteris o que dissera não me lembra de modo algum.
***
Tantos
caminhos...
***
Se me
importasse em primeira instância com o título, criar algo que se gerasse à luz
de um tema e temática espiritual e contingente, demonstrando, ou desejando, em
verdade, o que é isto o clima estar frio, chovera ontem e um pouco durante o
dia, a noite está começando, a luz está acesa, encontrando-me aqui, solitário,
ah, como amo esta solidão, a garatujar palavras no computador, sem qualquer
intenção de idéias, pensamentos, sentimentos e emoções, embrulho tudo e lanço a
todos os ventos, rindo até de algo que me disseram a respeito da chuva.
Perguntaria: “Por que não se deve fiar em Deus em tempo de chuva”.
***
Se
estivesse entendendo a sua indagação estava a se referir ao verbo confiar,
dizendo o por quê de não se dever confiar em Deus em tempo de chuva. Pode-se
usar “fiar” e “confiar” na acepção de dar crédito a. Não saberia dizer o por
quê. Imaginei que a resposta fosse uma galhofa das mais interessantes e
esplendorosas possíveis. Respondera: “Você não sabe quando Ele a vai mandar”.
***
Houvera
dito que hoje não sei mais o que escrevo, as idéias, pensamentos, intuições,
inspirações, tudo me vem embrulhado em papel de seda, e só me empenho em
desembrulhar e conhecer o que vem dentro, e para isto a jornada não deve ter um
fim... As letras amam de paixão deixar-me de calça curta, modo delas de me
desafiarem a realizar algo. Jamais posso decepcioná-las. Enfio as mãos na
cumbuca e vou digitando no computar sob o fluxo das idéias.
***
Imagino a
primeira vez em que tomei da pena para escrever algo que passava por minha
cabeça, dificuldades imensas. As dificuldades hoje não deixaram de existir,
creio até que aumentaram e muito, tornaram-se mais complexas e herméticas,
sendo necessário esforço e compreensão das limitações da idade e experiência.
Imagino o que por último escrever, as últimas letras de minha vida. Se alguém
decidir conhecer o que produzira, as trilhas seriam imensas, sem fim, quem sabe
até havendo a dúvida se houvera um início, apenas o desenvolvimento, a busca de
perfeição e eternidade, coisas que, de viés e antemãos, sei bem que são
passíveis de muitíssimas discussões de alto nível, e não sou quem está
credenciado a realizar a tarefa de as afirmar com categoria e dis-posição.
***
Penso em
retornar ao início, apanhando a idéia, mas isto seria uma atitude bastante
indecorosa, pois dissera antes que nada mais me importa, importa-me saber que
estou registrando palavras, dando-lhes vida, busca, encontro, imperfeições...
Dando-lhes sentido. Ademais, não faz muito tive alguns sentimentos muito
estranhos, deixaram-me bem esquisito por alguns dias. Nada mais era que deixar
as palavras dizerem, ser eu encarregado de as imprimir, registrar, digitar,
isto dependendo das circunstâncias e situações.
***
Não o
faço. Continuo. Não leio uma linha sequer. Disse a mim próprio que deixaria o
espírito e alma livres. Só alguns dias depois é que leria e teria um
julgamento, ou nem isso pudesse ter. Não o sei.
***
Se não se
aprende a conviver com as limitações, isto não significando que tudo esteja
consumado, não se é possível conviver com as situações e circunstâncias a todo
instante se apresentam vivas, exigindo uma posição, um ponto de vista. Assim,
quem não aprende, pode ter em mente que as chaves da casa verde estão abertas
de cabo a rabo, de fio a pavio, para enfatizar de uma só vez.
***
Limites
residem na existência. Se não existissem, como seria possível o homem superar a
si mesmo, os limites são o impulso, o incentivo. Há um limite jamais o confidenciei
a ninguém, a mim apenas dissera, pedindo-me sigilo radical. Por que escrevo?
Poderia responder de maneira o mais simples possível: por que almejo ser lido
por leitores, por eles ser reconhecido. Não é verdade, é apenas um desculpa.
Escrevo porque não sei conversar, entabular assunto com as pessoas, discutir
idéias. Só com uma pessoa, valha-me Deus ser espontâneo, as dificuldades são
inestimáveis. Se muitas pessoas, num almoço com amigos, num botequim, não sei
jogar conversa fora. Então, escrevo porque é o modo que tenho de conversar,
converso comigo próprio. Esta é a verdade porque escrevo. Se me lerem, se me
reconhecerem, se me atribuírem méritos, agradeço sensivelmente, mas o mais
importante para mim é ter a mim para conversar, trocar idéias.
***
Se esta
espontaneidade que fora adquirindo ao longo da convivência com as letras,
dizendo desde já que não as conheço, sou delas enamorado, só reconhecendo o que
cá está, embora o desejo de atingir o que lá está, e olhando para trás possa
dizer-me com todas as letras que valeu a pena viver, isto valeu.
Em
verdade, não sinto que seja necessário esperar ainda longos anos para dizer que
a vida vale a pena com as letras. Digo-o desde toda a caminhada, desde as
trilhas seguidas e os outros caminhos que eram necessários se anunciarem e
representarem as experiências e vivências.
***
Creio
haver chegado o instante de retomar desde o início, ler, pensar um pouco o que
desejei a todo custo dizer, o que não dissera, aliás, de extrema necessidade,
mas prefiro não o fazer agora. Quem sabe num futuro próximo?... Sinto
necessitar de algumas experiências e vivências para conseguir atingir o nível
que as palavras exigem para a compreensão do que significa isto a noite haver
chegado, a luz está acesa, encontro-me sozinho, ai que delícia de solidão,
registrando algumas palavras, servindo apenas de algumas agilidades que adquiri
ao longo de tantos anos.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 11 DE JUNHO DE 2020, 12:27 P.M.#
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