LADEIRA DO VENTO E DO SILÊNCIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
E
agora, José, que as minhas perguntas a você são diferentes das que Carlos
Drummond de Andrade lhe fizera, você acha que vão me crucificar?
E
agora, José, que o uni-verso come com linces do olhar os in-fin-itivos de
confis e alhures?
E
agora, José, que o instante-limite do nada é o absurdo das facticidades?
E
agora, José, que as páginas em branco dos ideais do belo permanecerão vazias de
letras?
E
agora, José, que a vida é somente a última esperança da eternidade?
E
agora, José, que o tempo silenciou os sibilos do vento?
E
agora, José, que o vento espalhou as folhas secas ao longo da colina?
E
agora, José, que os janeiros do rio passam de por baixo das pontes?
Trevas.
Sombras. Vazios. Nonadas.
Silêncio.
Vento. Solidão. Nada.
Tempo.
Silêncio. Náusea. Verbos.
E
agora, José, as esperanças iluminam o ad-vir.
E
agora, José, os sonhos a-lumbram perspectivas do In-finito.
E
agora, José, as utopias verbalizam as con-tingências dos ideais e volos do
póstumo.
E
agora, José, as estrelas velam o ossuário da terra.
E
agora, José, a lua brilha no horizonte inspirando o in-trans-itivo verbo de
amar.
E
agora, José, as ausências do ser re-fletem nos terrenos baldios da alma.
E
agora, José, a sede de conhecimento aquece as vontades de con-templar as
dialéticas do efêmero e o eterno.
E
agora, José, as dialéticas da iluminação crepitam na lareira do vento e do
silêncio.
E
agora, José, as luzes da ribalta cintilam raios de cores na moldura do mundo
suspensa no cabide do absoluto.
E
agora, José, as sendas silvestres são trilhas para as perpétuas buscas do Ser.
E
agora, José, as mauvaises-foi são anestésicos para as impotências da
sensibilidade e inteligência.
E
agora, José, os manques-d`être são os prazeres e êxtases da libertinagem
conciliada às heresias à luz da morte.
E
agora, José, o pórtico partido para o impossível reverencia as imperfeições do
pretérito, aplaude com veemência os efêmeros silêncios do nada.
E
agora, José, a poética do espaço espiritualiza os re-versos e in-versos da
razão.
E
agora, José, as in-verdades da morte e seus delírios do eterno projetam as
sorrelfas compactas ao auspício da colina dos insurrectos.
José,
foi-se o tempo daquelas perguntas de Drummond, embora continuem sem respostas
plausíveis, só elucubrações vazias. Se inda não respondeu as daquele tempo,
responderá as que lhe faço hoje? Sugiro-lhe que curta uma noite de inverno no
limiar da lareira do vento e do silêncio, contemplando as achas a crepitarem, e
reflita, medite.
#riodejaneiro#,
29 de junho de 2019#
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