DE TABANA-GIRA E ALIÁS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Até louco,
quem sabe?!... Não seria necessário tanto para mostrar que este início é uma
continuação do título, se melhor ficar registrado, memorizado, diria com as
letras de tabana-gira e aliás. Refiro-me ao ponto de interrogação, exclamação,
reticências, chamando a atenção para “de tabana-gira e aliás até louco, quem
sabe”.
Não me seria
dado pensar ou sentir que estou louco e, por isso, busco modos e estilos de
mostrar que não, aliás, as minhas condições da faculdade mental andam às mil
maravilhas, um esplendor, inclusive sendo capaz de criações e recriações as
mais engenhosas possíveis, às vezes nada dizendo, sendo apenas uma demonstração
de flexibilidade com as palavras, encontrando-as no momento certo,
“grudunhando-as”, numa linguagem chula, se assim posso dizer, se depor contra a
minha imagem, desejando alcançar um nível um pouco mais alto, não me importando
fosse do tamanho de um degrau de escadaria normal.
Às vezes,
ponho-me a lembrar do início desta longa jornada letras adentro, quando
desejava com os sorrisos nos lábios e um aperto enorme no coração, quem sabe a
dizer-me os méritos seriam muito poucos as criações sem limites e fronteiras,
muitas alegrias e prazeres, muitas lutas e sofrimentos, aliás, significando
isto a condição humana. Tinha de escrever a respeito deste tema, enfatizando
esta ou aquela idéia, mergulhando o mais possível na sensibilidade, desejando o
verbo amar. Tinha de fazê-lo a todo custo.
Não sei se
escrevesse sob medida, isto não posso faze-lo, mas que me impunha as idéias,
questionamentos, sonhos, querendo realizar algo que não me dis-punha a pensar
não ser este o caminho. Alguém íntimo dissera: “Se deixar disso, irá produzir
muito e de boa qualidade”, embora não me lembre das palavras mesmas, ipsis
litteris o que dissera não me lembra de modo algum.
Tantos
caminhos...
Se me
importasse em primeira instância com o título, criar algo que se gerasse à luz
de um tema e temática espiritual e contingente, demonstrando, ou desejando, em
verdade, o que é isto o clima estar frio, chovera ontem e um pouco durante o
dia, a noite está começando, a luz está acesa, encontrando-me aqui, solitário,
ah, como amo esta solidão, a garatujar palavras no computador, sem qualquer
intenção de idéias, pensamentos, sentimentos e emoções, embrulho tudo e lanço a
todos os ventos, rindo até de algo que me disseram a respeito da chuva.
Perguntaria: “Por que não se deve fiar em Deus em tempo de chuva”.
Se estivesse
entendendo a sua indagação estava a se referir ao verbo confiar, dizendo o por
quê de não se dever confiar em Deus em tempo de chuva. Pode-se usar “fiar” e
“confiar” na acepção de dar crédito a. Não saberia dizer o por quê. Imaginei
que a resposta fosse uma galhofa das mais interessantes e esplendorosas
possíveis. Respondera: “Você não sabe quando Ele a vai mandar”.
Houvera dito
que hoje não sei mais o que escrevo, as idéias, pensamentos, intuições,
inspirações, tudo me vem embrulhado em papel de seda, e só me empenho em
desembrulhar e conhecer o que vem dentro, e para isto a jornada não deve ter um
fim...
Imagino a
primeira vez em que tomei da pena para escrever algo que passava por minha
cabeça, dificuldades imensas. As dificuldades hoje não deixaram de existir,
creio até que aumentaram e muito, tornaram-se mais complexas e herméticas, sendo
necessário esforço e compreensão das limitações da idade e experiência. Imagino
o que por último escrever, as últimas letras de minha vida. Se alguém decidir
conhecer o que produzira as trilhas seriam imensas, sem fim, quem sabe até
havendo a dúvida se houvera um início, apenas o desenvolvimento, a busca de
perfeição e eternidade, coisas que, de viés e antemãos, sei bem que são
passíveis de muitíssimas discussões de alto nível, e não sou quem está
credenciado a realizar a tarefa de as afirmar com categoria e dis-posição.
Penso em
retornar ao início, apanhando a idéia, mas isto seria uma atitude bastante
indecorosa, pois dissera antes que nada mais me importa, importa-me saber que
estou registrando palavras, dando-lhes vida, busca, encontro, imperfeições...
Dando-lhes sentido. Ademais, não faz muito tive alguns sentimentos muito
estranhos, deixaram-me bem esquisito por alguns dias. Nada mais era que deixar
as palavras dizerem, ser eu encarregado de as imprimir, registrar, digitar,
isto dependendo das circunstâncias e situações.
Não o faço.
Continuo. Não leio uma linha sequer. Disse a mim próprio que deixaria o
espírito e alma livres. Só alguns dias depois é que leria e teria um
julgamento, ou nem isso pudesse ter. Não o sei.
Se não se
aprende a conviver com as limitações, isto não significando que tudo esteja
consumado, não se é possível conviver com as situações e circunstâncias a todo
instante se apresentam vivas, exigindo uma posição, um ponto de vista. Assim,
quem não aprende, pode ter em mente que as chaves da casa verde estão abertas
de cabo a rabo, de fio a pavio, para enfatizar de uma só vez.
Limites
residem na existência. Se não existissem, como seria possível o homem superar a
si mesmo, os limites são o impulso, o incentivo. Há um limite jamais o
confidenciei a ninguém, a mim apenas dissera, pedindo-me sigilo radical. Por
que escrevo? Poderia responder de maneira o mais simples possível: por que
almejo ser lido por leitores, por eles ser reconhecido. Não é verdade, é apenas
um desculpa. Escrevo porque não sei conversar, entabular assunto com as
pessoas, discutir idéias. Só com uma pessoa, valha-me Deus ser espontâneo, as
dificuldades são inestimáveis. Se muitas pessoas, num almoço com amigos, num
botequim, não sei jogar conversa fora. Então, escrevo porque é o modo que tenho
de conversar, converso comigo próprio. Esta é a verdade porque escrevo. Se me
lerem, se me reconhecerem, se me atribuírem méritos, agradeço sensivelmente,
mas o mais importante para mim é ter a mim para conversar, trocar idéias.
Se esta
espontaneidade que fora adquirindo ao longo da convivência com as letras,
dizendo desde já que não as conheço, sou delas enamorado, só reconhecendo o que
cá está, embora o desejo de atingir o que lá está, e olhando para trás possa
dizer-me com todas as letras que valeu a pena viver, isto valeu.
Em verdade,
não sinto que seja necessário esperar ainda longos anos para dizer que a vida
vale a pena com as letras. Digo-o desde toda a caminhada, desde as trilhas
seguidas e os outros caminhos que eram necessários se anunciarem e
representarem as experiências e vivências.
Creio haver
chegado o instante de retomar desde o início, ler, pensar um pouco o que
desejei a todo custo dizer, o que não dissera, aliás, de extrema necessidade,
mas prefiro não o fazer agora. Quem sabe num futuro próximo?... Sinto necessitar
de algumas experiências e vivências para conseguir atingir o nível que as
palavras exigem para a compreensão do que significa isto a noite haver chegado,
a luz está acesa, encontro-me sozinho, ai que delícia de solidão, registrando
algumas palavras, servindo apenas de algumas agilidades que adquiri ao longo de
tantos anos.
#riodejaneiro#,
11 de junho de 2019#
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