CAMPO DE GERÂNIOS LÍVIDOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Degraus do
infinito.
O desejar
liberta: esta a verdadeira doutrina com que me id-ent-ifico. Assim deseja a
minha vontade criadora, o meu destino. No meu conhecimento, sinto apenas o
prazer da minha vontade de procriar e evolver; e, se há ingenuidade no meu
conhecimento, é devido haver nele vontade de procriação. Que haveria para criar
- se houvesse deuses. Más e anti-humanas chamo as doutrinas do uno e perfeito e
imóvel e sácio e imperecível. É apenas uma imagem poética. Os poetas falseiam,
mentem a si mesmos: são uns imbecilóides! O homem nobre impõe a si próprio o
dever de não envergonhar os outros com os seus versos mesquinhos. Os meus
pretéritos romperam seus túmulos, alguma dor sepultada viva acordou: tinha
apenas dormido, oculta em funérea mortalha. É chegado o tempo! O meu abismo
move-se e o meu pensamento me morde, comem-me as idéias.
O tempo que
desejo são ramos e folhas verdes, viçosos, sem distância, sem long-itude numa
estrada cristalina, numa trilha de solo íngreme, rachado pelos raios de sol,
senão quando é mister atravessar os campos.
Liberdade é
uma esperança traçada no peito de uma coruja e seu eterno canto na madrugada à
luz da eternidade projetada de imagens límpidas de perspectivas. E fazê-la
cantar é recriar silêncios e outros silêncios conceber, gerar, dar a luz a
in-audictos, inter-dictos. A liberdade chega-me tão dentro de minh´alma que as
palavras a dizê-la sabem ser ilusão medíocre aproximar-se dela, estarem perto
dela.
Águas
límpidas na íris - minha prosa é a alma ardendo nas chamas do desejo da
verdade, entrelaçado à face oculta da palavra sendo universo de cores,
tonalidades, formas colossais, na face oculta dos símbolos e signos a luz da
liberdade habita silêncios e cumplicidades, solidão e correspondências.
Sorrio à
esguelha, mergulho profundo nos recônditos do além, rasgo solene as páginas
pretéritas das ilusões, fantasias, peregrino no campo de gerânios lívidos,
acompanhado das cintilâncias do perpétuo, a leste de minha visão a caliência da
liberdade que me perpassa a sensibilidade da vida, o sensível transcendente do
espírito, o cognoscível contingente da alma...
Por que não
me sentir sozinho nesta jornada, se o eu de mim recria as sorrelfas do pleno,
se o mim do sou poetiza a prosa da contingência nos passos, passos a passos,
vazios de alamedas que perscrutam o pretérito presente do infinitivo, degraus
do verbo auspiciando a esperança-vazio da sublim-itude metafísica do tempo que
entre-laça almas gêmeas, que as inscreve nas pontas das estrelas, e o
ponto-instante revelando os cinco taos do sou-ser de meus sertões de veredas e
sonhos, vida seca no útero do ad-vir, porvir, vir-a-ser da magia?
Amanhã serei
quem sou, a vida que as letras me reservaram, a liberdade que o tempo consumou
na minha alma.
#riodejaneiro#,
14 de junho de 2019#
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