IDÉIA EXPRESSA NOS VERBOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Era um
espaço sem limite, sem contorno, sem cor.
Por cima
iniciava-se uma claridade, subindo espalhada ao estilo de uma aurora, diria a
polar, acaso pensara na estrela, o que auxiliou sobremodo por me indicar bem o
que perpassa a alma, uma luz difusa, constituída de faixas e arcos brilhantes e
colorida, que se observa quase exclusivamente em altas latitudes geográficas, e
é produzida por corpúsculos emitidos pelo Sol.
A claridade,
subindo espalhada ao estilo de uma aurora – enfatizo isto, logo de início, e se
me questionar o porquê de faze-lo, a resposta bem simples é, outra não sendo
senão que não sei; talvez por me haver preocupado com o que antes houvera
imaginado, ou intuído deveria dizer, sendo necessário descrever em poucas
palavras o que perpassa a alma, - cada vez mais branca, mais luzente, e mais
radiante, até que resplandece um fulgor tão sublime na luz um sol cintilante
seria...
Pergunto-me
assim angustiado, deprimido, melancólico, nostálgico, triste, quem sabe todos
estes estados de alma reunidos, nem a olho de lince possível de distinção, definição,
o por quê só nas palavras pudesse reconhecer a mim, sentir no peito amor por
não sei o que mais senão pelos homens, pela humanidade... Por que só através
das palavras iria reconhecer o para quê venho existir neste mundo, longe disto
o para quê venho, apenas, solitário, exilado, um nômade?
Ah, iria já
soltar uma comparação das mais chinfrins só para não pensar, imaginar, espremer
os miolos na tentativa de compreender e entender estes minutos longos que não
passam de modo algum, numa tarde de domingo, a luz acesa nas minhas costas, a
sombra do rosto refletida na parede debaixo da mesa, cada vez mais baça, mais
fusca, mais cinzenta.
Além, a
neblina coroa uma serra com um radiante nimbo de santidade. Até dizem que se
seguir a neblina, vista do lado de cá das serras, irá encontrar o rio que leva
as águas. No percurso da neblina, o rio segue sem margem, sem pressa. E é essa
a imagem que aprendi, não sem esforços, lutas, sofrimentos, com muito deles, a
contemplar, a imagem que de algum modo diz algo de mim, do que sou, de que
represento neste mundo em que vim habitar, vim buscar o Ser que se faz
continuamente, e a continuidade é também o Ser.
E o mar, nos
confins do mundo? O que dizer neste instante em que intuo a ideia expressa nos
verbos? O mar, nos confins do mundo, faiscando, tudo encerra como um aro de
ouro.
Neste espaço
fecundo toda a Criação se espana, com a força, graça, rebeldia viva de uma
mocidade de alguns dias, diria apenas cinco – não sei porque seria apenas
cinco, porque escolhi este número, podendo acrescentar dois a mais, sendo sete,
e este número se contemplado na dimensão da espiritualidade milenar e secular
muito tem a dizer e a revelar, até que... ninguém nunca completou as
reticências, não sou quem iria fazê-lo com categoria, a muito custo e esforço
em nível vulgar e chinfrim, deixo nas entrelinhas, quem sabe além delas, nas
linhas – ainda quente das mãos de seu Criador.
Para além,
sem limite, sem contorno, fundidas nas neblinas, fogem descampadas solidões, de
onde rola um vento lento e úmido. Chovera não faz muito, começara pelo fim da
tarde, terminando pela madrugada – lembra-me quando cessara, as quatro e vinte
e cinco da manhã, estando eu sentado, aquele freqüentemente sentado à cadeira
de balanço, fumando um cigarro, olhando a tela do computador, desejando uma
idéia e uma intuição que me fizessem sentir os ares além destes que respiro a
todo instante...
A aurora
desponta, com ardente pompa, comunicando à terra alegre, à terra corajosamente
em paz, à terra sem andrajos, à terra sem sepulturas, uma felicidade superior
acompanhada de uma alegria ainda mais divina, mais grave, religiosa e nupcial.
Creio que em
primeva instância esteja eu percebendo o universo, intuindo a existência de um
mistério que não se entrega, ao contrário, pede a entrega, a contemplação. O
mistério insinua-se, convoca. É e está. A música que ouço também pede a
entrega, a contemplação. Sinto-me pequeno, muito pequeno, muito mais do que
ousei imaginar.
Acaso
poderia dizer com categoria, arte e engenhosidade o que ousei imaginar, isto
pensando que fora pequeno, muito pequeno, sentia-me pequeno, muito pequeno,
poderia, ao menos, traçar uma imagem difusa, perdida em alguma aurora polar, e
a estrela de mesmo nome seguindo-a viva, forte...
Não o sei.
Aliás, se me pus a explicar neste estilo e linguagem é que de modo algum
poderia responder, por isso busco a palavra certa, aquela que não resta a
ninguém qualquer dúvida de que fora colocada no seu lugar, expressou o que o
espírito ainda só intuía em sua dimensão ainda mais transcendente...
Ah, este
sentimento forte!... Quanta vez o desejei assim, vivo, forte, e jamais o
alcançara, e nos olhos o brilho da tristeza e da ausência de felicidade! Será
poesia pura? Será prosa identificando os elementos da poesia, o que me vai
dentro que transformo, modelo? De que preciso? Tema? Rima? Métrica? Ritmo?
Figuras? Imagens? Verbos? Luzes?
Silêncios?
Onde está a palavra que necessito usar, registrar neste momento para que seja a
poesia pura que tanto anseio por registrar e que me modifique, vire-me pelo
avesso?
Toda a luz e
toda a sombra, desde o Paraíso fulgente ao Purgatório crepuscular, se contraem
num recolhimento de inexprimível amor e terror. Aqui e além, muito solitário,
muito silencioso, com uma vida toda por se anunciar, apenas surdamente revelada
por verbos e luzes que se revelam aos olhos que buscam incansavelmente os mares
resplandecentes, todas as aves voando pelos ares aclarados, todos os animais
pastando sobre as colinas viçosas, e os regatos regando, e o fogo armazenado no
seio da pedra, e o cristal, e o ônix, e o diamante muito esplendoroso das
terras refletindo nas calçadas, paredes das casas importantes e esquecidas no
tempo, daqui a algum tempo nada mais sobrará delas, senão o espaço vazio, quem
sabe completando o cenário de algo esplendoroso que fora esquecido nas curvas
de interesses e vontades particulares, tornando-se ainda mais belo e
resplandecente.
#riodejaneiro#,
13 de junho de 2019#
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