#FARDO RUMINANDO CORRENTEZA DE VOZES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Calo-me. Silencio-me. Emudeço-me. No emudecer do
silêncio, calo-me. No calar do emudecer, silencio-me. No silêncio do calar-me,
emudeço-me.
Levo um grito sufocado encravado num sentir
emudecido. Impossível “re”-tê-lo, “re”-presá-lo por mais tempo: domá-lo.
Estilhaço-me. A palavra, se em represa, é um murmúrio de arribas, sussurro de
confins, cochicho de alhures e algures; se correnteza, brado, estampido.
Ando para a luz levando o fardo de desejos,
esperanças de ver-me “ser” nas linhas do espírito e eterno, esforço-me para não
ruir, seco e falido. Se o passado me dói no corpo e na alma, é só quando me
aproximo dele com a alma de presente, este é o sentimento latente. Fracas
possibilidades de letras reais nos sentimentos verdadeiros, de vozes
imaginárias nas emoções re-criadas, in-ventadas, esboçam-se e des-aparecem –
quase verto lágrimas pujantes! -, roendo entranhas, re-vezando mordaça, ruminando
aparências, e a escuridão em que tateio o trajeto arrasta correntes, mas sigo
na busca des-esperada de me ver sendo. Cada dia debulho uma letra de minha
fala, perco-a nos sonhos, e dou um passo para a distância. Breve me perderei no
horizonte.
Sonhos da vida, degraus do infinito.
#riodejaneiro#, 14 de junho de 2019#
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