#SER O SILÊNCIO NO SILÊNCIO DO SER# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
Epígrafe:
#Omnis stultitia laborat fastidio sui {toda
estultice sofre o fastio de si mesma}# (SÊNECA)
À AMADA ESPOSA E COMPANHEIRA DAS ARTES, Graça
Fontis, com muito amor, carinho, ternura... ANIVERSÁRIO DE TRÊS ANOS DE VIDA
CONJUGAL E ARTÍSTICA...
É o silêncio na alma. É viver com o silêncio na
alma. É simplesmente deixar que este silêncio se revele, se manifeste livre,
espontâneo, sem qualquer muleta da razão, sem qualquer bengala da
intelectualidade, sem quaisquer esperanças de sua revelação, a-nunciação...
Assumi-lo plenamente. Vivê-lo. Quem o deixa perpassar todas as dimensões do
ser, do espírito e da alma, com certeza, sente o além, sem a presença da
imortalidade, da eternidade. Nem poetas ou escritores são capazes de vivê-lo na
sua essência, pois que sempre têm os utensílios da pureza da inspiração.
Silêncio é silêncio no silêncio. No silêncio do
silêncio, o silêncio é a voz suprema do saber a vida na roda-viva das
dialéticas do ser e não-ser, no catavento das contradições do efêmero e eterno,
no redemoinho das ambiguidades da morte e dubiedade do nada. Nos re-cônditos do
silêncio, o silêncio é o vernáculo do espírito sem a metáfora do sublime, sem a
sin-estesia da leveza, sem a poiética da pureza. Nos interstícios do silêncio,
o silêncio é a erudição da alma torta que perscruta a semântica linguística da
solidão do ser, a linguística semântica das melancolias e nostalgias pretéritas
das angústias e tristezas, à busca do solstício do alvorecer para lhe guiar,
orientar no ser-para a consumação da verdade.
Silêncio não se verseja de versos e estrofes,
trovas, sonetos, poemas livres. Habita-lhe na poética do ser. Silêncio não se
prosa, proseia, não é prosa que racionaliza a gnose das experiências,
vivências, pre-núncio do saber. Silêncio não se vers-ifica das suas reflexões
do deserto, meditações do porto. Não se diz o silêncio, não se metaforiza o silêncio,
o silêncio se versifica no silêncio que afagamos com as verdades do sonho, das
esperanças, das utopias, à busca das palavras sagradas no livro do Ser.
O elemento principal no bem-estar de um indivíduo —
de fato, de todo o seu modo de existir, de ser-no-mundo — é aquilo que o
constitui, que ocorre dentro dele próprio. Pois isso constitui a fonte imediata
de sua satisfação ou insatisfação íntima, que resulta de todo o seu sentir,
desejar e pensar. Tudo que o cerca exerce somente uma influência indireta; por
esse motivo, os mesmos eventos ou circunstâncias afetam diferentemente cada um
de nós; e até com ambientes exatamente iguais, cada qual vive em seu próprio
mundo. Pois um homem apenas preocupa-se diretamente com suas próprias ideias,
sentimentos e volições; o mundo exterior somente pode influenciá-lo na medida
em que traz vida a esses. O mundo em que cada qual vive depende principalmente
de sua própria interpretação desse e, assim, mostra-se diferentemente a homens
diferentes; para um é pobre, insípido e monótono, para outro é rico,
interessante e importante.
Fica mal com Deus quem não alça vôo nas asas do
condor de esperanças, real-izando os clímaces voláteis do gozo da estirpe. Fica
mal comigo quem não trans-eleva a fé no divino eterno aos auspícios da
liberdade que exala suas nuanças de desejos de compl-etude com os termos
acessórios do nada e efêmero, como o pássaro de fogo que choca os ovos das
chamas perenes a aquecerem o inverno das espécies susceptíveis às caliências do
nunca antes de quaisquer jamais, carências do sempre antes de quaisquer
pretéritos perfeitos ou imperfeitos. Fica mal com a vida na sua vocação de ser
o absoluto perfeito, inda que tardio o perfeito, inda que in-ec-sistentes as
ruminâncias de ouro e risos a satirizarem com veemência e re-verência o
surrealismo das laias côncavas e convexas das viperinidades da natureza humana,
quando o perfeito, desde a eternidade, encontra-se refestelando-se às margens
sinuosas do cócito inaudito de vozes que permeiam a noite de lua cheia e centenas
de estrelas cadentes...
Oh, centelhas que brilham momentaneamente, onde
faíscam o silêncio da liberdade e a liberdade do silêncio?
Pelo meu caminho vou, vou como quem pisa com toda
delicadeza e acuidade os ovos da "garnisé", grávidos de réquiens para
as ipseidades do pretérito iluminando as trevas e sombras da terra do bem-virá.
Vou como quem saltita nas brasas de lenhas da lareira, incandescendo a sola dos
pés para sentir o prazer e volúpia das estradas na jornada sem limites,
fronteiras, obstáculos, enfim sem o instante-limite do zero a prenunciar o
"um" dos solilóquios e colóquios da aritmética dos "noves fora
um". A linguagem é condenada pelos princípios, o estilo é indecente pelas
lógicas, mas antes sendo do que dar com as mulas no mata-burro, com os jegues
no abismo.
A vida consiste de movimento e nisso reside sua
própria essência. O constante movimento interno requer auxílio parcial por
parte do exterior. Essa falta de proporção é análoga ao caso onde, em
consequência de alguma emoção, irrompe dentro de nós algo que somos obrigados a
suprimir. Até as árvores, para florescer, precisam ser agitadas pelo vento.
Aqui se aplica uma regra que pode ser anunciada de forma mais concisa em latim:
omnis motus, quo celerior, e o magis motus [quanto mais rápido é um movimento,
tanto mais é movimento].
Silêncio é silêncio, vive de suas vozes íntimas e
trans-cendentais da espiritualidade, da divin-idade. Não se alimenta dos pães e
trigos do vir-a-ser, alimenta-se da plen-itude de seu ser. No inaudito de si,
revela sentimentos e emoções que lhe habitam e são os sonhos da sabedoria, da
verdade, as estesias do eterno, no deserto onde se re-colhe para a reflexão do
verbo-de ser ser cristalino, puro, são os desejos vontade de tern-itudes.
Buscar o silêncio - não se lhe encontra. Desejar o
silêncio - não se lhe vive. Sentir o silêncio - mergulho profundo no que
trans-cende os verbos da con-tingência, quais sejam a suprassunção dos valores
imanentes, a superação dos estados de alma, redenção dos pecados, ressurreição.
O tolo em trajes finos suspira sob o fardo de sua
própria individualidade miserável, da qual não pode se livrar, enquanto o homem
de grandes dotes povoa e anima com seus pensamentos a região mais deserta e
desolada. Há, pois, muita verdade no que Sêneca diz: omnis stultitia laborat
fastidio sui {toda estultice sofre o fastio de si mesma}
#riodejaneiro#, 26 de junho de 2019#
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