#DELÍQUIO DE AUSTERA POLIDEZ# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Nem pela
idéia, nem pela forma, a ausência poderia legar e doar às inteligências
persuasão ou maravilha
Permeio o
sentido obliterado e oblíquo da emoção com o significado e sentido do
sentimento. Na passagem do homem pelo tempo, o abismo apreendido exige a sua
postulação frente ao real. Atribuo a felicidade ao "habitamento" das
dimensões sensíveis na alma. As imagens retornam a encenar frente aos meus
olhos. Na minha consciência, tudo está muito translúcido; já nada consigo
sentir nela. A melancolia escorre pelos lábios oculares, morrendo e renascendo
na esteira do mundo. Ser todo coerência comigo mesmo. Em derredor, o silêncio,
sinto ainda a palpitação do coração, que não pode adormecer, tremer de delíquio
no horizonte.
O silêncio
atento indica as ausências por demais. O caminho que segue ondula através do
campo. Penso como seria possível desvencilhar-me desta tenacidade, de seu
ardor. Contemplo um instante do alto do ser resplandecente. Submeto-me a uma
ordem óbvia, mas o significado é desordenado, invertido, despido de
caracterização. Com a paz, como que se aflorou de frente de meus sinceros
desejos um mundo de misteriosas delícias, um vasto caminho de ternuras e de
esperanças um dia novo e desconhecido para mim, que me deixa a alma em êxtase.
Tenho um
rosto nítido e límpido. É que nas pequenas e ínfimas emoções abrem-se os vácuos
antes de se abrirem os olhos. Invadido pelo amor até às entranhas. Descanso um
pouco a vista no olhar sereno. Encho-me os sonhos de amorosos enleios
voluptuosos. A alma se me palpita de gozo e só o espírito se me aniquila. Os
próprios sentidos tomam parte na vergonhosa ingenuidade. O íntimo entreabre-se
um instante, compreendendo o alcance da felicidade e orgulha-se de ter
contribuído para com ele. A linha do eterno é o imortal acumulado no horizonte.
O sentimento de amor é um processo que sucede através do tempo e por meio do qual
a eternidade atinge a transcendência. Digo-me em voz baixa sedutoras palavras
de amor. A comoção enriquece-me o rosto com uma austera polidez, retirada do
profundo estudo da realidade humana.
Não procuro
enganar-me - bem sei o que me espera!... Arrisco mesmo a súplica, cortando-me a
palavra com um olhar em que a tristeza lê a inutilidade na experiência dos
fatos essenciais da vida. Falta à presença a arte paciente, ou o querer
decidido, para produzir a forma que ela concebera em abstrato como a única
digna, por raridades especiais e exóticas, de encarnar as suas idéias.
Caminhando em silêncio, revolvo um sentimento que se me apresenta. Há sempre um
quê de divino e sagrado. Uma lágrima insiste em prolongar-se, nenhuma
impaciência, desenhando-lhe o acontecer pretensioso, numa tênue meiguice,
impaciência, desenhando-lhe o acontecer pretensioso, numa tênue meiguice, ao
pousar no infinito das emoções sentidas.
Umedece as
esperanças de afetar grande tranqüilidade. A idéia de escrever esta memória só
hoje pela manhã é que veio a ocupar-me o espírito. Para manter no mesmo grau de
entusiasmo o enlevo de um amor complexo. Torno-me moralmente inseparável por um
tácito consórcio de absoluta confiança deste tempo a olhar no espírito.
Despejo-me até ao fundo em palavras de íntimos segredos. Chega a parecer-me
desonestidade. O coração se tem aberto por si mesmo. Tudo pode extinguir-se,
menos este sentimento, em toda a sua individualidade, que me acompanha como uma
qualidade inerente à vontade.
#riodejaneiro#,
13 de junho de 2019#
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