#À ESPREITA...# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
A
madrugada é um abismo, vácuo de risos e dores, nada de férteis imaginações e
ausência de inspirações, vazio de angústias e tristezas.
Trago
a fumaça à revelia do que me trans-cende dos sentimentos de tempo e verbo de
ser, expilo-a ao deus-dará de todas as con-tingências, recupero o lince de meus
olhares à distância que vêem miríades de imagens a ensaiarem as perspectivas da
plen-itude branca da vida, os ângulos onde as cores da paisagem do infinito se
sintetizam, iluminando-a de desejos e vontades do verdadeiro verso do espírito
do eterno.
Efemérides
seduzidas, efemer-itudes des-compassadas. Sorrelfas compactas de idílios,
quimeras reduzidas de utopias. Fantasias simplificadas de sonhos, sonhos
envelados de neblina. Sintonias, sincronias, harmonias, à luz as trevas, às
trevas a luz. Alguém, à janela de suas verdades insofismáveis, sabe a minha
linguagem final, a que aflora num susto a aparição do silêncio, a que flana
suave e serena por sobre as águas do oceano, a que sagra e a-nuncia os fachos
de enigma, efígie dos mitos. Estou aqui onde me crio, re-crio, onde me invento,
faço-me. De tinta são os meus traços, caracteres. A folha é de papel, linhas,
margens, as letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas.
Esboço
um sentimento que retiro de mim dentro, garatujo uma emoção que me perpassa o
íntimo, delineio uma idéia que se me a-nuncia, burilo um pensamento que se me
re-vela: ainda não são os originais, não é a verdade minha. Re-crio-lhes as
bordas e ad-jacências, recomponho-lhes a imagem, re-faço a face, re-estruturo o
perfil. Evoco o abstrato, invoco o transcendente, faço das perspectivas a minha
raiz, faço dos ângulos o meu ser, das linhas a alma, das entre-linhas o
espírito.
Farto
de mim, distancio-me, fico à espreita, constato: na vida ou na arte, em carne,
osso, caneta ou lápis onde estou-sendo não é quem sou, onde sou não é quem
estou sendo, onde estou não é sempre, não é eterno, não é absoluto, não é
efêmero, não é nítido, não é nulo, onde sou não é para sempre, o que sou é por
um lince do olhar.
Águas
re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, lírios brancos à mercê de vento
suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu canto, nuvens
brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa vermelha sendo
levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada. Sentimentos leves perpassando
o íntimo, carinho, ternura, afeição, ouço o pulsar do coração, extasiado de
emoção, no que em mim trago dentro, as volúpias da alma trans-cendem as elegias
do instante de sonho, em mim sentindo íntimo, a alegria conjuga versos, a
felicidade recita de rimas as fantasias do amor correspondido, do amor sentido
profundo, do amor saboreado, do amor entre-laçado de corpos à busca do clímax
absoluto e pleno.
No
que em mim deseja de Verdades as regências verbais tecem de erudição a estética
do estilo sensível, espiritual, as metáforas conjugam de imagens a linguística
do eterno, as regências nominais desenham no horizonte as perspectivas da
linguagem do Ser e Tempo; e nos interstícios da alma de verbos alucinados,
desvairados, esperanças delineiam de perspectivas, cânticos solenes em
uni-versos líricos, plen-itude de êxtases compõem de estesias alhures de
sentimentos à busca de subjetivas verdades, algures de desejos de felicidade à
busca do espírito de con-templar o absoluto sentido efêmero, sentido volátil,
sentido nítido nulo, sentido estrela cadente, sentido vazio. sonhos do belo,
beleza de re-fazendas conjugam imagens e intuições, perspectivas e inspirações,
criatividade e percepções, re-criando da memória o movimento, literalizando da
recordação os instantes, no poema do espírito a presença viva do eterno feito
amor, do efêmero feito desejo, do há-de ser feito querência, do simples feito
grandeza, do nada feito travessia para o além...
O
amanhecer é surpresa...
#riodejaneiro#,
14 de junho de 2019#
Comentários
Postar um comentário