ONDE AS PALAVRAS SE CALARAM GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Frágil
sentir o friozinho dos ventos contraditórios, chamas da lareira acompanhadas de
vinho não aquecem, não aquiescem as tramoias, cambalachos, tripúdios com as
melancolias, a alma se embrulha toda no sudário das nostalgias.
Con-vexos
idílios velados de tempos inestimáveis, tempos inenarráveis, indescritíveis,
indizíveis, tempos que nem as chuvas, garoas tiveram noção deles, que a memória
a-colhe em seu bojo, remontando às "zagaias" do caos, às
"onças" do absurdo, tempos estranhos, vãos ideais da verdade.
Côn-cavas
quimeras escondidas atrás da superfície lisa do espelho, furtivas idéias da
in-fern-itude, alfim de que não são capazes os dogmas e preceitos? e as
doutrinas proclamam o livre-arbítrio. São as serpentes a envenerarem na
continuidade do tempo a liberdade e a consciência-da-ética.
Côn-cavas
sorrelfas enoveladas, entrelaçadas nas bordas da moldura do espelho, proscritos
pensamentos do purgatório - o purgatório está extinto dos dogmas e preceitos,
incorporou-se ao inferno.
Tergi-versadas
ilusões trancafiadas nos cofres da memória, fúteis utopias do ab-soluto que
re-colhe e a-colhe as luzes do in-finito.
Des-conexas
fantasias enveladas de éritos das volúpias e ex-tases, hilárias esperanças do
ad-vir a-nunciado nas bordas do uni-verso, e nos horizontes alhures a neblina
sarapalha os ventos, algures o orvalho da madrugada paira leve e suave. O céu
cintila sobre flores úmidas. Há um campo cheio de sono, eis-me trans-portado
sonho e murmúrio de sono e antigas confissões, confidências.
Tempo
e
vento.
Tempo
e
ser.
Ventos e
Ser.
Tem dias que
se se sente como quem idealizou o nada, sonhou o vazio, teve fissuras pelas
nonadas, a vida sarapalha de leste a felicidade e amor plenos, resta sentir o
sabor do contrário que seduz a língua a criar eruditos vernáculos da decepção
para atiçar a alma a re-fletir as sinuosidades da vereda que levam ao ser do
efêmero, ao efêmero das metafísicas do inferno.
No
entre-correr da minha presença já tive que transpor as quimeras! Nas pontes de
minhas travessias tive de nonadear nas curvas das estradas, experienciar os
travos, vivenciar os nós górdios, fraternizar com desvigorosos, solidarizar com
des-conexos, condescender os traiçoeiros, relevar os injustos e desumanos, mas
espicacei preservar-me na vertical, conservar-me na horizontal de meus ideais
heréticos, inclusivamente com calhaus acertaram-me em pejado, escorraçaram-me
com as mãos nas costas. Não sei nomes, não olho nas bocas onde as palavras se
calaram.
Expurguei do
ser o motim vil, a humilhação pleonástica, a ofensa metafórica, a
desinquietação oca, o ceticismo inautêntico, o niilismo inócuo e sem quaisquer
sensos, reacendi meu imo à existência. Libertei reflorir amizade, em questão o
re-criar o verbo amar dos sonhos. Analisei em redor e para o paraíso sem
termo... Interpretei ao longe e para a eternidade obtusa... Ajustei-me com o
planeta tão impiedoso, com o mundo tão errado, adaptei-me à existência, com
arduidade à existência e ao Universo que granjeava para mim. No entanto, nada
olvidei, contudo nada protelei ou posterguei. Os calhaus conservei, não para
construir um forte. Já é um cliché démodé….Somente para relembrar quem os
projetou.
Terrenos da
alma, nada há de baldio neles.
O sonho do
verbo ser na roda-vida das dialéticas concebe o perene.
#riodejaneiro#,
19 de junho de 2019#
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