DE GRÃOS DE AREIAS BRANCAS AO LONGO DA ILHA MARITÍMA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Fé é muito mais um modo de ec-sistir e comportar-se
face à totalidade das manifestações do mundo do que adesão a um conteúdo fixo e
fixável de verdades proferidas dentro de coordenadas linguísticas que são e
serão ad aeternuum vinculadas a uma determinada visão-de-mundo.
Delírios à luminosidade da ec-sistência - canastro
de cogitações da concupiscência, dificuldades da consciência acidental.
Sequazes à antojar do excelso, metro da querença assente
verbo–alma–de-inerência, inspiração do não-plectro à graça da ninharia, oco,
carência, báratro do não-ser, ao não encanto do estético, cataclismo da
ontologia psicanálise do Érebo - alvoroços, retentivas extintas, acarretando o
espírito no termo da jornada, érebo transcendente do cataclismo psicanalítico -
sensibilidades, urdido rude que cerca a alma na sémis da vereda, cataclismo do
érebo teórico da psicanálise.
Volúpias às trevas, mistérios, enigmas da alma -
dera cabo do canastro nos agrilhões, aguilhões, não estou sujeito a uma
condição, sou quem res-ponde de mim próprio no fritar dos ovos ou cozinhá-los à
banho-maria do tempo e das ausências da virtude e da dignidade, mister
inscrever o destino livremente.
Uno as mãos, aperto-as contra o peito, como se
desejasse reprimir os sentimentos que me perpassam o coração, aliás, outrora
dormia de bruços, as mãos apertando o peito. Observo o gesto e compreendo o que
se passa: um ímpeto novo como que me percorre o corpo, endireito-me, levanto a
cabeça que, por instante esteve baixa, a mente circunspecta, a alma intros-pectiva,
a boca aberta como mostruário e mostragem dos sentimentos e sensações que a
levam/levem surpresas e estupidificadas, enquanto os olhos perscrutavam o
abismo, o vento sopra agitando os grãos de areias brancas ao longo da orla
marítima, pretérito e presente em sintonia nas trilhas do ec-sistir, eriçando
os cabelos dos braços.
Quem sabe com estas imagens, tornadas palavras, não
esteja mostrando a aura intraduzível das imagens das areias brancas, dos seres
votados à inocência. Assim é que devo imaginá-la, um gesto esboçado sem
conivência íntima, uma dádiva destituída de graça, uma graça destilada à luz
das des-graças. Um outro sentimento já fermenta no espírito, e eu calculo
quantas vezes o dissera, em que situações idênticas, e diante de quantos homens
diferentes.
Como saber a inocência inteiramente, e possuí-la
sem vislumbre algum de memória, sem intromissão dos seres que a hajam amado ou
rejeitado, e que, provavelmente, tenham sido com ela saciado a fome e sede de
absoluto. Como enunciar a ingenuidade in totum, e mostrá-la, elucubrações...
Fosse logo ao amanhecer que estivesse no topo desta
montanha, contemplando a ilha de areias brancas, provavelmente não teria
invocado testemunho invisível mais sublime que a comunhão do espírito e dos
sonhos.
Ao entardecer, devendo de imediato descer a
montanha, a noite já está caindo sobre a ilha marítima à distância, brilha o
traço de uma lágrima que se anuncia no rosto por modelar esta expressão, este
testemunho da oculta energia que me vitaliza o ser, e o entusiasmo de que sou
dotado para todos os esplendores e glórias da natureza que intimamente
habita-me os recônditos, a amada chama para o retorno, caminhamos, conversamos,
meditamos na orla do mar no crepúsculo, a cada passo isto sendo real, verdadeiro
no quotidiano das coisas, objetos, homens.
Como a vida me parece grave e bela, com um sentido
que não adivinhara até então, mas que existe, dando cor às arvores e folhas, às
nuvens, ao vale de areias, dando tonalidade à grama viçosa e verdejante do bosque,
a tudo, enfim, que res-plandece e palpita de in-finito amor, de uni-versal
livre-pensar. Sinto-me grato por ec-sistir, e chego a pensar em ajoelhar-me, e
agradecer à Terra-Mãe, qualquer que Ela seja, a graça de me ter feito presente
a todos esses esplendores, não sendo nenhum truque de alma torta por
negligenciar as penitências...
No claro-escuro dos dias, visto e des-visto uma
série de disfarces, que, no entanto, não escondem a sempre presente angústia do
Ser diante do tempo, desnudo, mostro a cobra e o pau que lhe tirou a vida,
utilizando-me de um ditado mineiro, o vazio almático, e necessito com urgência
de outros passos. O melhor aforismo é sempre uma súmula da verdade, uma sinopse
do verbo de ser, síncope do tempo e do silêncio.
Pasmos de avisos da claridade a recaírem no que
há-de advir, meditação da realidade na contiguidade do tempo que se faz
ininterruptamente, geração da quimera, aspergir de protótipos, ânsias, querer a
energia da expectativa, matriz de mundos, contaminados de simulacros, orquídeas
cãs de amplas ópticas à pesquisa da claridade das estâncias da existência,
enredada à contiguidade de existências, ensaios, matriz de dilúvios, gênese de
vulcões em erupção, prenhe do verbo–ser-de-afeições, ânsia de dita, o raiar é
espanto, as lâminas de cintilâncias são surpresas.
Eu-próprio, enquanto continuo a olhar o vale, a
ilha de areias brancas, vogo um pouco ao sabor dos minutos poucos que antecedem
o cair seco e categórico da noite, medindo, compondo, re-compondo, aclarando
uma ou outra sede que se vai mostrando, expressão cuja chave, à luz da face
nova, abre exuberante o que em torno constitui demonstração de vitalidade às
distâncias e longitudes do mar, a todos os horizontes do sonho e da utopia do
ser no silêncio o silêncio do ser, noutras paragens, estadas no topo da
montanha con-templando por vezes a manhã, por outras à tarde, ao crepúsculo,
que me abriram a utopia da ec-sistência na orla do mar, numa ilha, a voz do
silêncio se fez presente e real, continuamente nasce, vive, morre, re-nasce,
uma jornada, uma balada...
Corpo de baile do nada e do silêncio... nada e
vazio, ponte submersa, trilha de poeiras e mataburros, subterrâneos do
espírito, trapézio de liberdade e consequência, folk-lores, lendas, rituais,
mitos... águas e silêncios...
Silêncio!... além das águas...
#riodejaneiro#, 26 de junho de 2019#
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