GRAÇA FONTIS POETISA PINTORA ESCRITORA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A PROSA #PREÂMBULO DA DESCRIÇÃO FILOSÓFICA DAS RARIDADES#
Maravilhoso texto, o questionamento sobre a possibilidade da felicidade
plena ser viável ou não, há muito o que se pensar, e você, sim, teceu com muita
arte as palavras, como sempre faz com perfeição esmerilada, falou com
seriedade, mas também troçou sobre seu sorumbático momento à deriva nesse mar
consciente de uma realidade imposta mas ainda bem distante da tão almejada,
tudo isso desenhado logo ao amanhecer com olhar nostálgico sobre instantes da
gélida chuvinha onde o céu nebuloso acena convidando a mais reflexão sobre esse
tal de desequilíbrio da vida entre seus opostos polares internos, e como
salpicou, sarapalhou, dançou e pintou... como ninguém mais, meu Escritor
Preferido! !! Beijos...
Graça Fontis
Raridade não é tecer com arte as palavras, raridade é descrever o
momento sorumbático sendo o preâmbulo, introdução das raridades, como você tão
genialmente diz no comentário "desequilíbrio da vida entre os opostos
polares internos", sendo o cerne da prosa, sendo o eidos da reflexão. Esta
descrição filosófica das raridades é preâmbulo de outros sonhos, outras
raridades das esperanças e utopias. De excelência, genial sua análise e
interpretação do desequilíbrio da vida entre os opostos polares internos. Havia
pensado na madrugada, a chuvinha fina caindo, sobre os opostos polares
internos, desejara tecer uma prosa com este tema. Aliás você já havia comentado
tempo atrás sobre o "bipolar". Não me lembrara disso ao criar o
texto. Obviamente não o soube, nada lhe dissera a respeito, e você genialmente
des-vela, a reflexão. Trocei sim do "sorumbático" por haverem tantos
outros sentimentos opostos, e sendo o tema de reflexão a
"felicidade", o questionamento "como ser possível a felicidade
plena, em pensando nos opostos polares internos, contradições e dialécticas,
nonsenses?"
Beijos no coração.
Manoel Ferreira Neto
PREÂMBULO DA DESCRIÇÃO FILOSÓFICA DAS RARIDADES#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA
Que é o odor agradável e sensível da esperança, sonho, utopia, sorrelfa,
quimera das nostalgias que confeteiam da arte de tecer as saudades melancólicas
e ensimesmadas de salpicos e sarapalhas regenciais da perfectu-itude do
amor-caritas nas ad-versidades e div-ersidades do "come, pequena suja,
come chocolate, olha que não existe outra metafísica no mundo senão comer
chocolate", eis o fingimento, eis a farsa, eis o ethos do son, poesia e
identificação do ethos da música, do acorde do violão do boêmio que canta o
lírico das linguísticas!..
Que figuram as orquídeas da Alegria Breve? Únicas flores neste árido
terreno do meu coração, circundado por uma ilha, mangues, praias. Mister agora
um raio que as anime e lhes conserve o perpétuo viço. Se a vida pudesse ser
eternamente orquídeas da Alegria breve, provável seria que o coração adquirisse
a paz almejada. Verbos defectivos ornamentam seus ideais de sombras e hiatos,
conjugando as situações, circunstâncias com os pronomes de re-versos sujeitos,
dores e sofrimentos são sentimentos inerentes à condição humana... Joguetes da
imaginação, propensão às fantasias cor-de-rosa. O mais inocente de todos os
sorrisos serve de base a um castelo de vento, uma expressão qualquer, simples
cortesia de sala, afigura-se cheia de mil promessas de futuro. As tempestades
do ar importam mais que as tempestades da vida. Cai chuva fina e constante, que
houvera inicializado pouco antes dos primeiros albores da manhã. Que importa a
melancolia da natureza, se habita n´alma fonte de inefáveis alegrias?
Eis que eu próprio me torno o mito mais radioso e talhado em penumbra,
sou e não sou, mas sou. Poder-se-ia acreditar que há no mundo um verdadeiro
azul, um verdadeiro vermelho, um verdadeiro odor de amêndoa ou de violeta. Logo
os retenhamos um instante sequer, este sentimento de conforto e segurança é
substituído por um profundo mal estar: as cores, os sabores, os odores nunca
são verdadeiros, nunca são simplesmente eles mesmos e nada mais que eles
mesmos.
O verbo do presente - LIBERDADE, JUSTIÇA, CONSCIÊNCIA estão no ar! -
ilumina-me, numina-me para outros efêmeros que re-velarão eidos, essência,
cerne do vazio, e só este pode re-colher, a-colher o múltiplo, absoluto,
divino, que nada mais são que húmus para outras contemplações do há-de ser. Não
seria de bom tom viver as in-verdades com grande amor e paixão? Quê tristeza:
impossível para a felicidade plena, impossível para as in-verdades perenes.
Debruço-me sobre cada segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que não
capte, não fixe para sempre em mim, nada, nem os ruídos da rua, nem a claridade
titubeante do amanhecer; e no entanto o minuto se esgota e não o retenho,
estimo que passe. Ritual para o alvorecer ser feliz, para a felicidade ser
plena no espírito do verbo sonhar, diria estar louco, varrido, doido de pedra,
pois que homem algum é vocacionado à plen-itude de felicidade, não saberia
con-viver com ela; cerimonial de futilidades e picuínhas para os pensamentos
não cochilarem, a natureza está melancólica, chove miúdo continuamente, alfim
carece de lhes dar sentido, significado, em mim perpassam certas pasmaceiras,
nada há que esquente os pensamentos, chameje as idéias, tudo se escorra
escorreitamente, ouça sons, sinta sabores.
Há quem acredite piamente comer chocolate é a única metafísica, a
absoluta, mas em verdade, em verdade, se é que se possa afirmar seja a que
frutos lega, fazer dos pensamentos vinhos em dias chuvosos, para degustar o
sabor imaginário da luz - sonhara há anos que descia lentamente os degraus de
uma escada em espiral, e quando terminaram os degraus senti que me seguravam e
enfiaram uma luz em minha boca, acordei, sentindo-me sem fôlego. O vinho é um
convite para os prazeres do mergulho nos subterrâneos do espírito. Meu passado
onírico é agora tarde demais? Arrependimento estoico mantém erecta a minha
cabeça. Meu sorriso cristaliza a sala em silêncio, e mesmo os ruídos que vem do
imenso terreno baldio que leva ao topo do morro, de onde se vê uma nesga do
mar, escorrem do lado de fora do silêncio.
O fato de uma pintura de época, um casal refestelando-se no leito,
selvagens e suaves, olhos pensativos, essa pintura real não me desmente, só faz
é revelar uma fantasmagórica estranha: ter nascido é cheio de indagações a
fazer, perquirições a responder. Adormecera tão logo realizada a visão da
pintura de época, não me re-corda se houvera algum sonho; indubitável é que
acordara pensando nesta manhã chuvosa se há arte em tecer as saudades
melancólicas e ensimesmadas de salpicos e sarapalhas regenciais?
#RIODEJANEIRO#, 29 DE SETEMBRO DE 2018#
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