SILÊNCIO DE VENTOS LARGOS DE MONTANHA# - Manoel Ferreira Neto: DESENHO/GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
Ad-jacentes relices metafísicas que engendram os re-versos e in-versos
das idéias e comportamentos para se trans-formarem em motivo de mangofas, não
importando, nada de tintas, de qual boca provenha as parvoíces, contanto que
evidenciem todos os caracteres da espécie sábia e que saiam destes templos onde
tem sede a infalibilidade tradicional do gosto, a infalibilidade estética é tão
duvidosa que se pode ser persuadido da falta de gosto e da falta de idéias e da
grosseria estética do sábio. Tudo é prêmio do tempo e no tempo se con-verte, o
tempo flui sem dor, sem derivativo. Não seria o melhor as orlas destas relices
metafísicas in-vestigar, perquirindo onde é que se radicam a relice do esperto,
a deselegância do elegante, e simplesmente reverenciar se a res-posta for no
gosto des-enfreado de, na ausência, no ardor contido, esbaldar.
Parvoíce de nonadas e nada. Trocam as palavras de lugar para darem
sustância ao que chamam de idéias originais, trocam, com a troca das palavras,
alhos de parvoíces por bugalhos de perspicácias, cabeça de alho por dente de
alho, não se descasca cabeça, descasca-se o dente, mas as nonadas e os nadas
permanecem lívidos e vivos, não lhes sobrando outros resultados senão os risos
e gargalhadas das pessoas, provocando-lhes muitos pinotes para entenderem e
compreenderem os motivos e razões. Na verdade, na verdade, oh, que sina, que
saga, nasceram para ser incompreendidos, mas a esperança é a última que morre,
chegará o tempo que a humanidade se libertará do berço esplendido dos orgulhos
e importâncias da raça, estirpe, descobrirá que são eles os que trazem, sempre
trouxeram, nas mãos feitas concha as primevas idéias verdadeiras da vida e das
cositas dialéticas do tempo e do ser.
Batidas do sino da igreja sob a luz da noctívaga noite da libido na
querência sensível e trans-sensível de acontecer o sublime das palavras que
versificam e proseiam os liames de vestígios do nada na característica
específica e sine qua non de pretéritos que originam os ritmos e acordes do
"eu poético" que se re-vela ao mundo por inter-médio da arte de
idílios da "ec-sistência", desvelado o nítido nulo do cócito cogito
das sorrelfas idílicas que da lídima "persona" ilumina a liberdade do
abismo. Inicia-se a missa das sete, o presidente da celebração faz o sinal da
cruz, os fiéis fazem o mesmo.
Liberdade do abismo.
Do abismo, a liberdade,
Da liberdade, o abismo.
A beleza pode levar à espécie de loucura
Que é a paixão.
A beleza da arte, sentimentos leves,
Românticos em relação à delicadeza,
Trevas estrangeiras de instintos vivos.
Nada e nonadas dos parvos, na ad-stringência de primevas ilusões, quando
trazem no coração e na cabeça o rigoroso e pujante método da verdade, dúvidas
sistemáticas, e que por outro lado, graças à evolução da humanidade, tornam-se
tão delicados, susceptíveis e sofredores a ponto de precisarem de meios de cura
e de consolo da mais alta espécie; daí surge o perigo de se esvaírem em sangue
ao conhecerem a verdade, ao se conscientizarem de que a ilusão, a mentira, a
representação têm pernas curtas, a verdade não lhes é senão modo e estilo de
tripudiarem os instintos que lhes são peculiares, o que lhes habita o mais
profundo da carne e dos ossos, trans-elevarem a razão em nome de alguma
dignidade fantasiosa.
Lorpice de sentimentos e sensibilidade em captar e re-colher, a-colher
as coisas, gênios, magos da sensibilidade, desvario e devaneio são os frutos
que degustam, sentem-se realizados com tal banquete, e cantam e decantam e
recitam e oram, já não sofrem, já não brilham, mas são a mesma coisa.
Oh, quê sina!... Oh, que saga... Nesta terra de Sísifo, festa solene e
sacrifícios em expiação a não haver sentido náuseas observando detritos, lixos
nas calçadas, bocas de lobo entupidas, pelas ruas, não chamaram a atenção por
organizar as coisas. Nesta régia de áureo solho e de áureas taças a orgia e
libidinagem, e vadeiam a ciência do direito às trafulhas.
Idéias do tempo existem sempre, apetite sempre re-novado em face das
coisas, indicação que permitirá, quiçá, deixar de ser bicho esquisito, bicho do
mato, para voltar a ser, simplesmente, homem.
Quando não se tem linhas firmes e calmas no uni-verso da vida, como as
linhas das montanhas e dos bosques, das margens dos rios, dos sinuosos caminhos
da floresta, o próprio desejo íntimo do homem vem a ser intranquilo, disperso e
sequioso como a natureza do citadino: não tem felicidade nem dá felicidade. À
sirga dos acontecimentos, situações e circunstâncias, no campo desfolhado
outras quimeras, entre-laçá-las.
Oh, Deus!... Oh, céus!... Quê destino ingrato! Levantam uma harmonia de
idéias, coroadas de etern-idade; de novo um destino cego de águas subterrâneas
me escava a segurança. Dão de ombros a uma questão que lhes são tão indiferente
como as cheias do Nilo. Sabem que um castanheiro num cerro é uma verdade
natural, não há duvidar. E que o trabalho deles de porem as coisas onde deviam
é outra verdade como a primeira. Querem-se só, com silêncio no coração, um
silêncio de ventos largos de montanha. Pensar é acusarem-se ou decidirem-se a
um rumo. É sentirem-se presos.
Paz!
Tapar os olhos, ir para o fundo, mas sem idéias, como uma pedra.
Arremessar de elevada ribanceira sobre o mar, precipitar nas ondas.
#RIODEJANEIRO#, 29 DE SETEMBRO DE 2018)
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