#VERBOS E PERSPECTIVAS DA IMAGEM..." - Manoel Ferreira Neto: DESENHO/GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: PROSA
Limpando a poeira do automóvel, reunindo os cacos da taça de cristal,
jogando-os fora, bem longe, onde nem com muita perspicácia possa ser possível o
encontro deles, onde com muita imaginação fértil e desejo possa ser possível
uma lembrança, aos pés das pirâmides do Egito.
Se o ovo é invisível a olho nu, às sara-palhas de auscultar o sibilo do
vento no abismo, como me seria ritmar as notas que o vento revela à passagem
nos interstícios do sibilo, teria de considerar que o olho nu invisibiliza as
notas do sibilo ou o olho nu dá corda no tempo para a revelação do som; se o
olho nu adveio do ovo, à mercê da retina, como seria pintar e melodiar a imagem
do ovo e a visão-de olho nu?
Então, se o ovo é invisível a olho nu, se o olho nu invisibiliza o ovo,
se o ovo advém do olho nu, se o olho nu advém do ovo, re-vestido de verbos
trago em mim, afagando com as utopias do tempo e do ser, as luzes e contraluzes
da imagem no desejo, vontade de versar os sentimentos e emoções de sua
a-nunciação, e invisivelmente ouço o cantarolar da láwerka, e o canto melodioso
reminiscente leva-me às ondas ondulantes do vento.
Desprender-me, afogar-me nesta claridade, em cuja superfície se espelha
um nada indescritível, qual reflexo do nada de minha própria alma, do nada de
meu próprio espírito, onde uma ideia escorrendo escorreita nos verbos da imagem
do ovo, que re-monta à questão de o que advém de que, o ovo da galinha, a
galinha do ovo, banha a obscuridade, o in-audito, desconhecido, invisível,
visível. A idade espraiou ondas no mar. Meus olhos conten-plam os verbos do ovo
sensibilizados, meu entoo do canto da Iáwerka, submerge-se em metáforas, a
imagem que os enunciam em clima que presilha na moldura ornatos libertos na
munificência de adejos livres.
Então, se o sibilo que o vento esplende veio primeiro que o abismo, a
imagem e os verbos, que são as palavras, alimentam-me o in-finitivo das utopias
que me habitam do som, se o abismo adveio do sibilo do vento, os verbos e as
perspectivas da imagem, que são a linguística, semântica do espírito e do
tempo, nutrem-me a sede do sabor do ser e do tempo. O que importa saber se o
ovo advém da galinha, se a galinha advém do ovo.
Às avessas da in-finitude,
ao re-verso da imortalidade,
ao in-verso do ab-soluto,
ao verso de horizontes finitos,
às estrofes de sentimentos de amor e paz,
de felicidade e alegrias mil e tantas,
dizerem suas verdades -
Modificam a linguagem,
Estilo,
Nasceram poiéticas, prolongam-se poéticas em busca do
Verdadeiro verso do espírito e do ser,
Re-velando perspicácia...
Trans-parência de sensibilidade na sublimidade do tempo, nitidez da alma
na perenidade do efêmero, acompanhadas de vivacidade, aqueles olhares
transcendentes em busca das sagacidades dos linces do mistério, seguidos de
inteligência e flexibil-idade das a-nunciações para um mergulho profundo, para
uma visão ampla de pormenores dos enigmas que lhes envolvem, dos segredos que
lhes habitam os interstícios da alma plena de desejos e questionamentos.
Imagem e verbos. Palavras, luzes e contra-luzes.
(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE SETEMBRO DE 2018)
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