**CASTIGO DE MESTRA** - Manoel Ferreira
Chinelada
de mãe dói - e dói bastante! -, a carne arde. Às vezes, custa um pouco passar,
às vezes nada custa. E as chineladas continuam até as lições serem aprendidas.
Chineladas doeram, mas não me atingiram a alma. Teimoso, irreverente, rebelde
continuei sendo. Aprendi o que senti ser necessário.
Castigo
de Mestra dói além dos limites, atinge a alma. O que sempre odiei foi revisar
as coisas escritas. Revisar - quê agonia! Agonia maior ainda que lavar roupa
todo dia. Professores entregavam-me as redações, dizendo precisava revisá-las,
conferisse eu próprio as gafes - o termo da época era "bananada" -, a
nota poderia ser melhor. Falavam, falavam, entrava num ouvido, saía no outro.
Não me castigaram. E pela vida a fora escrevendo sem revisar.
Se
a raiz dos problemas não é ceifada na infância, na maturidade pode-se esperar
haver alguém que a ceife. O castigo na maturidade - que vergonha!: "Nessa
idade e me colocam, colocaram de castigo". Olha aí a alma sendo atingida.
A
Mestra falou, falou, falou: "Você não pode publicar suas
"coisinhas" sem antes revisar. Erudito e clássico que é: isto é
inadmissível. Depõe a sua imagem". Entrou num ouvido e saiu no outro.
Revisei os textos que pediu. Não falou mais a respeito. Ficou de
"butuca". Não revisei mais.
E
lá vem a Mestra com o castigo. Se não revisasse os textos, não compartilharia
em sua Linha do Tempo, método dela de divulgar a obra e o autor. Após ter
publicado em vários grupos, identifica-me um erro. Reviso e tenho de voltar e
editar em todos os grupos. Continuo e lá vem a Mestra com outro erro no mesmo
texto. Voltar e editar. Quê castigo!... Meu Deus!... Mas vem o
"tapinha" de carinho no ombro: compartilha na sua Linha do Tempo.
Melhor revisar antes que a agonia de editar nos grupos, dá um trabalho do cão.
Já
imaginou escrever "presipísio", e ter de corrigir, o certo é
"precipício", e ter de editar em trinta grupos, tudo porque troquei o
"c" pelo "s". Já tive de revisar uma crase que digitei onde
não havia crase. Mas aí está a Mestra!: ensinar ao discípulo a perfeição. Não
há outro modo senão a exigência radical e plena. Comigo então, não sendo com
exigência radical, vou empurrando com a barriga.
Acabei,
com este castigo, criando um método: escrevo o texto e a primeira publicação é
no Grupo dela: leio, releio, reviso aqui, reviso ali. Xeque-mate: publico. Daí,
vou publicando. E não é que está dando certo? O compartilhamento é imediato.
A
criança não aprender as coisas de imediato, levar suas chineladas, ficar de
castigo, é perfeitamente natural, mas já velho não aprender de imediato é
vergonhoso, quando não é manifestação de "tapadice", não aprende nem
com machadada na cabeça, enfiar a coisa nos miolos.
Castigo
de Mestra... O pão-de-ló vem depois da perfeição. A perfeição custa muita
agonia, mais agonia que lavar roupa todo dia. Mas é um castigo, um supimpa de
castigo, vem acompanhado do carinho e amizade, quer o meu bem, a minha
realização íntima.
Nunca
mais vou me esquecer deste castigo da Mestra. Atingiu a alma, a alma é sempre
busca.
Houve
outro castigo. Disse respeito à ansiedade. As coisas tem a sua hora de
acontecer. Análise crítica não é o mesmo que colocar bifes na frigideira com
gordura e em cinco, dez minutos estarem fritos. Demora. Percebeu a minha
ansiedade por receber as análises, deixou-me alguns dias de castigo, não recebi
análise crítica. Avisou-me do castigo. Hoje, venha a análise quando vier, fico
na minha, tranquilo e sereno.
Mestra,
qual será o próximo castigo, hein?
Manoel
Ferreira Neto.
(14
de março de 2016)
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