SONIA GONÇALVES ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO 785 /**A ARTE DE ESCULPIR PALAVRAS**/
Declaração
verbal é essa tua, texto delicioso de ler esse, satisfação em captar nas
entrelinhas o depuramento das palavras, filtradas pelo autor! Acho que deve
possuir um imenso caldeirão mágico por aí, Manu, onde ferventa os astros
juntamente com um monte de letrinhas graúdas, tudo em tu é parece fácil,
ludicamente falando, és um escritor que brinca com as palavras com ousadia dos
sábios.Amei muito, muito mesmo!Parabéns por esse enredo expressivo e legitimado
com sua marca lógico, em versos inigualáveis..Parabéns para a Graça com certeza
obra de arte espetacular, só acresce. Bjos
Sonia
Gonçalves
Declaração
Verbal por a escultura intencionada fosse auto-retrato, uma reflexão sobre os
caminhos por mim trilhados, palmilhados na ec-sistência, homem-artífice-das-palavras.
Depurei sim com todas as categorias defectivas do verbo, delineei com todos os
genitivos do mesmo, fazia-se mister, como esculpir o auto-retrato não fosse
neste estilo e atitude? Sem brincar com elas, não ec-sistiria, e elas se
entregam solícitas, alegres e saltitantes às minhas brincadeiras. Aí sim... A
"ousadia dos sábios"... Não diria deste modo: diria haver ousadia,
prepotência, vaidade, insolência, intransigente coragem de arriscar as buscas
da sabedoria a partir das letras, das palavras. Lembrar-me sempre não haver
rede que possa me amparar, proteger, tenho de equilibrar-me na corda do
trapézio, a escolha é a glória de atingir o outro lado, a consequência poderá
ser a morte, se cair. Interessante isto de "caldeirão mágico": as
palavras são este caldeirão em mim, a magia é torná-las realidade de uma
declaração verbal. Os astros são as metafísica, ontologia, semiologias,
linguísticas, semânticas, ideais e utopias, desejos e vontade, sonhos e verbos.
Parece fácil, é fácil a escolha de buscar sabedoria a partir das letras, não
basta apenas saber escrever, agradar, admirar o leitor, é preciso ter atitude,
a atitude autêntica é sempre vista e encarada como vaidade, orgulho, autoestima
exacerbada, é preciso verbalizar os ideais, os projetos, dizê-los com todos
ristes na ponta da língua, a franqueza, a honestidade. As palavras esperam o
homem, não apenas que atinja um nível de linguagem, estilo, esperam o homem
artificie tais estados de personalidade e caráter, o homem por inteiro. Alfim,
só espero a minha casa-do-ser na consumação de minha obra. A responsabilidade e
o compromisso são enormes. Você, Sonia Gonçalves, sabe o que isto significa.
Beijos nossos.
Manoel
Ferreira Neto
#AFORISMO
785/
A
ARTE DE ESCULPIR PALAVRAS**
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: AFORISMO
Leve...
Muito leve... Insustentável leveza..
.
Breve...
Muito breve... In-audita brevidade...
Mínima...
Muito mínima... In-dizível extensão...
Verdades
que libertam, abrem asas e alçam vôos a horizontes onde o há-de vir se a-nuncia
pleno de pers-pectivas de re-fazendas, re-crocheteios, amplo de pro-jectos de
re-construções, re-crocheteamentos, aberturas para o outro de ser, ser-outro de
con-tingências e trans-cendências, de sensibilidade e esperanças do ab-soluto.
Tomado
pela vertigem do próprio vazio, individual e íntimo, vertente do nada adjacente
aos recônditos da alma, agarra-se aos mais in-expressivos sinais de
id-[ent]-idade.
Esta
expressão, **HOMEM DE ESPÍRITO**, não a-nuncia nenhuma pre-tensão, nenhuma
intenção a mais nobre, a mais erudita, como se nobreza e erudição fossem feitas
e realizadas com palavras!, o que é risível com toda obviedade, é uma arte que
exige cultura, requer a emoção pre-cedendo o intelecto, este milha após a
razão, é uma espécie de profissão, de confissão, uma declaração verbal.
Com-preender
o verbo é com-preender a conquista do espaço e a fixação do tempo. Com-preender
o verbo é buscar des-vendar, des-velar os predicados dramáticos do sujeito.
Roteiro de avanços. Imagem de in-quietude. O verbo pode-se fazer carne. E deve
estar atrás de sua dramaticidade a explicação, a elucidação, o esclarecimento
do sujeito. A dramatização do verbo é o esforço do Ser para abranger todas as
suas potencialidades ec-sistenciais, vivenciais, construindo unidades
re-pres-{ent}-ativas de seu esforço, luta pela des-coberta e conquista do
tempo.
Esta
arte consiste em não se servir simplesmente da palavra certa, da imagem certa
para a palavra certa, da intuição certa para a verdade, percepção certa para a
liberdade, que não diz nada de novo; exige o emprego de uma metáfora... sendo
até necessário, que tem sim o prazer de dizer, afirmar, repetir que, não tendo
um caminho novo, a vida é feita de caminhar, e caminhar é sempre uma aposta de
pisar outros terrenos, outros solos, e isto pode até exercer influência para
uma dúvida atroz que surge, que se re-vela, de ainda não haver encontrado
nenhuma imagem, palavra certa para expressar uma ideia, uma intuição, uma
inspiração, um sentimento... Exige o emprego de uma metáfora, uma figura cujo
sentido seja claro, trans-parente, límpido e nítido, e cuja expressão seja
enérgica, a expressão de algo vivido e experienciado, uma con-templação.
Um
homem, no alvorecer de outro dia, dia novo, dia de novo tempo que começa, após
toda a noite esculpindo em pedra-sabão a imagem de um "deus pagão",
cansado, fisionomia intros-pectiva, lábios finos, respiração ofegante, descendo
em passos firmes e convictos uma escada, parando por um tempo de nada, com a
mão direita no corrimão, olhando a in-fin-itude do mar, gaivotas sobrevoando,
as serras de longe, ensimesmadas pela neblina, a mão avançando novamente,
seguindo o corrimão, instantes de alegria, esperança nos olhos castanhos...
esperança de quê? Quiçá do verbo fazendo-se carne? Sem o verbo nada é possível,
o "eu" é uma nuvem quimérica, uma ilusão de óptica. Numa outra
linguagem e estilo: a arte carece da filosofia, pois que esta re-vela,
manifesta, mostra o não-dito da arte.
Contudo,
uma imagem, uma simples visão, uma figura suave, delicada, sui generis
sensível, algo que mais intui que propriamente enxerga, consegue abalar profundamente
o seu mundo, mundo que tão solidamente sonhou e desejou, mundo que podia ser
sim construído, instituído com toda veemência, empáfia, embófia, salvo a alguns
olhares, um merecimento e um re-conhecimento. Estar aberto para todas as
oportunidades, todas as possibilidades, outras em de-corrência e consequência
aparecem, a-nunciam-se, re-velam-se, um caminho do campo, este só é a partir
das oportunidades e possibilidades reais, se se tornarem realidades, ótimo, se
não se tornarem possibilidades, aberturas para outras tantas realidades, a
perder de vista, enfim, ótimo, pode compreender bem o que dissera alguém no
horário de almoço no restaurante e churrascaria Espaço Livre, onde e quando
esteve tomando um Seager´s com limão e gelo, saboreando uma porção de filet de
peixe frito, observando o canteiro central da avenida e suas enormes palmeiras,
pre-criando a nova escultura, nada ouvindo das falas dos clientes: “Gente é
para brilhar”. Brilhar anonimamente quiçá seja o milagre supremo, divino, a
magia sui generis, pois que a coisa de egrégia responsabilidade e compromisso
está sendo feito, e realizado, não se necessita sistemas que re-conheçam o
brilho, as realizações estão se sucedendo sem quaisquer avais. Só não me cabe
dizê-lo, não sou adepto da arbitrariedade e gratuidade "a hipocrisia em
quaisquer deles rola à solta", o resto fica dito sem única palavra e os
verbos rasgados agindo de vento em popa. Perquiria isto, observando os clientes
de soslaio, "ser de rebanhos", que coisa mais insignificante, nonsense
perfeito. Perquiria. Ali sozinho numa mesa na calçada, mais afastada dos
balbucios altissonantes."Se digo, e todos me olham de olhos faiscando, dar
confiança às multidões e rebanhos só se perde, e não há como resgatar e
recuperar o perdido, o melhor é não dar atenção a ninguém, só se tem a ganhar,
a fortuna é inevitável." Não haveria como não cair na gargalhada, fi-lo e
com todos os orgulhos à flor da pele, olharam-me surpresos.
A
norma do dia, a paixão pela noite. A norma do dia põe em ordem a realidade
humana; exige claridade, consequência, fidelidade; sujeita à razão e à idéia,
ao Uno e ao homem mesmo; realizar no mundo, edificar no tempo, con-templar a
realidade humana numa vida infinda.
Reconhecer-se
na arte a si mesmo. Reconhecer na arte o Uno e o Verso de si mesmo. Reconhecer
na arte suas atitudes e ações. Esculpir-se.
Sente
aquela beleza com a revelação de insuspeitáveis potências em seu interior, o
despertar de inimagináveis energias. Chamar este sentimento de visão seria
malreconhecer as visões de que é cheio o mundo, e vazio. Crê que só agora está
com-preendendo muito próximo isto de a vida ser mágica, de ser um fulgor e uma
chama acesa continuamente, acontece num passo, até des-aparece num traço mal
feito, sem qualquer entrega e doação, mas para des-aparecer teria sido
necessário que acontecesse, e se não pôde com um ótimo traço esculpir todas as
suas realidades e possibilidades, isto é lá consigo que não teve a mínima
consideração por este momento, sugeriu-lhe fosse uma fantasia, uma quimera, uma
inspiração para outra peça de escultura, fruto único de uma imaginação fértil.
Mundo
que escondido numa noite escura se mostra sob um raio de luz.
(**RIO
DE JANEIRO**, 25 DE MAIO DE 2018)
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