#AFORISMO 803/ O SUDÁRIO E O AMOR# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sudário de prospectivas cobrindo puras ausências, no rosto o que é chama
subtil de achas crepitando no fogão a lenha, o mais é inclinação de meros
enganos, indeciso traço que se ensombra e vai voar suavíssima no sono, ópera
wagneriana, Vênus recostada num divã, sereias reclinadas e ninfas dançando, sob
uma luz rósea.
Pescar o Amor
Verseja o verso de versejar o sublime
Amor
Trans-literaliza a trans-literação de trans-literalizar
O eterno da magia mística do ser.
Amor
Poematiza a poematização de poematizar
A linguística da entrega e a semântica da esperança
Amor
Metaforiza a metáfora de metaforizar
O espírito do desejo seduzindo a alma do verbo de ser
Plen-itude, compl-etude, etern-itude
Amor
Silencia o silêncio de silenciar
A palavra-poesia no vernáculo íntimo da verdade.
Amor
Sin-estesia a ex-tase das volúpias do eros e do lúdico
Pescar o Amor
Semantiza a semântica de semantizar
O ser e a palavra do verbo amar
Amor
Semiologiza a semiologia de semiologizar
O infinito da verdade e o sonho do divino
Amor
Plen-ifica a plen-itude de plen-izar
A beleza do belo e a cintilância do sublime...
Manto de retrospectivas de mágoas que exalo, perfume que me unge, flor
que acaricio e por ela sou acariciado. Na queixa, dissolvido, diluído, e
tornado incenso, halo... tapete onde passeio, querendo a anunciação de um luz
de entendimento e compreensão, caminhos árduos, complexos sim, não há duvidar,
existo por contra própria, seria até uma interpelação interessante, eis a
questão: existir por contra própria ou não existir por conta própria?, ouço os
sinos da noite, vejo os funerais...
Pescar o Amor
Sonetiza a fonética de fonetizar
Os sons rítmicos e melodiosos da felicidade
Amor
In-fin-itiva o in-finito de in-fin-itivar
A travessia in-trans-itiva do além ao eterno
Amor
Gerundia o gerúndio de gerundiar
A reflexão das regências do tempo e dos ventos
Perscrutando os caracteres da virtude
Amor
Sublimiza a sublimidade de sublimar
A verdade da fé no eterno dos desejos de compl-etude
Amor
Ritma o ritmo de ritmar
A música das emoções e o cântico da solidão
Amor
Musicaliza a música de musicalizar
Os sons da harpa do uni-versal
Os sons da cítara do mundano
Os sons do violino da travessia do contingente ao trans-cendente...
Acoberto-me nos meus poderes, guardo-lhes consciência, voo sem quais
mistificações, sou um corpo voante e conservo ampulheta, relógios, carnes e
unhas ligadas à terra pela memória, se deste desvaneio e desvario, um instante
de descanso, posso sentir calor, entusiasmo de síncopes e sonos, e tudo é liso,
a poeira profusa salta, salvo a imagem do meu rosto refletida no vidro da sala
de jantar, curvada a cabeça, impossível ouvir as vozes todas que se a-nunciam,
todas as vozes ouvidas no momento solitário, e tudo imóvel.
(**RIO DE JANEIRO**, 31 DE MAIO DE 2018)
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