#AFORISMO 785/ A ARTE DE ESCULPIR PALAVRAS** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Leve...
Muito leve... Insustentável leveza..
.
Breve...
Muito breve... In-audita brevidade...
Mínima...
Muito mínima... In-dizível extensão...
Verdades
que libertam, abrem asas e alçam vôos a horizontes onde o há-de vir se a-nuncia
pleno de pers-pectivas de re-fazendas, re-crocheteios, amplo de pro-jectos de
re-construções, re-crocheteamentos, aberturas para o outro de ser, ser-outro de
con-tingências e trans-cendências, de sensibilidade e esperanças do ab-soluto.
Tomado
pela vertigem do próprio vazio, individual e íntimo, vertente do nada adjacente
aos recônditos da alma, agarra-se aos mais in-expressivos sinais de
id-[ent]-idade.
Esta
expressão, **HOMEM DE ESPÍRITO**, não a-nuncia nenhuma pre-tensão, nenhuma
intenção a mais nobre, a mais erudita, como se nobreza e erudição fossem feitas
e realizadas com palavras!, o que é risível com toda obviedade, é uma arte que
exige cultura, requer a emoção pre-cedendo o intelecto, este milha após a
razão, é uma espécie de profissão, de confissão, uma declaração verbal.
Com-preender
o verbo é com-preender a conquista do espaço e a fixação do tempo. Com-preender
o verbo é buscar des-vendar, des-velar os predicados dramáticos do sujeito.
Roteiro de avanços. Imagem de in-quietude. O verbo pode-se fazer carne. E deve
estar atrás de sua dramaticidade a explicação, a elucidação, o esclarecimento
do sujeito. A dramatização do verbo é o esforço do Ser para abranger todas as
suas potencialidades ec-sistenciais, vivenciais, construindo unidades
re-pres-{ent}-ativas de seu esforço, luta pela des-coberta e conquista do
tempo.
Esta
arte consiste em não se servir simplesmente da palavra certa, da imagem certa
para a palavra certa, da intuição certa para a verdade, percepção certa para a
liberdade, que não diz nada de novo; exige o emprego de uma metáfora... sendo
até necessário, que tem sim o prazer de dizer, afirmar, repetir que, não tendo
um caminho novo, a vida é feita de caminhar, e caminhar é sempre uma aposta de
pisar outros terrenos, outros solos, e isto pode até exercer influência para
uma dúvida atroz que surge, que se re-vela, de ainda não haver encontrado
nenhuma imagem, palavra certa para expressar uma ideia, uma intuição, uma
inspiração, um sentimento... Exige o emprego de uma metáfora, uma figura cujo
sentido seja claro, trans-parente, límpido e nítido, e cuja expressão seja
enérgica, a expressão de algo vivido e experienciado, uma con-templação.
Um
homem, no alvorecer de outro dia, dia novo, dia de novo tempo que começa, após
toda a noite esculpindo em pedra-sabão a imagem de um "deus pagão",
cansado, fisionomia intros-pectiva, lábios finos, respiração ofegante, descendo
em passos firmes e convictos uma escada, parando por um tempo de nada, com a
mão direita no corrimão, olhando a in-fin-itude do mar, gaivotas sobrevoando,
as serras de longe, ensimesmadas pela neblina, a mão avançando novamente,
seguindo o corrimão, instantes de alegria, esperança nos olhos castanhos...
esperança de quê? Quiçá do verbo fazendo-se carne? Sem o verbo nada é possível,
o "eu" é uma nuvem quimérica, uma ilusão de óptica. Numa outra
linguagem e estilo: a arte carece da filosofia, pois que esta re-vela,
manifesta, mostra o não-dito da arte.
Contudo,
uma imagem, uma simples visão, uma figura suave, delicada, sui generis
sensível, algo que mais intui que propriamente enxerga, consegue abalar
profundamente o seu mundo, mundo que tão solidamente sonhou e desejou, mundo
que podia ser sim construído, instituído com toda veemência, empáfia, embófia,
salvo a alguns olhares, um merecimento e um re-conhecimento. Estar aberto para
todas as oportunidades, todas as possibilidades, outras em de-corrência e
consequência aparecem, a-nunciam-se, re-velam-se, um caminho do campo, este só
é a partir das oportunidades e possibilidades reais, se se tornarem realidades,
ótimo, se não se tornarem possibilidades, aberturas para outras tantas
realidades, a perder de vista, enfim, ótimo, pode compreender bem o que dissera
alguém no horário de almoço no restaurante e churrascaria Espaço Livre, onde e
quando esteve tomando um Seager´s com limão e gelo, saboreando uma porção de
filet de peixe frito, observando o canteiro central da avenida e suas enormes
palmeiras, pre-criando a nova escultura, nada ouvindo das falas dos clientes:
“Gente é para brilhar”. Brilhar anonimamente quiçá seja o milagre supremo,
divino, a magia sui generis, pois que a coisa de egrégia responsabilidade e
compromisso está sendo feito, e realizado, não se necessita sistemas que
re-conheçam o brilho, as realizações estão se sucedendo sem quaisquer avais. Só
não me cabe dizê-lo, não sou adepto da arbitrariedade e gratuidade "a
hipocrisia em quaisquer deles rola à solta", o resto fica dito sem única
palavra e os verbos rasgados agindo de vento em popa. Perquiria isto,
observando os clientes de soslaio, "ser de rebanhos", que coisa mais
insignificante, nonsense perfeito. Perquiria. Ali sozinho numa mesa na calçada,
mais afastada dos balbucios altissonantes."Se digo, e todos me olham de
olhos faiscando, dar confiança às multidões e rebanhos só se perde, e não há
como resgatar e recuperar o perdido, o melhor é não dar atenção a ninguém, só
se tem a ganhar, a fortuna é inevitável." Não haveria como não cair na
gargalhada, fi-lo e com todos os orgulhos à flor da pele, olharam-me surpresos.
A
norma do dia, a paixão pela noite. A norma do dia põe em ordem a realidade
humana; exige claridade, consequência, fidelidade; sujeita à razão e à idéia,
ao Uno e ao homem mesmo; realizar no mundo, edificar no tempo, con-templar a
realidade humana numa vida infinda.
Reconhecer-se
na arte a si mesmo. Reconhecer na arte o Uno e o Verso de si mesmo. Reconhecer
na arte suas atitudes e ações. Esculpir-se.
Sente
aquela beleza com a revelação de insuspeitáveis potências em seu interior, o
despertar de inimagináveis energias. Chamar este sentimento de visão seria
malreconhecer as visões de que é cheio o mundo, e vazio. Crê que só agora está
com-preendendo muito próximo isto de a vida ser mágica, de ser um fulgor e uma
chama acesa continuamente, acontece num passo, até des-aparece num traço mal
feito, sem qualquer entrega e doação, mas para des-aparecer teria sido
necessário que acontecesse, e se não pôde com um ótimo traço esculpir todas as
suas realidades e possibilidades, isto é lá consigo que não teve a mínima
consideração por este momento, sugeriu-lhe fosse uma fantasia, uma quimera, uma
inspiração para outra peça de escultura, fruto único de uma imaginação fértil.
Mundo
que escondido numa noite escura se mostra sob um raio de luz.
(**RIO
DE JANEIRO**, 25 DE MAIO DE 2018)
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