#AFORISMO 800/ NOSTALGIAS E MELANCOLIAS DA VIGÍLIA INSONE#- GRAÇA FONTIS: PINTURA/ ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Assim
o deus Sêmio sussurrou nos ouvidos do guru Fesmone no sono de verbos de sonho,
Fesmone discursando no Coreto da Pracinha da Matriz de Santo Agostinho,
introspectivo e tenso por querer se comunicar com verbos defectivos a
regenciarem os tempos in-finitivos.
Ao
despertar, o guru Fesmone pôs-se de imediato a registrar na sua agenda o que
ele sonhara, recriando os inter-ditos do sonho, dando-lhes imagens e
perspectivas, que ele simplesmente dissera antes de começar a escrever:
"Noutras dimensões do sonho de ressonar os mistérios e as luzes..."
"Não levo em
mira recompensa, cedo-me às carnes do ócio. Não projeto troco de dois e
trezentos aos vinte mil réis com que paguei o meu voo pelos mares, florestas e
rios da vida. Levando-me à solidão, onde falarei ao coração? A solidão responde
aos compromissos, tece desculpas. O silêncio estende as dimensões reflexivas
aos horizontes do amor e desejos de felicidade. Compreendo ou me persuado
maduro estou para linguagem nova. Entendo ou me convenço livre estou para me
entregar inteiro ao universo de outros estilos de trilhar os caminhos do campo.
Caminhos
do campo...
Silêncio...
Coros de rua,
No
vai-e-vem de movimento
Que
per-vaga o mar
Que
não existe
Gemido
se faz ouvir,
Soturno
e diurno,
Pura
exalação opressa de tenura
Metafísicas
de meiguices insolentes do inferno
Comungadas
às sorrelfas de idílios compactos
Metalinguísticas
da floresta que bebe o rio
Aderidas
à terceira margem das águas que bebem a fonte originária,
Meta-semânticas
do sonho do verbo amar,Conciliadas ao rio que bebe a floresta
Onde
a lua ilumina a dança, a roda, a festa
Metafisicas
da estética do eterno
Em
sin-thesis com o efêmero que o tempo consolida
E
os ventos sopram as esperanças do in-finito,
Metafísicas
do deserto e das noites de trevas nos bosques,
A
mão escondida debaixo das cobertas espalha toques, seu
Escuro
rastro
Metafísicas
da sombra prosseguindo devagar, devagarzinho
A
viagem patética através do matagal perdido,
Da
sombra severa que se desprende
Sem
fuga e nem reação,
Quiçá
falte-lhe o verbo do nada.
Se
estou perdido antes de haver sido concebido, gerado, dado o nascimento, e me
nasci voltado à perda, sendo-lhe sombra, de frutos que não tenho nem colhia? A
alma barroca tenta confortar-se, mas só vislumbra a neve noutra neve, orvalho
noutro orvalho. Sinto mais presente quanto aspiro o fumo antigo, à soleira da
cerca de arame, portão de mola, uma tora de madeira, o fumo e os pensamentos:
como ao que vai morrer, fenecer se estende a vista de espaços luminosos,
intocáveis?
Na
manhã de luzes e pré-núncios, a-núncios em imagens brancas de nuvens, em
reflexos de níveas trans-parências, à luz dos raios de sol, desenhando miríades
emolduradas de sonhos e quimeras, saudar o místico momento da fresta no
horizonte imortal e divino da lua na noite calada, louvar o mítico milésimo de
segundo da nesga do sentimento de ausência no coração, quiçá glorificar a
frincha do além no panorama in-finito das estrelas no silêncio da madrugada.
Silêncio...
Outra
mão há-de ser pura, transparente
Pousar
sobre um de meus ombros
Silêncio...
Suspiro.
Voo de pássaro?
Nada
digo. Nada sussurro, cochicho.
Silêncio...
Perscruto
as sombras que me circundam,
Surpresa,
medo, empolgação poética...
Minas
inspira liberdade áurea nas
Gerais
tradições...
Infinito
do uni-verso numinado de “harmonia de cores”, sin-cronia de traços a pincelarem
imagens geminadas, sin-fonia de pers-pectivas a res-plandecerem de beleza as
sendas perdidas, signos de esplendor e eterno nos liames do espírito, desde o
sentir do sono, do êxtase, desde o sonho ao sono, instante de sedução, brilho
das estrelas e da lua, “pedras sagradas”, cristais, diamantes e ouro que rimam
palavras sutis com o éden de luzes e lilases, inspiradas na rede que balança
nas gerais “utopias cristãs”.
“A
sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano, o elo de todas as
coisas, élan de todas as manifestações mundanas e contingenciais, flores são
espetáculos da natureza, liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho,
“instante de sedução”, efêmeros gozos de eterno po-ematizados, querer brincar
com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a luz do
luar, lavrar o corpo no grito, na fímbria azul do mar suspender um instante,
milésimo de segundo, átimo de milésimos de minutos.
Signo
de metáforas nascidas de vigília e palavras a pincelarem imagens do imortal e
divino a preencherem os vazios da falta de ser, “manque-d´être”, da ausência de
alegria e prazeres, pedras sagradas, diamantes profanos que rimam palavras
sutis, que ritmam dores são sentimentos de luz inspirados no brilho das
estrelas e da lua mineiras, cristais heréticos que trocam dedos de prosa na
esquina da luz e da treva. Simples, tão simples assim ser mineiro: seguir à
risca os valores e virtudes tradicionais, mas "mineiro-ser" é
re-criar as tradições, dogmas, preceitos, criar ideias e ideais da liberdade
inda que tardia, devagar, devagarzinho se chega lá... e o bicho preguiça
continua a sua eterna travessia de um lado para outro da estrada de
cascalhos...
Sou
feliz por me esquecer das horas TODAS!...
Busco
ritmo de árias antigas. Desejo a melodia de harpas à luz da cintilância das
estrelas, ao brilho intenso da lua - quem sabe não me inspire para o alvorecer
de outros idílios do efêmero, novas fantasias do amor, nova consciência da
liberdade! Só me recorda o modo demasiado imperfeito, o estilo sobremodo
irregular. A fim de me não entristecer, interrompo-me. A fim de não vagar pelas
sendas e veredas do campo à busca do silvestre das margens do rio que desliza
lento rumo aos cócitos do além. Intenciono resgatar-me nos caminhos do rio sem
margens, pressa, ser-me inteiro. Intenciono re-colher e a-colher a terceira
margem, segui-la, simples assim.
O
desejo de amor inter-penetra a lembrança do labirinto cujo estranho e patético
rumor chega através do êxtase, permanece à mercê da volúpia da travessia das
nonadas do instante às arribas do eterno, aos auspícios dos verbos do efêmero.
Esquecimento do abismo cujas estranhas vozes e sussurros chegam-me aos ouvidos.
Busco transmiti-lo, desejando-lhes amenizar a dor no aconchego de luzes
incandescentes, acompanhadas de sombras.
Ouvir
o sussurro que fere as cordas sarcásticas... Balbuciar o murmúrio que dedilha
as notas irônicas da esperança. Por que não o faria? Toda a vida me entrego em
mãos. As palavras, voz dócil e meiga! O corpo são saudades da vertigem do
despertar. O olhar são as nostalgias e melancolias da vigília. Ouvidos dão
passagem aos ritmos presentes que são outros.
Dou
corda aos sentimentos de felicidade de me esquecer das horas TODAS. Compreendo
por que rios estou a navegar, que barco estou a remar. Dizem que quem navega
por ali e acolá jamais chega a porto seguro, vaga pelo infinito das águas.
Correspondência anterior e interior: tesouros dos campos, luz nas trevas".
(**RIO
DE JANEIRO**, 30 DE MAIO DE 2018)
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