#AFORISMO 791/ E O SILÊNCIO BEBIA INTER-DITOS E MISTÉRIOS DO VENTO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Homem, ouvi o que quer ouvir e desconsiderai o resto!:
E a floresta bebia o rio.
E eu-rio por água abaixo,
Por água abaixo eu-rio, rio-eu.
Águas abaixo riem deste espetáculo fantasioso de eu-rir.
Sério, circunspecto, introspectivo.
O rio Paraúna escorrendo sabedoria.
E o silêncio bebia inter-ditos e mistérios do vento.
Rir é estar aí, é viver e viver é ec-sistir no eu, ec-sistir no eu é
pro-jectar os sonhos e utopias do ser, compor na alma o prelúdio da ópera do
silêncio a embriagar-se de êxtase e volúpias, preâmbulo do verbo a embeber-se
de erosias e heresias que febundam as ad-jacências dos instintos que atravessam
o mundo todo sem jamais receber abrigo de quem quer que seja, quem sabe por
algum castigo dos deuses por negligenciarem a razão, por animalizarem a raça
humana.
Raízes de ritmos e melodias da música do tempo.
Águas de março fechando o verão.
Águas de maio abrindo o inverno.
Águas de agosto pre-nunciando a primavera.
E o silêncio bebia inter-ditos e mistérios do vento.
Quando no alvorecer os raios de luz mergulham nas frinchas das folhas
das galhas, numinando a floresta, a floresta por todo o sempre bebendo o rio, a
solidão e o silêncio bebendo do in-finito as in-fin-itudes da sabedoria do ser
e do verbo...
Quem sabe houvesse possibilidade de algo, em princípio ininteligível,
tomado de inspiração e intuição, e deste modo, neste estilo sem sujeito,
abordar alguma utopia que foge à capacidade da razão e do intelecto
interpretarem?!... Fosse necessária leitura atenta e minuciosa, deixando o
espírito livre. Não saberia a isto responder. Só seria possível estabelecer, se
contemplasse a linguagem sem pressa.
Homem, ouvi o que quer e desconsiderai o resto!...
Indicação com os ideais do tempo e esses ideais, existe sempre, mesmo
sob as mais sórdidas aparências de decomposição. Curiosidade, desejo de
mergulhar na alma humana, sabê-la. Vontade de conhecer o homem por inteiro.
Apetite sempre re-novado em face das coisas do mundo. Nunca é demais ter medo
da própria sombra. O ser se faz continuamente. Essências que re-velam a
perquirição metafísica interessada em desvendar os mistérios de um possível
real, enigmas do inter-dito, in-audito da consciência, aparências da sabedoria.
E o silêncio bebia inter-ditos e mistérios do vento.
Respingos da chuva deslizando na vidraça da janela, silêncio da solidão,
e a solidão bebia éritos volos da boêmia nostálgica, melancolias boêmias, as
velhas canções dizem muito, emoções e sentimentos longínquos aquecem o desejo
do há-de vir, há-de ser, a vontade da claridade do ser a que se aspira tanto,
aquecem e ascendem as imagens do panorama do in-finito, o silêncio bebia
inter-ditos e mistérios do vento, pois que o silêncio se aquece com o vento a
perpassar suas linguísticas e semiologias, suas semânticas do proscênio da
eternidade de onde o panorama é o da beleza que já nasce póstuma, póstera,
concebida com a presença do som das águas do mar batendo nas docas, as ondas
espraiando-se, gerada com a claridade dos sonhos; ONDE O INVERNO NÃO SANGRA a
solidão, bebia éritos volos da boêmia nostálgica e o silêncio se aquecia com o
vento a perpassar-lhe as linguísticas e metafísicas do picadeiro do além de
onde a paisagem do belo é o re-nascer a todo instante de suas vaidades, e o rio
bebia a floresta e a floresta bebia o rio...
E o silêncio bebia inter-ditos e mistérios do vento.
Esqueceu-me declarar, proferir? Esqueci-me de declarar, proferir? Qual
das duas perquirições seria melhor para proferir que, enquanto o silêncio bebia
inter-ditos e mistérios do vento, pensava com o pensamento de pensar que o
esquecimento não é só uma vis inertiae, como creem os superficiais, antes é um
poder ativo, uma faculdade moderadora, seria que devêssemos atribuir-lhe tudo
quanto acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta à consciência
durante o estado de "digestão".
As estrelas que cintilavam no espaço ainda cintilam,
o espetáculo que seduzia as vaidades ainda seduz
e a película do vento levou que bolinava a sensibilidade,
a inteligência a re-fletir as coisas que o vento leva,
ainda bolina,
e a história que não acaba mais ainda continua inacabada
ressoando nos interstícios da alma, ecoando nos
recônditos das dúvidas,
incertezas, sombras, o sonho da claridade dos verbos de ser.
E são portas, chave, se o lugar adorna
o ser que nele se encontra,
este por sua vez atribui ao lugar em que se encontra alguma
coisa de sua própria sensibilidade, individualidade.
Trazendo o mundo para dentro de casa,
tantos sonhos, tantos ideais, tantas
intempéries, tantas desgraças,
ouvir-lhe a voz palavreando sentimentos,
dores, e a lembrança dos diá-logos, monólogos,
questionamentos passa a ser lembrança do mundo,
de um mundo específico num certo tempo e espaço,
nuns sibilos de ventos ad-vindos do abismo.
O que está oculto é mistério, enigma.
Haverá quaisquer dúvidas de, nesta imagem, vozes estarem sedentas de
ouvidos, de inteligências a traduzirem intuições e esperanças?
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE MAIO DE 2018)
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