IPSIS LITTERIS - GRAÇA FONTIS: TEXTO
Naquele dia, solo de calor extremado, inusitado de inverno que se viu na
gosma do que, aos poucos, escureceu, sentiu medo no coração espaçado,
apaziguou-se com um grande ranger, borrifando-lhe intencionada certeza -
"Não, não voltarei". Assim, embrulhando os acontecimentos na palidez
do rosto desconhecido, como um fio a partir-se na tensão do breve gesto partiu
no mesmo silêncio regulador da sua sobrevivência na manhã triturada do
assoberbado, no mundo faiscante, sombrio de indecisas sombras ruidosas, no chão
partido pelas coisas passadas da vida.
A mente crispada à aproximação de pretéritas verdades plantando no rosto
horror inexpressível e um gélido asco de indiferença ao meio sono, ardência dos
olhos nas últimas brisas na boca da noite. Transpassou ele seu inferno latente,
recolhendo-se na floresta interna, ao ermo, também no fogo que em si abrigava,
incendiando o vale da solidão.
Na vida apaziguada na compreensão, com olhar de prazer um caminhar de
humor, dando ênfase à dança melancólica sem falas soberbas da mentira, mais
certo de que mentes não gravadas são mentes esclerosadas, então escreveria,
escreveria para que não caíssem seus pensamentos no esquecimento, mas sim que
fizessem a diferença através de outras palavras, rindo dos homens que em nada
acreditam, muito menos das coisas misteriosas e verdadeiras neste mundo
ilusório só seu.
Integrados aos olhos calientes e francos lábios interrogativos, leitores
das próprias inexperiências morais e práticas às deleitosas e sublimes
intuições incorporadas de odores e intimidades das coisas que o cercam, foi
pisoteando estrada a fora folgadamente, sobrepondo pedras, padecendo sublimadas
saudades e subjugado a um interesse especial, ativo e recente, no mais fundo,
profundo pensar... "que as letras não são uma ilusão; são reais ao
extraí-las do simples colorido a banharem interdições da alma, saciada das
contingências do dia a dia, resplendem imagens aquém, além e inauditas dos
momentos mais sensíveis de contemplação. Já o estalar de meus ossos nesta longa
jornada confirmam confidenciando no meu particular o que sou, como sou, neste
misto de querências utópicas e devaneicas, quiçá viáveis às palavras aludidas,
murmúrios, sons de mistérios adentrados, vindas de um outro, fantasma do
próprio tempo, ditando-me novo destino através do opaco véu expectivador do meu
futuro."
Aquando na noite, entre os que dormem, e os poucos da madrugada que não
dormem, há um eco de passos descompassados na rua dos solitários, e um vento de
procela revelador da inquietude da alma cansada; já conturbado reflete
"idealistas não gostam de solitários! da vida e noites frustradas, o
ímpeto da transformação, resoluta desfiguração das contristadas escolhas
seguiria no seu implacável caminhar pelos labirintos futurais, desenhando com
precisão a rota imaginada, maturada com aspecto de sobrevinda felicidade.
Néscio aventureiro gritam-lhe dentro necessidades. Torrentes de amor jorram em
abundância para a nascente e poente. Também a precipitação das palavras
pertencentes àquela solidão, são torrentes em direção ao mar, onde haja o
encontro da serenidade ornamentando as bordas dos inauditos pós voo sobre
montes e planícies, peregrinação reverberada do extremo sol tendo abaixo
absurdo silêncio diante dos homens. na mala dos poucos bens, o maior de todos a
esperança numa consolação nos olhos fascinados, voluptuosos aos porvires a
desbravarem na gravidade do novo tempo em que a dor bastarda sem sonhos já
cedia; também indiferenças e prazeres efêmeros esvaeceram-se aos poucos por
conta do domínio da grande lua sobre a escuridão, iluminando seus sonhos sem o
cobertor da ilusão. Há um breve silêncio, luzes como olhos em lágrimas,
espectros das sombras diluem-se com o afastar-se do tripúdio cada vez mais que
lhe calejou a vergonha, num átimo sereno de promessas de mais belas estações.
Então, numa contínua automática pelos meandros dentre as esquinas da vida de
encontro ao fluxo do mundo com passos claudicantes e extraordinário esforço um
querer de juventude cultural. Por quanto a multidão? Apenas a absoluta ausência
do outro tragado pelo ar. Sim, recomeçar... por onde? Despedaçando em si mesmo
a resistência entorpecida para conservar seu poder cognoscível, sua liberdade e
dignidade são razões de volta a casa.
(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE MAIO DE 2018)
Comentários
Postar um comentário