#AFORISMO 794/ AFORISMO DO SONHO** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Quando
sonho com a água límpida não sei com que
límpida água sonho. Sei que sonho. É de
ouro e de riso que ela se veste.
No
meu jardim havia flores de todas as belezas... Rosas de contornos enrolados,
lírios de um branco amarelecendo-se, papoulas que seriam ocultas, se o seu
rubro não lhes não espreitasse presença, violetas poucas na margem tufada dos
canteiros miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados por
cima de ervas altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-me grandemente.
Quando
sonho com as etern-itudes in-versas do sonho, sei que é sonho dentro de outro
sonho. É de efêmeros e de nada que eles alçam voo.
Série de sonhos, busca de esperanças,
querências do ser, abismos de silêncio, grutas de solidão, quiçá os horizontes
de além entre-lacem as estrelas cintilantes, brilho da lua, re-vel-ando o
esplendor estético das éresis do tempo, quiça os uni-versos do vazio des-velem
os mistérios inauditos da alma, enigmas indevassáveis do não-ser, éter do nada,
éter de nonadas, travessias, passagens, ocasos de luzes res-plandecendo o
crepúsculo, miríades de raios numinando o anoitecer, anoitecer de idílios, anoitecer
de esperanças, pretéritos subjuntivos acendendo na lareira de defectivos
gerúndios a memória do genesis.
Quando
sonho com os verbos, regencio os seus tempos e concordo as contingências
quotidianas, as acepções outras que adquirem.
Quiçá
os versos sejam ininteligíveis, nada apresentem de significações, letras
escritas a esmo, enfim a inspiração refestela-se na rede da varanda na
tranquilidade, serenidade, suavidade da noite plenifica de estrelas, boêmios
seresteiros deixaram a viola no canto do quarto, encostada à parede, são
andarilhos do tempo-nada, são sendeiros do tempo-vazio, são vagabundos do
tempo-melancolia.
O
meu sonho de viver ia adiante de mim, alado, e eu tinha para ele um sorriso
igual e alheio, combinado nas almas sem me olhar. A minha vida era toda a
vida... O meu amor era o perfume do amor... Vivia horas impossíveis, cheias de
ser eu... E isto porque sabia, com toda a carne da minha carne, que não era uma
realidade...
Palavras retrógradas configurando metáforas,
zagaias de outrora, zagaias do inolvidável - sentidos do nada que me perpassam
o âmago recôndito, pleno interstício do ser, abóboda do perene símbolo do que
efemeriza as esperanças do sonho no sono notívago das angústias, tristezas.
Quando
sonho com os verbos do sono, infinitivo ou gerundio as orações ad-verbiais, sei
que no sonho deste dia senti presente e forte a cor-agem de construir o
imperfeito perfeito.
A
chuva cessaria, passadas algumas horas ou mesmo poucos dias, o sol voltaria,
seus raios secariam as plantas, as rosas murchariam, cairiam suas pétalas
secas.
Nada
dizem estes versos, nada expressam estas estrofes, nada significa este poema, o
nada de um poema é o não-ser da poesia, poema são estesias da poesia, poema são
êxtases da poiética do ser do espírito que sonha a contingência
do
vir-a-ser, a melancolia do efêmero, poema são clímaces das dores, sofrimentos
ec-sistenciais à luz da tristeza do ser que sobrevoa a floresta das memórias
pretéritas do caos, na dialética do efêmero habita solene o absoluto vazio do
não-ser, na dialética do eterno habita pomposo o divino sentimento dos
horizontes des-vencilhados, des-cartados, des-velados no deserto do silêncio,
no mar sombrio da solidão habita o espírito da felicidade re-versa às
trans-cendências da morte, à alma in-versa às contingências do ser-sublime,
a-nunciação, re-des-velação do ec-sistir.
Com
poesia, Vertente são águas límpidas, seguindo a trajetória da vida em busca do
Amor e da Verdade; com poesia, vertente é fonte de emoções serenas,
sensibilizando casais enamorados da orla; com poesia, vertente sacia o amor de
verbos, sonhando a plen-itude do espírito; com poesia, vertente são mãos
tecendo a beleza do verso, engendrando estrofes no soneto do Eterno; com
poesia, Vertente é...
Quando
sonho a Vertente do sonho, sei a vertente de meus idílios e devaneios, conheço
vertente de meus projectos e razões, sei a vertente de minha consciência...
(**RIO
DE JANEIRO**, 29 DE MAIO DE 2018)
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