**VAZIO DO NADA - VII PARTE** - Manoel Ferreira
Descer ao vazio do nada para subir à solidão do eu. eis o paradoxo da
espiritualidade.
Quem desce até seu presente do tempo, até sua própria realidade, até os
abismos do inconsciente, até o vazio de seu nada, até a escuridão de suas
sombras, até a impotência de seus próprios anseios, quem mergulha, entra em
contato com sua condição humana da dor no vazio do nada, este sim está subindo
para a Solidão, alcança a solidão verdadeira. Subir até a solidão do Eu, o Eu
da solidão, é a meta de todos os caminhos espirituais. A espiritualidade começa
na realidade da solidão do Eu, nas suas necessidades, nas suas feridas e
chagas, nos contratempos do dia-a-dia, e, fazendo-nos descer, ela nos leva a
subir para a busca perfeita do verbo do espírito.
O descer ao vazio do nada, ao inferno da alma, dores e sofrimentos
encontrando a Solidão do Eu e no subir ao In-finito, o Verbo do Espírito,
encontramos o eidos do descer e subir, de vivermos a con-tingência e a
transcendência na Solidão do Eu. O vazio está no coração, o inferno do nada
está na alma. Isto significa entrar em um estado de extrema humildade, de constante
metanóia, significa a mudança de nossa prisão no mundo, prisão nas
contingências da existência, o romper com o endeusamento do próprio eu,
mergulhar na Solidão do Eu.
A verdadeira solidão tem como um de seus elementos integrantes a
satisfação e incerteza, a alegria e dúvida, o contentamento e a insegurança que
nos vem, que advém do fato de estarmos frente a frente, em face de uma
possibilidade não realizada. Não é uma sangria desatada de possibilidades - e
sim uma humilde aceitação que nos estabiliza em presença de uma enorme
realidade, que num determinado sentido, já possuímos, e que, por outro lado, é
uma "possibilidade", um objeto de esperança.
Manoel Ferreira Neto
(*Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2016)
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