CRÍTICA LITERÁRIA DA AMIGA ROSA CÉU AO TEXTO //RE-VERSO VAZIO DA SOLIDÃO**//
Maravilhoso texto que expressa bem a solidão e o seu re-verso meu amigo
Manoel Ferreira Neto! Só quem vive ou viveu a solidão compreende cada
palavra...Cada frase escrita e sentida: Gostei muito. Um grande abraço
Rosa Rosa Céu
Solidão é a ausência do eu - quem a viveu, quem a vive. Mister é saber o
que o tempo nos roubou, o que nos roubamos de nós mesmos para colocarmos a
nossa liberdade em questão, isto é, a busca do "eu" de nós, o verbo
de nosso ser. Poetas e escritores que não mergulharem na solidão jamais
escreverão poesia, literatura, pois lhes faltam o ser, o verbo do ser. Um
grande abraço, Rosa Céu.
**RE-VERSO VAZIO DA SOLIDÃO**
Roubaram de mim o echo de vozes que ouvia em silêncio, sentindo em mim
dentro os sons do sublime. Roubaram de mim o absoluto que me legava as
dimensões da verdade, em cujos eidos re-colhia e a-colhia a visão nítida e
trans-parente do vir-a-ser de conquistas, realizações e glórias. Roubaram de
mim o eterno nos interstícios de que vislumbrava, con-templava a perfeição solene
da vida, vida de felicidades e alegrias incólumes. Roubaram de mim o éden de
prazeres, êxtases, onde refestelava-me à sombra de árvore frondosa, as águas
cristalinas passando leves e serenas, con-templando maravilhoso
panorama,esplendida paisagem, a beleza em sua pureza e simplicidade.
Roubaram de mim o verso que embelezava as letras com os sons silenciosos
do espírito, com o sibilo solitário da alma, de cuja inspiração retirava o
eidos das metáforas dos desejos e vontades, das esperanças e sonhos. Roubaram
de mim a metafísica do ser, em cujo cerne dava asas à plen-itude da
etern-idade, do perpétuo, deixando-me a leveza do ser.
Vazio, tive de criar o verbo para eivar o desejo de buscas, mas
arranquei de dentro o efêmero de todas as coisas, seus modos e tempos acontecem
num átimo de segundo, e nasce o nada em cujo "érito" se localiza,
habita o vir-a-ser do outro, se o outro se faz na continuidade dos efêmeros e
nada, os efêmeros e nada se fazem na continuidade dialética do tempo e do
verbo.
Angústias, tristezas, náuseas, melancolias, nostalgias, saudades, passo
a passo encontros e des-encontros, passo a passo medo e coragem, passo a passo
inspiração e sentimento frígido, emoção impotente, passo a passo o amor e a
ausência do espírito supremo da vida, passo a passo a con-tingência e a morte,
passo a passo o tempo e o vento, passo a passo a dialética do efêmero e do
nada.
Roubaram de mim... Leguei-me, doei-me a duras penas o re-verso vazio da
solidão que peregrina no deserto rumo à montanha de orquídeas e cactus, sabendo
de antemão às revezes que se a-nuncia e en-vela-se a cada vintém de léguas, mas
a esperança do encontro cria a verdade do ser, o sonho do ser cria o verbo da
conquista e glória, a fé cria o divino.
Em verdade, em verdade, a vida são itinerários por alamedas, becos,
estradas, caminhos da roça, terrenos baldios em direção ao nada que coloca nas
mãos feitas concha a bússola de outras trilhas junto com a ampulheta em cujo
interior passam os grãos de areia re-velando a fin-itude do estar-no-mundo, do
ser-com as coisas, objetos e homens.
Tem dias que a gente se sente como quem encontrou o tesouro na caverna,
o pote de ouro no fim do arco-íris, a eternidade no nada, e a gente pensa haver
tornado nítida e trans-parente a luz no caminho de trevas, mas em verdade a
gente eiva de cor-agem os verbos da esperança, de colocar a liberdade em
questão, seguir a floresta de sendas e veredas do mistério e iluminação, a
estrada de poeiras e in-verdades do pó, por vezes orando nos templos de fé,
igrejas de dogmas e preceitos.
Manoel Ferreira Neto.
(06 de outubro de 2016)
Comentários
Postar um comentário