**OS TEMPOS MUDARAM** - Manoel Ferreira


Os tempos mudaram
In-fin-itivos horizontes, uni-versos patenteiam inters-tícios
Verbos do vento que são grãos de areia sarapalhados sobre
As montanhas místicas banhadas pelas águas salgadas do mar
vUni-versais nonadas, travessias consumam volos e ex-tases
De sonhos sonhados além das pedras espalhadas nas alamedas,
Além de metafísicas poeiras que ensimesmam o que precede
A distância percorrida em direção às iríases do eterno e infinito
Forte chuva está caindo,
Além de psicanálises da solidão que tripudiam com os medos da Verdade íntima, com as fugas e mauvaises-foi das dores e sofrimentos, ipseidades e facticidades
Molhando vales, florestas, pampas, chapadões
Lavando caminhos, sendas, veredas, estradas
Nas tabernas, boêmios dedilham as cordas do violão,
Nos botequins, poetas declamam seus versos e estrofes
Outra noite, outra madrugada de sentimentos e emoções...
Os tempos mudaram
O nada e o vazio, mesmo conservando suas id-ent-idades,
Comungaram-se, aderiram-se, conciliaram-se
Na jornada rumo ao espaço poético das arribas, dos confins,
Ao longo da viagem, re-colhendo e a-colhendo das paisagens
Cujas imagens são húmus do Verbo e do Ser, a esperança
Do perpétuo, evolando as dialéticas da con-tingência,
Trans-cendência, volando éresis e iríases de luzes de verdades
a-nunciando-se longínquas, a casa-do-ser sempre em questão
Raios de sol incandescentes refletem-se por todo mundo,
Por toda terra,
Numinando a mente, a consciência, tudo perfeitamente
Nítido, límpido, trans-parente,
Usei preocupar-me com as sombras que os raios produziam
Mas os tempos mudaram,
Sombras são as lídimas companheiras da solidão
Senhora à minha frente ensaca as suas compras no supermercado,
Sorrindo, faiscando os olhos,
Tantas trilhas percorridas,
Ainda não é noite,
Chegará no passar do tempo,
Despede-se, dizendo-me:
"Vou empurrando o meu carrinho,
Sigo a sombra de por baixo da marquise
Até o carro."



Os tempos mudaram...



Manoel Ferreira Neto
(*Rio de Janeiro*, 14 de outubro de 2016)


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