COMENTÁRIO SOBRE O POEMA /**MASSA DELIRANTE**/DA ARTISTA-PLÁSTICA(PINTORA) E POETISA Graça Fontis.
Iniciando a carreira artística, sobremodo comum o poeta servir-se de
linguagem e estilo que melhor traduzem suas idéias, pensamentos, sonhos,
utopias e esperanças. Assim, mesmo escolhendo temas e temáticas outros,
insistem na continuidade da linguagem e estilo, reduzindo a ampl-itude, a
vastidão que os temas e temáticas re-querem e exigem. E seguem nesta
experiência, vivência. A poetisa Graça Fontis, neste início de sua carreira,
não fugiu a esta característica. Como eu próprio disse-lhe certa vez: "Deixe
as coisas acontecerem livremente. Chegará o momento em que, sem mesmo perceber,
haverá mudanças e transformações na sua linguagem e estilo. De início, o
artista procura a si próprio, a sua autenticidade, a sua originalidade."
Pois o instante chegou... Este poema revela outra linguagem, outro estilo, são
traços de estilística e linguística que a poetisa pinta na sua poesia. E outra
dimensão do pensamento, dos questionamentos, aqui ela trata do social, do
político, numa linguagem popular, manifestando a angústia, delírios do povo
frente à hipocrisia social, política, e até individual. Aliás, perguntei-lhe se
no momento da criação do poema estava pensando na música de Zé Ramalho,
Admirável Gado Novo, pois todo o poema reflete nas entrelinhas o delírio do
povo, a hipocrisia social e política, dizendo-me que não, não se lembrava dela,
apenas quis mostrar, nesta época de Eleição, a dialética do Senhor e do
Escravo, quis desenhar o croqui deste momento. Poema sui generis, de uma
riqueza linguística e estilistica sem igual, comungando poesia, pintura e
músicalidade como se pode sentir na leitura. Continue assim, caríssima Pintora
e Poetisa, Graça Fontis, explorando sua nova linguagem e estilo, não está longe
de sua autenticidade e originalidade. Parabéns! Abraços!!!
Manoel Ferreira Neto
**MASSA DELIRANTE**
Há tempos percebo
Os acordes aflitos
Delirantes e
Subjetivados
Contidos
Nessa espera
Como presas...
Em malhas e tramas
Sentenciando
Esperanças e ilusões
Essa massa
Como fragmentos
Soltos no hemisfério
E... perdidos
Sob vãs palavras
Promessas e in-verdades
Camufladas, perversas
Subjugando
Pobres
Fracos
Carentes
Simplesmente crédulos
Sem opção
Nas garras da hipocrisia
Sem alma
Sem retidão
Quiçá... sem coração
E
É doloroso
Ver tanta omissão
Diante da flagelação
Discriminados
Marginalizados
Visíveis ao amanhecer
Pois não tendo
Onde dormir
Jazem ao relento
Confrontando a população
A mesma desvia o olhar
Para não ter
Que dar a mão
Muitos passam...
Cabeça erguida
Cara lavada
Como ser... distraídos
Pura simulação!
Sorrateiros
Negligenciam
Amor e compaixão
Ao explícito clamor
Dos que sabem
Ser em vão
E no tempo...
O tempo não veem passar
Inertes
Corpo e olhar
Guardam mágoas,
Dores,
Águas do mar
Salobras
Teimam molhar
As folhas da poesia
Folheando sob o luar
Caçando o impossível
Que o mundo teima
Em não lhes dar.
Graça Fontis
(06 de outubro de 2016)
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