**O NADA E A ARTE LITERÁRIA - XVII PARTE** - Manoel Ferreira
Poiésis do alvorecer, a-nunciações da luz, revelações da claridade, despertando
a alma para o "escutar" os trinos diferentes dos pássaros, sinfonia
de sons, ritmos, melodias e acordes, harmonia do novo e o vir-a-ser do outro
que trans-cende as con-ting-ências dos desejos e vontades, acordando as
dimensões do sensível para a con-templ-ação do In-finito das fontes da natureza
que jorram as águas cristalinas de todas as esperanças e fé no que há-de ser na
entrega verdadeira e plena das buscas da poiética da espiritualidade, da vida
que sonha a luz límpida dos caminhos do campo que levam aos templos dos terços
debulhados de versos e estrofes, meta-estilística, mãos postas às alturas da
beleza e do belo, rogando a sublim-itude do ser-no-mundo, do sendo-em-sendo,
continuidade do ser que se faz continuamente de sonhos e esperanças, da poesia
que nasce entre a palavra e o silêncio, que se concebe entre a fin-itude dos
sentidos e perpetuidade das semânticase e linguísticas, que se geram, re-geram,
tornam-se a gerar através das nad-itudes das facticidades e ipseidades.
Pensador é todo homem. Todos têm gosto, apreciação, admiração,
subjetividade pela revelação do mistério no des-velamento do não saber. A arte
de pensar é dada por um modo extraordinário de sentir e escutar o silêncio do
sentido, o silêncio do significado, o silêncio do significante, o silêncio do
dito, o silêncio do inter-dito, nos dis-cursos das realizações. No pensamento
não somos apenas enviados a remissões e referências. Não está na semântica ou
na sintaxe a originariedade do pensamento. Uma paixão mais originária do que
toda a semântica ou qualquer sintaxe, a paixão do sentido, toma posse de nosso
ser e nos faz viajar por dentro do próprio movimento de referir, de remeter, de
enviar.
" .... Não há um pensar, um dizer-se, antes do silenciar-se em si
mesmo.”. E por que não? Porque o ser é algo derradeiro e último que sub-siste
por seu sentido, é algo autônomo e independente que se dá em seu sentido, que
flora em sua floração. Só nos resta encarar de frente as palavras e o silêncio,
o ser no movimento de seu sentido a fim de não perdê-lo de vista e esquecê-lo
nas obnubilações do tempo. Os percalços e peripécias do tempo nos proporcionam
o horizonte de doação do sentido que se dá, à medida em que se retrai, à medida
que se envela.
" O belo é a observação do sentir poético. Daí a transcendência, a
metafísica do poeta para compor sua poesia." Um erro crasso, ruço de todas
as metafísicas, vistas à luz deste ou daquele filósofo, fora o de en-velar a
poiésis do tempo e do ser, a dimensão sensível das con-ting-ências do eterno, das
esperanças da eternidade, dos sonhos do Ser, que só se re-velam na poesia. E na
prosa eminentemente poética, cujas dimensões são a semântica e a linguística do
espaço descritivo e narrativo do "dizer", nas con-ting-ências do
cogito e da razão. abre-se o horizonte para os questionamentos e buscas do
vernáculo do espírito.
Então, compor a poesia e literatura poética, poiésis da literatura, é
estar na dimensão do finito, tragédias do nada, à busca dos In-finitos da
Linguagem, dos estilos que as experiências e vivências outras que a-nunciem os
horizontes e uni-versos da esperança e desejos, fé e sonhos, numa linguagem
metáforica, estética, estilística, verdade da palavra e do silêncio, que
inscrevem nas tábuas e molduras do tempo e do ser, das subjetividades e
objetividades, a espiritualidade, o espírito da vida e da existência.
Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 25 de outubro de 2016)
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