**O NADA E A ARTE LITERÁRIA - XII PARTE** - Manoel Ferreira
O poeta funde-se ao "Eu Poético", numa profusão de idéias que,
ao longo do texto, tenta, a todo o custo, des-fazer-se da Katarse e que os faz
um só SER, não um "des-fazer-se" no sentido de mauvaise-foi, mas de
manque-d´être, ausência do ser projetando a liberdade no sentido de criar o
Ser, tomar para si o seu sujeito, uma identidade própria.
Mas, durante essa luta entre os seus “eus”, o poeta vence à medida que o
autor sabe que sua existência se sustenta na palavra, no verbo, com todos os
tempos e modos.
Dando continuidade a texto anterior, agora sim, o autor se define como
sendo o seu “eu”, o sujeito de suas próprias decisões, pro-jetos, liberdade, e
nesta síntese de "decisões", "pro-jetos",
"liberdade", pres-ent-ifica-se o "vir-a-ser" da
"Espiritualidade da Beleza".
O homem escritor toma uma postura: desvencilha-se do poeta e declara a
sua liberdade de escolhas. Consegue se impor ante ao eu poético, o que remete o
leitor aos versos do poeta maior, Camões:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades".
Assim também é a vida, na concepção Camoniana: o tempo, as vontades, as
pessoas e aquilo em que elas acreditam, estão em constante
"modificar", à medida que as circunstâncias se alteram.
O autor amadurece seu “status quo”, no sentido de admitir que o viver é
a constante busca do entendimento, sem, necessariamente, ter de tê-lo para si,
em definitivo, quiça no sentido de quem con-templa o desejo do conhecimento,
até que em certos limites da produção poética isto e indubitável, mas
trans-cende a esta idéia, quando em estratégia línguística re-vela o
conhecimento como pedra angular para o espírito, o volo da espiritualidade.
Conversa com as amenidades da vida, pois, é nelas que se nos encontram a
paz interior.
E dessa conversa ,o autor faz as pazes com o seu “eu poético”. Jamais o
subjugará, mas, sim, o tomará como aliado, sem, entretanto, perder sua
liberdade na identidade do Ser ou não Ser.
Entende, enfim, que é na simplicidade das coisas da vida que residem as
várias miudezas de infinitos instantes de felicidade:
“Amanhã... Pretérito do Ser... Hoje, subjuntivo da Esperança do Nada em
síntese do vazio com as alegrias fúteis do sempre, do jamais, do nunca, do
vir-a-ser do Eterno...”
O autor amadurece seu “status quo”, no sentido de admitir que o viver é
a constante busca do entendimento, sem , necessariamente, ter de tê-lo para si,
em definitivo.
Um dos temas mais complexos e, irremediavelmente, perturbadores da
existência humana: O Tempo.
Iniciando essa trajetória, em conversa com o Vento, observa a passagem
do tempo exterior, mensurável, ao mesmo tempo que faz considerações sobre o seu
conceito do Tempo psicológico: o passado, o presente, o futuro.
Fala de suas experiências e revolve, a todo o instante, a terra dos
tempos que viveu e vive.Não obstante descarta o futuro de sua vivência,
antecipando-o, na ânsia de trazer o seu futuro para a realidade do seu
presente.
De acordo com Platão, “O tempo é uma imagem móvel da eternidade. Sendo,
também, imutável e metafísico”
É, justamente, aí que residem as aflições do eu poético: às vezes, é um
mero observador da passagem do tempo exterior; outras, um mergulho no Tempo
metafísico e as Dialécticas das Ipseidades do estar-no-mundo, mergulhado nas
facticidades, solipsismos, mauvaises-foi, manque-d´êtres, forclusions.
O Vento aparece como um “aliado aos “eus” do poeta : ao Vento pede que
leve embora com Ele (Vento), o Tempo, pois o poeta quer viver o hoje na
eternidade:
“...carência de idéias e pensamentos, manque-d´être do espírito e sonho
de divin-ização, falta de visão do além da vida à vida que consuma os tempos, o
tempo sempre letras e imperfeições para o Opúsculo do Soneto de Viver.”
““Há metafísica bastante em não pensar em nada..”(Alberto Caeiro- V- O
guardador de rebanhos) Heterônimo de Fernando Pessoa.”
Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 16 de outubro de 2016)
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