**O NADA E A ARTE LITERÁRIA - XIII PARTE** - Manoel Ferreira
O efêmero se esvai no nada.
Janela e veneziana abertas para o In-finito. Quem haja que não tenha
debruçado ao parapeito da janela, o sol quente, o crepúsculo, o entardecer, e
ficado tempos e tempos, pensando, sentindo, re-sentindo, diante de problemas,
diante de sentimentos de solidão, carência, náuseas, medos, desejando a
liberdade, lembrando de instantes muito felizes, alegres. Se durante o dia,
olhos, sensibilidade, todas as dimensões sensíveis voltadas ao In-finito, se
durante o dia, se à noite, a lua e as estrelas. Mas a chave de ouro que vai
abrir a porta de seus questionamentos é na caminhada na orla do mar, ondas
cobrindo-lhe os pés, olhando uma garça pousada no barco, pescadores ao redor,
redes lançadas, peito erguido, olhando de viés o In-finito, a sua inspiração.
O eidos do In-finito é o "silêncio". Surge-nos a questão
fundamental: como exercer um ministério do silêncio no qual nossa palavra tenha
o poder de re-presentar a plen-itude da Verdade? Estamos tão contaminados por
nosso mundo tagarela, mundo de falácias que nos entregamos ao ponto de vista
enganoso de que nossas palavras são mais importantes que o silêncio. Faz-se
mister uma disciplina enérgica para fazer de nosso ministério, ministério de a
partir do efêmero esvaecido no nada, a-nunciação do In-finito, um ministério
que con-duza ao silêncio da plen-itude.
Mergulhar nas pre-fundas das origens da idéias, o objeto de sua
inspiração, sentimos o escritor na rede da varanda de sua residência, sentindo
o efêmero esvaindo-se no nada, mas que ele neste momento cria e re-cria para a
"janela", "venezianas", um toque romântico, significando em
verdade o eidos da busca da beleza do belo, a caminhada na praia, frente ao
in-finito, ao longo das águas, a beleza do belo.
Liberdade do ser que se cria e recria conforme a chama que o ilumina e
lhe aponta a felicidade do infinito. Não se deixa atemorizar pelo que lhe
apontam como certo " come chocolate ", mas vai pesquisar, vai ao
profundo da questão e tenta banhar-se de verdade, da resposta que estará de
acordo com o seu raciocínio e razão, se tomado no sentido "verso",
busca da estética, consciência-estética, mas in-versamente a questão que se
apresenta é a busca de uma decisão que re-verta situações e circunstâncias,
sabendo que ela abrirá janelas e venezianas para outros horizontes da vida.
A análise mais proeminente e percuciente sobre o Nada fora feita pelo
filósofo alemão Martin Heidegger. O mergulho no nada é quiçá pior que a morte.
O eu toma consciência do imensurável valor do viver plenamente..." Sim, e
este "viver plenamente" significa, como é mostrado na V Parte,
visualizar o In-finito, o seu eidos é o silêncio. No silêncio do In-finito, não
há sucessões de efêmero, sim o "eu" buscando conservar o fogo do
Espírito, que se encontra no verbo do Espírito. O "eu", diante do
silêncio, re-existe, conhece e se re-conhece na sua plen-itude.
O escritor, permitam-nos a ausência de uma crítica literária neste
capítulo, diante da clareza, da força semântica, da beleza da estética, não há
o que mais dizer! Re-ferimo-nos à "ausência de uma crítica literária, no
sentido da linguística do texto, mas colocando à semântica como simbolo e signo
da desejância da liberdade, e neste sentido, abordamos a sensibilidade do
autor, a sua extremosa capacidade descritiva na chave do tema - o encontro
espiritual do Ser com a sua solidão - está latente no texto.
Enfim, o tempo, o vazio, o nada, a solidão: tudo caminha ao
autoconhecimento , levando-nos ao desprendimento das coisas materiais,
fazendo-nos ver que a única certeza da existência é a da alma. Sublinhem-se
"a única certeza da existência é a da alma, sonhos, projetos, entregas,
ideais, esperança, a busca do "eterno", que o escritor
trans-literalizou da "a única certeza da vida é a morte", não a
trans-cendeu, não a trans-elevou, deixou-a no solo da terra, na caminhada rumo
à plen-itude.
Ler o escritor é deixar-se viajar, entregar-se aos sonhos, esperanças,
verbos da alma, verbos do espírito, sentimo-nos sobrevoando a terra, uma águia,
liberdade, força, determinação, persistência, insistência, estas sementes e
húmus para a eternidade, para o eterno, e quando voltamos a nós,
questionamentos, indagações, a pergunta que jamais se cala: "Onde o Ser, a
Liberdade"; A esperança do "Encontro", só nas letras, poesias,
prosas, ele é esta esperança em todos os níveis da existência recitada,
declamada, até mesmo discursado, acompanhada do Verbo, das buscas do leito do
Ser, a Liberdade.
In-vestigar-lhe a obra é um passeio pelos questionamentos, dúvidas,
incertezas, medos, forclusions, manque-d-être, mauvaises-foi, alegrias,
contentamentos, satisfações, essa "miscelânia" re-presentando a
ec-sistência entre à busca da plen-itude e con-tingências, essa dialética que
ele certa afirmou ser "deliciosa", um néctar para a inspiração.
Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 17 de outubro de 2016)
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