**VAZIO DO NADA - III PARTE** - Manoel Ferreira
Vazio de nada. Nada supremo, nada absoluto, nada omnipresente, nada
omnisciente, nada perpétuo, nada sublime, nada de psicanálise do inferno, nada
do inferno de psicanálise, nada de insolências meigas da metafísica, meiga
metafísica das insolências.
Nada de vazio
Nada vazio
Nonsenses, náuseas
Duas paralelas
Só se encontram no in-finito.
Seno, co-seno,
Tangente, co-tangente.
O vazio re-colhe, a-colhe o múltiplo, momento inesquecível, inaudível de
re-nascimento, sentir presente o outro que era o mistério atrás do
"eu", enigma atrás dos solipsismos e alteridade do não-ser, até mesmo
lenda atrás das ipseidades das in-verdades, o outro na estrada de novas
contradições, dialécticas, nonsenses, saltitando de ansiedades, desesperos com
a presença do efêmero, sempre na expectativa de que irá esvaecer-se, irá ser
esvaecido a qualquer instante, o vazio é gozador, adora brincadeira, pois
re-vela o outro para esvaecer logo, ficando a sensação de mentira no intimo, a
hipocrisia tem leito de flores no recôndito, regaço da alma, tudo não passou de
falsidade, farsa, aparência, e o efêmero continua tranquilo na sua trajetória
para o nada.
Nada prepotente. Nada orgulhoso. Nada pomposo. O vazio esvaece-se, o
outro que nele re-nasce esvaece na continuidade do efêmero, morre no encontro
imprevisto com os desejos e vontades da perfeição. De outro em outro, outro
dentro do outro, dentro do outro, dentro do outro, na continuidade do tempo,
experiências e vivências, a perfeição se a-nuncia, re-vela-se, caminha nos
campos silvestres, o verbo do perfeito regencia o eidos da plen-itude. Vácuo
das esperanças, sonhos, utopias, ilusões, fantasias, quimeras, sorrelfas. Só o
nada é a esperança do ser, mas depende do efêmero efemerizar o não-ser da
con-ting-ência, manque-d´êtres e mauvaises-foi, carências, forclusions, mostrar
a solidão plena, nada nasce, nada morre por mim, nada do mundo tem qualquer
sentido, não me preenche os lapsos, a ruminância do silêncio, instante e
momento de pro-jetar o nada, pro-jetar-me na estrada de pós e poeiras das
buscas, o inferno da metafísica presente nas curvas, aclives, declives,
mata-burros e pontes partidas. A psicanálise da metafísica nas dobras dos
momentos de insegurança, indecisão, quando não se sabe se o nada está
nadificando o efêmero, se o efêmero está efemerizando o nada, o vir-a-ser se
tornou o ser-do não-vir, suspenso na ipsiedade do tempo, o vento passando bem
distante - quiça tocasse e levasse para bem longe. Ou se se entrega ao nada,
tenha fé e esperança na sua trajetória e itinerário para as sarapalhas do tempo
ou se se entrega à morte do verbo, nada de nada, nada do nada.
Buraco negro. Espaço a-poético da verdade. Só nadificando o nada do Ser,
o Ser se revela nada do Verbo, no nada do verbo "nada" a origem, o
princípio das etern-itudes, as efemeridades iluminando e numinando a poiética
elísia da vida, os efêmeros cintilando e brilhando a poiésis paradisíaca do
Ser-para os caminhos do além.
Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2016)
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