COMENTÁRIO DA ESCRITORA E POETISA SONINHA SON DOS POEM GONÇALVES AO TEXTO AUTO-BIOGRÁFICO //**BOTECO DO HÉLIO**//
Encantadora tua trajetória na escrita, Manu!!! Linda e muito bem escrita
tua biografia com direito aos detalhes que lhe são peculiares...com um teor
sempre de bom humor e um sarcasmo bem inteligente , como já é do meu
conhecimento.Parabéns, Manu!!!! As pernas trançadas?? rsrs Típico dos boêmios
poetas né? Gostaria de ter visto isso mas com certeza estaria entre os que te
aplaudiram...Bjos Silva neto!!!!Lembranças deliciosas essas suas..
Sonia Son Dos Poem Gonçalves
Sim, Soninha... Esses encontros permaneceram até por volta de julho de
1980, quando cada um seguiu seu rumo. Chicão foi sumindo, sumindo, só de vez em
quando aparecia no botequim, Zé Carlos sumiu de vez, estava muito atarefado com
a faculdade de economia e o emprego num escritório de empresa de Cachaça,
Silvio mudou-se para Betim, eu mudei de boteco, gostava de escrever num
botequim perto da Universidade. A última vez que encontrei com Chicão foi em
1996, no meio da rua São Paulo, esquina de Amazonas, embriagado que dava dó.
**"BOTECO DO HELIO"**
Esquina da Avenida Amazonas, Rua dos Tamoios, Frente ao Cine Tamoios,
Belo Horizonte, final dos anos ´70, precisamente 79, boteco-cantinho de
professores, poetas, escritor, estudante de Economia em Itaúna, chamado de
"Boteco do Hélio", nome do garçom que servia, Chicão, Manoel
Ferreira, Sílvio, Manoel Ferreira, nesta época chamado de Silva Neto, Zé
Carlos. menos Sílvio, todos estudantes em Universidade. Na continuidade dos
dias úteis da semana, encontro às seis, seis e meia da tarde, para discussões,
bate-papos de Literatura e Poesia, bate-estacas de Filosofia, acompanhados de
cervejinha geladinha e aperitivos, leituras de poemas, prosas, Fernando Pessoa,
Sartre, Mario de Sá Carneiro, Luiz Vilela, Kafka, Ernest Hemingway, William
Faulkner, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade... Quatro homens solitários,
nos seus próprios mundos, ninguém se aproximava, não se aproximavam de ninguém.
Só uma vez num sábado, alguém dirigiu-lhes a palavra no balcão, sempre em pé no
balcão os quatro, cotovelos enfincados na pedra-mármore, dizendo-lhes:
"Vocês são pessoas importantes, grandes homens, não? Ouço vocês só
conversando, lendo..." E Chicão respondeu: "Somos quatro solitários
que bebem, enchem a cara, conversam sobre as futilidades das artes".
Manoel Ferreira neste momento enfiou uma dose de aperitivo num gole só e teve
um acesso de tosse, engasgou-se.
E nas conversas, Chicão, sempre com os seus conselhos de linguagem
poética, estética. Odiava os lugares-comuns, "Rios de lágrimas...",
"Lagrimas de sangue", "A esperança, última que morre",
"Pingos de chuva na vidraça de sofrimentos e dores". Sugeria outros
modos e estilos, linguagem de dizer isto mesmo mas de forma poética, poesia.
Mas Chicão mesmo não escrevia linha sequer, trans-cendências de suas
aprendizagens na faculdade de letras, quinto período, professor no Científico
do Yázigi. E Sílvio sempre contradizendo suas falas: "Pode-se dizer
lugar-comum com poesia e poética". Chicão se alvoraçava com as teorias da
linguagem que aprendia na faculdade, debulhava em sala de aula para os alunos,
rasgava as suas verborréias teóricas. Sílvio em resposta as verborréias,
enfiava uma dose de aperitivo na garganta num gole só.
Chegou Chicão no boteco um pouco atrasado conforme o seu horário, seis e
meia, sete horas, chegou às sete e quinze, Manoel Ferreira já estava no balcão
tomando a sua cerveja e aperitivo, lia um livro de Pablo Neruda. "Silva
Neto, tenho uma inspiração para você escrever um conto à luz e imagem de Luiz
Vilela. Hoje estava lecionando para os meus alunos O Buraco, de Luz Vilela, uma
interpretação, análise, e num determinado tempo diz-se Pai é mesmo uma coisa
engraçada. Mas quero que você escreva sem virgulas, sem pontuação, fluxo de
idéias, pensamentos, sentimentos, emoções". Silva Neto tirou um bloquinho
de dentro de sua pasta, começando a escrever. Mas Chico descreveu como queria o
conto escrito. Silva Neto escreveu umas linhas, duas ou três. Despediram-se.
Silva Neto decidiu ir tomar outra cerveja num botequim, esquina da Avenida
Amazonas e Tamoios, botequim copo sujo. Na embriagalidade, escreveu o conto sem
vírgula, sem ponto, sem qualquer pontuação, fluxo mesmo de idéias, tentando
correr as léguas e léguas do lugar-comum, das linguagens do ridículo.
No outro dia, no mesmo horário, entre seis, seis e meia da tarde,
encontraram-se os quatro, e Silva Neto mostrou o seu conto PAI É MESMO UMA
COISA ENGRAÇADA. Aplausos de todos. Neste dia, sábado, Hélio teve de chamar
táxi para cada um, não conseguiam trocar um passo sequer, discussões, análises,
interpretações da linguagem, o sentido e significante dos fluxos de idéias
explorados o que significavam, tudo isso por conta de Chicão. Silva Neto não
discutia teorias em encontros em botecos, sempre se comete gafes inestimáveis,
melhor mesmo conversas ridículas e imbecis sobre as intenções e desejos do
autor, o que a obra dizia.
Ali começava a carreira do escritor Silva Neto, Manoel Ferreira, naquele
mesmo ano, meses depois, ele lançou o seu primeiro livro em parceria com um
amigo da Faculdade de Letras, Paulo Ursine Krettli, este conto foi o primeiro
da Antologia de Contos, prefaciada pelo Professor de Literatura Portuguesa da
Universidade Católica de Minas Gerais, Onofre de Freitas. Seguiram-se outros
quatro contos sob as idéias de Chicão, como por exemplo, Caso do Vaso
Sanitário, inspirado em A Metamorfose, de Franz Kafka.
Manoel Ferreira Neto.
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