**RETALHO DE VERBOS E SOLIDÃO** - Manoel Esperança
ELEGIA À ARTISTA-PLÁSTICA(PINTORA) E POETISA GRAÇA Graça Fontis, ESPOSA
E COMPANHEIRA DAS ARTES**
Epígrafe:
"O melhor ainda está por ser. As artes iluminem e numinem a
Esperança, o Amor" (Manoel Ferreira Neto)
A colcha de retalhos de verbos e solidão se a-nuncia na inspiração,
pres-ent-ificando-se nas intenções, inspiração de pretéritos de desejos do
outro de sonhos e ideais do amor, utopias e pensamentos da "humanidade do
ser", vivenciando-lhe no quotidiano, de projetos de sentimentos de verbos
do ser que tecem com linhas do verso-uni os caminhos a serem trilhados de
esperanças e fé, determinações, que enfiam nas bordas dos retalhos a linha,
comungando-os, aderindo-os, sintetizando-os e, na memória do tempo, a alma
pulsando de horizontes a serem conquistados e realizados, encontrados e
construídos, uni-verso vasto, alçando vôos em outras perspectivas, questionando
o in-finito, o destino do homem e o mistério do mundo, abrindo mão de quaisquer
linguagens e estilos religiosos, tecimento solto e livre, em cujos abismos se
encontram a seiva da espiritualidade de águas cristalinas que jorram na
continuidade do tempo, no contínuo da dialética do nada e a arte, seguindo a
in-finitude do ser a ser construído de atitudes e ações,
Há retalhos necessitam ser aparados nas bordas com tesourinha,
afiadíssima, retirar-lhes os fiapos, acuidade sem limites para não cortar
mínimo que seja pedacito do pano; há outros que precisam ser cortados nas
bordas para se igualarem aos demais, a sincronia entre todos deve ser
inestimável, desta perfeição no tecimento da colcha é que advém a perfeição da
arte, beleza e estética.
Pretéritos e projetos na ponta fininha da agulha com que vou costurando
a linguagem e estilo, sob a presença da música, os movimentos da mão com o
costurar em sin-tonia com ritmos e melodias, com que vou unindo cada retalho,
os interstícios da alma, em cujos cofres dos verbos e solidão habitam a
esperança, o amor em sua pureza, seguem os movimentos da mão no "fazimento",
tessitura, tecitura da colcha de verbos, verdades antes escondidas,
trancafiadas no inconsciente, recusadas, refutadas, desconhecidas,
negligenciadas, in-admitidas, in-admissíveis, solidão antes vivida e vivenciada
nos momentos de ouvindo uma música, de sentado num banco no interior de igreja,
sem orações, sem pedidos, sem olhar as efígies em todos os cantos e re-cantos,
"a religião, em quaisquer níveis, são ópios do povo", apenas sentindo
a serenidade do ambiente, de andando pelas ruas e avenidas sem rumo, sem
destino, observando as coisas, os objetos, os homens, in-vestigando as dores e
sofrimentos, quiça con-versando sozinho com aquele cuidado de não ser observado
e ser tachado de louco, olhares de esguelha e furtivos, instante em que a-colhe
e re-colhe as imagens do quotidiano, no balanço da rede crocheteando
sentimentos, emoções, orvalho mesclado à maresia das madrugadas, lenços e
documentos deixados numa gaveta da mesa de trabalho como se folhas de papel sem
qualquer utilidade, funcionalidade, mesmo nos segundos de alegria e satisfação
por estar sentindo a presença do outro de mim. Verbos e solidão que, em síntese
de inter-ditos e versos do ser que con-templa o amor em sua plen-itude de
outros in-finitos, do amor que, na continuidade do tempo, vai tecendo o
ser-da-felicidade, o estar-sendo de gestos sinceros e verdadeiros, a carência
da arte das letras de carícias só assim preenchida.
Cabeça baixa, agulha com linha, retalhos à volta, início já bem
adiantado, dentro em mim lembranças e recordações de situações e
circunstâncias, vontade e desejo da perfeição, da beleza, do estético, a
inspiração da arte a-nunciada tornada verdade, tornada realidade, as flores de
vidrilhos cintilando a luz do ser, dos vestidos de bailes, longos, decotados,
continuação da caminhada, prosseguimento das buscas, querências, procuras,
encontros, des-encontros, a certeza de que além de todos os abismos, cavernas,
florestas e campos, mares e pampas, a in-finitude do ser que me fará sentir a
vida em sua inteireza dimensional e trans-cend-ente.
O efêmero é também do eterno. Imagens, perspectivas do tempo per-vagam
os recônditos de minh´alma, a-nunci-ando-me que neste instante em que teço a
colcha de retalhos de verbos e solidão, sinto verdadeira essa arte, sinto
absoluto esse poema do amor, feito de questionamentos, indagações, alegria,
pois o sabido deste amor está sendo entregue com carinho, ternura, retirei de
mim a sua seiva, colocando-lhe nas mãos feitas concha para a doação, será pedra
angular para fazer o ser amado se sentir feliz, ser a solidão de si, mas o
verbo de outros horizontes e universos da entrega, da doação, percucientes
metamorfoses serão presentificadas, saberemos o eidos do amor em nós,
vivenciá-lo-emos em toda a sua plen-itude, sonhando, tendo esperanças e fé do
eterno, no verbo do "ser" que encarna de modo sublime e divino o
espírito de o efêmero é também do eterno, o efêmero habita o eterno, vis-à-vis
de dimensões, o efêmero-eterno é pedra angular para as inspirações, o
eterno-efêmero é pedra de toque para os questionamentos e buscas do espírito da
vida, da existência.
Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 20 de outubro de 2016)
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