LETRAS GÓTICAS DO ALÉM-POIÉSIS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POIÉTICA
Epígrafes:
"Num rápido clarão, a mente extrai/capta
imagens preconcebidas na sintetização harmônica e sensível a jorrarem sobre o
leito do inaudito" (Graça Fontis)
"... na efervescência dos corpos nus e
libertos vozes a abrigarem revoluções por novo ângulo, detrás dos rostos e
razões abstratas em que tudo cabe ao tempo neste vazio que nos ouça o espaço em
que habitamos."(Graça Fontis)
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Liames do sublime e sentimentos do silêncio,
seivados e eivados de solidão e entrega, lâminas de luzes a alumiarem mistérios
e in-auditos, rumo ao eterno... Do estético e filosófico, respondendo ao estilo
moderno, quebrando a linguagem difundida no momento, a do nonsense, ridículo.
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Águas a-colhem de nossos prazeres a alegria de
instantes, a paz de entregas e mortes, desejando a felicidade que afagamos no
íntimo, neblinas e neves re-colhem de nossas vontades e questionamentos a visão
do tempo e do ser, a sensação dos ventos e dos chuviscos matutinos. Resta olhar
o acinzentado do dia de chuva, a certeza, quem sabe, de erguer uma taça ao som
de silêncios e vozes que percorrem o espírito, desejando o paladar da alegria e
realização, sabor do prazer e glória, fumar cachimbo, até brincando de fazer
bolha de fumaça, sem tragar as futilidades do quotidiano das relações exteriores,
aspirando aos sentimentos de além, além fronteiras, cancelas, obstáculos, a
liberdade vernácula do destino a ser artificiado.
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Lembra-me de como,
no silêncio
de um monólogo
interior,
a afetividade de mim
aguçava os sentidos inteiros.
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Re-cordam-me o estilo, linguagem
nos interstícios
de uma inspiração,
as dimensões sensíveis habitam-me
criavam, artificiavam os sonhos plenos
da verdade.
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Recorrem-me os sentimentos, sensações
no corpo, carne e ossos,
de re-conhecer a vida,
sob que circunstâncias
do quotidiano das coisas,
mister a luta,
num instante de risco de morte,
a labuta pela existência
Falácia?:
sendo luta digna, honrada
três são as chances,
patenteadas,
a que advir
será efetiva!
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O significado
é des-ordenado, in-vertido,
despido de caracterização,
des-nudo de significação
pouco aceite na expressão
da arte e de si mesmo.
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Busco com a
sinceridade radical e exigente...
ego imperativo...
(psiu!)
de um olhar a quem se ama
um espairecer de ideias,
à procura de sítios,
segredos, episódios, causos,
lendas, mentiras,
não relatados em livros
de que apenas as neblinas
sabem as veras,
mostrar-me sob a serenidade
do vai-e-vem da rede,
micos brincando
no fio elétrico de alta
tensão.
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Uma gota de mais
e/ou
de menos
no corpo de minhas ausências
na alma de manque-d´êtres
forclusions.
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A vida, aos sons de imagens dispersas e sinuosas,
mostra sua fragilidade, sua in-vestida em deixar não só re-cordações mas o
orgulho de sua verdade, seu projecto não só de memórias, mas o lançar-se a
trans-literalizá-las, verbalizá-las. O difícil mesmo é aceitar e admitir a
eternidade são esperança, amor, confiança. O amor trans-cende a tudo e, diante
de seu poder, projecta sentimentos, desejos, utopias.
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É belo que se glorifique até ao fim por derradeiro
o triunfo do silêncio. Quem sabe assim, com esta glorificação, com esta
continuidade, mais e mais este silêncio vá se tornando verdadeiro, essencial,
até que me ouça silêncio e não somente vozes que o revelem, que afloram num
susto a sua aparição, sinta-me sons da solidão, e não apenas a transcendência a
música traz em seu bojo, em suas cordas de guitarra. Phylos-harmonica de ritmos
e sons sublimes de júbilos do in-olvidável nos liames do tempo e verbos do
visível invisível, nas sin-thesis e aes-thesis da uni-versalidade, katharsis da
sabedoria e con-templação do belo.
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Nos tabernáculos do tempo, as letras góticas do
além-poiésis da alma, desejando a liberdade virgem e pura, poiética das
facticidades, solipsismando os abismos e desertos. De um tom mais sombrio a um
estilo mais delicado e fino, revelando as inquietudes, dúvidas, medos,
angústias, depressões da alma.
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Nos seios nus, o fogo concentra a essência,
trans-formando a luz em raios de sol – amor não são gestos ou atitudes, amor é
melodia (não há música como dizer: “Desejo a vida dos homens e da humanidade; a
liberdade do povo, da comunidade”, na voz clara, ardente, extensa. Em longo
mergulhar, descem os tesouros do oceano, que às margens do Cócito suspende o
sol nascente. Derramando a consciência, sente o verbo de toda a humanidade.
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Vínculos das melancolias, nostalgias e sandices,
despautérios das falas e expressões, barafunda de confusões, perdições da alma,
que para os seres especiais, importantes indivíduos são manifestações de
despropósitos, mas não tendo qualquer noção eles de que as palavras da fala
possuem dimensões outras que as corriqueiras, são aqueles famosos "de
plantão", entregam-se às suas ciências equívocos e as intenções mesquinhas
dos outros.
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Esqueceu-me referir-me aos olhos que entronizam as
imagens que se vão formando e, aquando o coração, o corpo envia aos dedos os
seus sentimentos profundos, estes que ainda se revelam de modo lento, seguem as
linhas captando as suas entrelinhas, seguem os traços dados na tela compondo as
anunciações sensíveis da alma, o que profundo existe, através de lembranças,
recordações, melancolias, de um lado, imagens, intuições, percepções,
contemplações, de outro, e o desejo é trazê-las à superfície, ver-me re-fletido
em consonância e harmonia, assim me sinto no mundo, o estar-sendo que busco e
tanto desejo.
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Re-vejo o silêncio,
agora do meio da minha noite, plácido e branco,
cercado de infinitude.
#riodejaneiro#, 21 de julho de 2019#
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