**E O NADA PERSIGNA-SE** PINTURA: Graça Fontis POEMA: Manoel Ferreira Neto
Tergi-versado de percuciente
sentido e perspectivas,
persigna-se o nada,
ininteligível,
inconcebível a fé
que em seu alforje traz dentro,
que em sua algibeira traz guardada,
frente ao uni-verso
que se lhe apresenta
sem arribas e confins,
vazio de linha à entrelinha do espaço.
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Persigna-se,
não debulha as contas do terço,
em verdade não conhece terço,
nem reza,
não sabe única palavra de alguma oração,
quem lhe segue não carrega terço,
não reza,
estas "cositas" não lhes serviram de
nada,
não lhes deram qualquer resultado,
nas suas trilhas seguem a jornada ao Infinito.
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Persignou-se
diante do uni-verso sem arribas e confins,
sem quês ou porquês,
por muitos lhe estarem seguindo,
convictos e cônscios
de que chegarão ao destino In-finito,
precisa das arribas e confins para a viagem,
são eles a sua bússola.
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Persignou-se,
nadificando medos e tremores
de desvirtuar seus seguidores,
tornarem-se eles Perdidos no Espaço,
confusos no Túnel do Tempo,
é enorme,
imensa a sua responsabilidade.
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"Quê estupidez a minha!" Nada que sou,
nada que re-presento, não dependo do uni-verso, sou livre, confins e arribas
crio-lhes, invento-lhes, mesmo que as veredas sejam outras, o In-finito seja
mais distante, chego lá com os meus seguidores, cumpro a minha missão com
categoria e excelência. Ademais, os seguidores se sentirão mais alegres e
felizes por vislumbrarem outras paisagens, paisagens mais fascinantes, mais
deslumbrantes, inclusive re-colhendo-as e a-colhendo-as, re-fazendo as
esperanças e os sonhos, re-novando sentimentos e emoções. Chegando ao
In-finito, após o banquete de recepção e confraternização, carne de ovelha
assada, regada a Absinto, segue cada um o seu próprio rumo, a etern-idade é de
cada um. A etern-idade jamais foi para rebanhos, cada um cria a sua conforme
suas esperanças, utopias, sorrelfas, idílios, fantasias, quimeras.
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Engraçado: por que o uni-verso se me apresentou sem
arribas e confins? Pergunta imbecil. Sei perfeitamente a resposta. Deus e
Mefistófeles estão rasgando verbos contra mim, alfim estou desvirtuando os
seguidores do paraíso e do inferno, estou lhes encaminhando em vida, nas chamas
de todas as con-ting-ências, ao In-finito, paraíso e inferno estão se
esvaziando, no futuro serão apenas museus metafísicos. Quem ama de paixão
museus e patrimônios são os insofismável e incolumemente destituídos de alma e
espírito. Deus e Mefistófeles estão equivocados, não preciso deles para nada,
sou livre, faço o que quero e quero o que faço. Castigo de deuses é do tempo do
Zagaia. O vazio e o efêmero não pensam e sentem assim: tremelicam de medo de
algum castigo de Deus e Mefistófeles. Não eu. Sigo em frente.
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Voltando aos lobos da estepe. A etern-idade é de
cada um. Sempre que posso, nalgum a-núncio de curva do espaço, digo-lhes para
memorizarem as paisagens que se lhes re-velam, serão grãos da íntima e
individual etern-idade. Ouvem-me com percuciência. O mais triste para mim é
deixar os seguidores no banquete, aprendi a amá-los, nutrir imenso carinho e
ternura por eles, a viagem ao In-finito não é simples, tem as suas intempéries,
alguns seguidores tem sérias crises de angústia, tendo de retornar ao mundo das
contingências, esperar outros seguidores, perambulando, vadiando por becos,
terrenos baldios, presenciando boêmios e bêbados, poderosos e fracassados
vociferando contra dogmas e preceitos, leis e cláusulas, a vida para eles é a
morte nua e crua, despida de quaisquer ornamentos ou arrebiques.
Vendo-me a vadiar, pedem-me abrigo e afago,
ofereço-lhes a viagem ao In-finito. Alguns fazem a mochila: "Bora ao
In-finito".
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Sou eterno, a minha etern-idade é muito trabalho,
labuta árdua: levar os carentes da Verdade ao In-finito."
(#riodejaneiro#, 31 de julho de 2019#
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