#MANOEL FERREIRA NETO - CRÍTICO PEQUENÁRIO DO NADA # GRAÇA FONTIS: IMAGEM Manoel Ferreira Neto: PROSA
PARTE II
Nas minhas trevas de veredas sumidas, enveladas,
escondidas, rumorejo uma cantilena, ou discorro na perpetuidade de ânimos
derradeiros e restantes que residem o seio clemente, e repiso pianinho, quase
em calada, uma designação, quase em mudez, uma resignação.
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Às costas dos sábios e doutos de plantão, por
inter-médio da compulsividade e esganação, características do ser rebelde,
insolente, que ornamentei outros modos e estilos de con-templar as
contingências, colhendo as inspirações, intuições e intenções da vida como ela
em verdade, cabendo-me criar-me, re-criar-me, inventar-me linguagem de
aspirações do Ser.
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Assim que me ingressei no grupo escolar, fizeram-me
a doce gentileza de mostrar-me a pequenez de onde vinha; a professora
encomendou redação valendo uns poucos pontinhos na nota mensal. Tirei zero,
enquanto todos tiraram excelentes, e a mestra ainda dissera com as letras em
riste: "
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Manoel Ferreira é o menor da sala, é pequeno não só
no tamanho físico, mas em redação, não sabe escrever" Respondi-lhe:
"A senhora ensina, educa - assim ouço as freguesas de costura dizer lá em
casa. Está me ensinando a pequenez em redação." Olhou-me. Terminadas as
aulas, não saí do grupo todo ofuscado por dentro, o "O" inquieto.
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O excesso de pequenez que me reside chega a
fazer-me sentir prazer, volúpia, gozo, êxtase, e quando estou excessivo tenho
que dar de mim como o leite que se não fluir rebenta o seio. Livro-me da
pressão e volto ao tamanho natural. Os seres grandes, em tamanho, redação,
livro, posturas e posições sociais, em tudo na vida, nem de ouvido querem ouvir
as glórias e conquistas da pequenez, não serão capazes de reproduzi-las por
inteira. Não me caibo de tanto orgulho, eles não se cabem com tanta grandeza,
então vão aumentar as coisas inda mais, serei menor ainda aos olhos deles.
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Fiz da pequenez o altar onde celebrar os fracassos
e frustrações, o orgulho do tamanho está ser em mim, ser de mim, entrego-me
igual como sou, sem mentira e fantasia para experimentar os centímetros das
palavras que insistem em expressar-se.
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Tantos devaneios de riqueza, tanta expectativa, que
do talento o sucesso, desejando a zéfiro de aljôfar incandescente, incita à
rogativa imponente, entoando dos períodos as notas e mercês da imperecível
realidade, recitando das frases de inteligência e sensibilidade os ritmos e
sarapalhas do inolvidável real, verdades que regem a vida - "É preciso ter
vontade da verdade, caríssimas ovelhas de rebanho. Caso contrário, a mentira e
a hipocrisia elevam-se ao topo do Olimpo."
#riodejaneiro#, 23 de julho de 2019#
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