**INTER DOS STÍCIOS DA LIBERDADE** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Curvilíneos fragmentos de pretéritos abismos
nítidos, nulos, trans-versalmente ardente, cintilando aos raios de numinoso so,
não seria fantasia, idílio porque entardecia, tempo neblinado, melancolias,
nostalgias de efígies e imagens que me habitavam o íntimo, sorrisos furtivos e
amareliçados de saber era infeliz e não sabia, conhecia a infelicidade,
restava-me a atitude insofismável, mas fui criando quimeras para envelar as
tristezas e a-gonias, mas no verbo delas, que gira o catavento do morro de
ventos uivantes, saciasse a sede da liberdade. Quiçá necessitasse descobri-la
nos interstícios da alma, dando-lhe segmentos para a jornada rumo ao que
trans-elevasse, trans-cendesse a mim. Nonadas de vazios eram carências nos
recônditos dos sentimentos de amar o verbo de sonhos que se localizam no mais
inter-dito do ser.
Vivencial e vivenciária era a infelicidade, mas as
chamas de velas no castiçal no parapeito da janela aberta para o in-finito
mostrava-me por intermédio de vocábulos apocalípticos a felicidade acenando-me
de longe, chamava-me para o suculento banquete, regado a vinho português, lá do
Porto, onde as águas do mar, tocando as docas, cocebiam a música das
etern-itudes, sorria circunspecto. E, num instante, ma nhã de chuvinha fina,
recostado à janela, perguntei-me, absorvendo a nicotina do cigarro com tanta
paixão que me engasgeui com a fumaça, tossi de modo enrouquecido: Onde este
amor? Onde esta paixão? Onde este carinho e ternura, amor lá das entranhas
uterinas do uni-verso pleno da verdade? Onde esta felicidade? E qundo E quando
desvelar para realizar?"Seguia o destino, destino este o útero do tempo e
ideologias da vida me reservaram, o olhar projetado ao além dos pretéritos
aquém do vir-a-ser. Este amor, quem sabe, revelar-se-ia, meu corpo aquecer,
trouxesse quem sou, imperfeito e louco, não enclausurado numa cela do perfeito
e imaculado.
O verdadeiro amor, concebido no silêncio da
madrugada, far-se-ia presente, almim mesmo que a nonada do silêncio versificada
de solidão do não-ser, a liberdade haveria de se a-nunciar na luz da manhã, no
trans-correr da temporal-eresis, não iríadas, na simplicidade e humildade,
sempre a mesma praça, sempre o mesmo jardim, a esperança incrustada no meu ser.
"Esperança, tirar a carne do tempo, deixar o osso do eterno, aliviar as
pernas de tanto andar, nunca ficar passando a noite, madrugada observando os
idílios".
A esperança não é só a luz pro-jetada ao in-finito,
cântico dos cânticos do ser por verbalizar o acontecer da verdade - que é
aquilo que sobe do deserto como colunas de fumaça? também ela tem o seu
pretérito imperfeito, o mais dos gerúndios que postergam as circunstâncias,
mister, sine qua non deixá-las nas curvas de poeiras que as estradas levam ao
vento, alfim nascem num idílio de segundo de angústias, tristezas, náuseas,
medos, vômitos, e tudo à frente são reflexos de luzes para olvidar o crepúsculo
da morte.
Cumpre des-vencilhar os subjuntivos desta esperança
pretérita, não mostrará as perspectivas do absoluto, não a-nunciará os ipsis
dos pers de silêncios e solidões, simples esperança por nada, o nada
efemerizando o há-de perene ser. Esperança trans-lúcida, esperança sem marge
que abre os caminhos para a água, águas seguirem livres e seren-itudináriais...
A liberdade precede a esperança originária da fonte primeva, da vida, vivê-la é
o des-velamento do mistério do silêncio das ipseidades na solidão de peregrinar
pelo deserto. A liberdade tem os seus ases, quatro, de por baixo do punho da
camisa res-ad-jacente à superfície da mesa de jogo.
Então, primeiro ser livre, brincar como criança com
as cartas, depois sentir plena, na mente do ab-surdo o ser em-si mesmo, de
estar em verdade à busca do mais-que-pretérito, do mais-que-infinitivo, do
presente mais que nada da vida em essência da ipseidade do efêmero, dialética
do nada e absoluto.
Hoje - que palavra divina é esta! Que palavra surda
do "ab" particípio da gnose da genesis! Contudo, sinto, verdadeira e
espiritualmente, o espaço do inter aos "stícios" do sempre estar
andando, caminhando re-verso e in-verso as imagens refletidas atrás do
ser-espelho das nonadas do tempo esquecido de memórias, lembranças, recordações
do efêmero de ser.
Liberdade... Alfim sou livre, resta-me a esperança
ao longo do tempo sob os longínquos e distantes pre-nuncios do nada e da náusea
do jogar o poquer dos instantes-limites.
#riodejaneiro#, 14 de julho de 2019#
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