COMENTÁRIO DE ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA AO POEMA *AUTOBIOGRAFIA DE UM HOMEM*
Quantos formatos hão de se redigir as memórias? Se
esta tese fosse-me estabelecida, presumivelmente eu verbalizaria que as
faculdades são intermináveis e a investigação da rotina aponta muito bem que
nenhuma autobiografia é equitativa ou excessivamente afim a outra.
Penso mesmo que muitas são exaltadas e que alguns
escritores ambicionam alcançar reputação através delas. São excessivamente
melodramáticas, ou altruístas.
Contemplo no escrito de Manoel Ferreira um
paradigma perfeito de autobiografia.
Agora não sei é se toda a gente é detentora de
tormentos e sofrimentos. Ou dissimulam muito bem, ou a vida é apenas uma
imensidade de rosas, não foram tomados nas tramas dos acúleos.
AS MEMÓRIAS DE UM INDIVÌDUO
Cada um de nós frui o inerente tormento para transportar
Cada um de nós tem o metro do sofrimento para
declamar
Cada um de nós tem as estâncias do bem-querer para
arrazoar
Cada um de nós tem a ninharia na aljafra para
conduzir à perpetuidade
Cada um de nós tem a elocução da ventura para
fantasiar
Cada um de nós tem sémitas e atalhos por onde
contundir
Cada um de nós tem as fantasmagorias e confianças
para habitar
Cada um de nós amanha a sua sátira da querença
Cada um de nós tem taciturnidades, tristezas de
inolvidáveis transactos
Cada um de nós tem prantos a decair no semblante
proveniente das contrariedades
Cada um de nós redige seu conto dos anseios ao
limiar da perpetuidade
Cada um de nós tem a crença na revivescência,
remição, éden sumido
Cada um de nós tem seus estrépitos,
desapontamentos, desilusões
Cada um de nós mora a fugaz dita, alacridade,
consolação
Hoje me experimento mais cônscio de todas as
azáfamas que licenciei para antes
Hoje me experimento mais robusto para transportar o
meu crucifixo de quem sou
Hoje me experimento mais fantasiador de expectativas
da elocução de mim
Hoje me experimento mais bardo para poetar, rimar a
energia do espírito
Hoje me experimento mais tranquilo para percorrer a
minha caminhada à pesquisa do ser
Hoje me experimento douto para apreender as
esfinges e arcanos da existência
Hoje me experimento mais ditoso por desenhar o
juízo da alma
Hoje me experimento que o fenecimento é essencial
para a existência ser
Hoje me experimento cruzada
Hoje me experimento passadouro
Hoje me experimento a ninharia que atravessa cosmos
e perspetivas.
Hoje sou a biografia de mim.
Ana Júlia Machado
*AUTOBIOGRAFIA DO HOMEM*
Cada um de nós tem a própria cruz para carregar
Cada um de nós tem o verso da dor para recitar
Cada um de nós tem as estrofes do amor para
declamar
Cada um de nós tem o nada na algibeira para levar à
eternidade
Cada um de nós tem o verbo da felicidade para
sonhar
Cada um de nós tem veredas e sendas por onde
trilhar
Cada um de nós tem as utopias e esperanças para
viver
Cada um de nós compõe o seu soneto do amor
Cada um de nós tem melancolias, nostalgias de
inesquecíveis pretéritos
Cada um de nós tem lágrimas a descer no rosto
devido às dificuldades
Cada um de nós escreve seu romance dos desejos à
soleira da eternidade
Cada um de nós tem a fé na ressurreição, redenção,
paraíso perdido
Cada um de nós tem seus fracassos, frustrações,
decepções
Cada um de nós vivemos a efêmera felicidade,
alegria, contentamento
Hoje me sinto mais consciente de todas as poeiras
que deixarei para trás
Hoje me sinto mais forte para carregar a minha cruz
de quem sou
Hoje me sinto mais sonhador de esperanças do verbo
de mim
Hoje me sinto mais poeta para versejar, versificar
a alma do espírito
Hoje me sinto mais sereno para prosseguir a minha
jornada à busca do ser
Hoje me sinto sábio para compreender os mistérios e
enigmas da vida
Hoje me sinto mais feliz por projetar o espírito da
alma
Hoje me sinto que a morte é necessária para a vida
ser
Hoje me sinto travessia
Hoje me sinto passagem
Hoje me sinto a nonada que pervaga universos e
horizontes.
Hoje sou a história de mim.
Manoel Ferreira Neto.
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