À CATEGORIA DE MENINO PRODÍGIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Esquizofrenia, psicopatia, alienação mental. Menino
louro, olhos azuis, rosto magro, quatro anos de idade. Olhos de sobrenatural
demência. Aspecto de quem observa as coisas e não as vê. Lugar vazio. Mostram
ali terem estado várias coisas. Tiradas e nunca devolvidas. Acusando-se por
sinais visíveis, feitos à custa do tempo, feitos às costas do sol. Perdeu o
contato direto com o mundo, este empreende viagem, além das retinas. Assistem
às mulheres, encostadas à porta das lojas, esperando a vez de se entregarem.
Defendem a sobrevivência – cama nua e crua. Fingem gozo. Não sentem o momento
de tudo ter qualquer revelação e voltar ao normal. Se o tempo houvesse sido
outro e não o que foi. Instantes sucedem-se e, sucedendo-se, param segundos.
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É verdade sim que os homens desejamos viver alguns
momentos que vivemos, mas com a visão-de-mundo que possuímos hoje, com certeza,
descobriríamos verdades inestimáveis, e foram as que não sentimos.
Sensibilidade não tem tempo, nem idade. Há experiências mais lúcidas. Sei-o Quanto
o sei neste segundo em que não há palavras para definir o que quer que seja, e
tão só penso e sinto, ou busco sentir. Os sentimentos... Tudo vem à tona, à
superfície, após um reencontro com alguém a quem amamos e desejamos tudo, o
mundo.
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É muito fácil explicar os paradoxos, as
contradições. Falo de duas coisas diferentes: por um lado, daquilo que a
verdade estabelece, e por outro, daquilo que eu chego a saber por experiência
pessoal. Certamente que não li em nenhum compêndio, embora naturalmente deve
estar estabelecido aqui que o inocente deve ser absolvido, portanto, não se
estabelece nela que se possa influir sobre os homens por meio de relações
pessoais.
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O menino não grita. Não chora. Chama por alguém.
Ali, parado, olhando as coisas sem nada enxergar. Limita-se à posição estática,
chupando o dedo. Não tem consciência de tudo estar emergindo e dando espaço a
outras coisas que vão imergir até que nada haja. Ali, sozinho. Nada surge. Os
acontecimentos estão diante dele a exigirem participação. Mostrando-lhe tudo.
Atitude instantânea. Embora não o seja tanto. A demência não lhe permite.
Levanta-se. Dirige-se à beira da lagoa. Próximo ao banco em que estava sentado.
Tira a calcinha. Segura o sexo. Jorra água aos poucos. Tudo, parado. Observa a
ação. A mãe olha. Pasmo e terror. Somos os únicos que presenciam. Nada diz.
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Havia acabado de descer de um cavalinho, com toda
pose, vestido à categoria de um menino prodígio, vestes combinando com o
passeio, para uma foto, à sombra de uma castanheira, e vendo uma cena dessa, a
idade de seis anos sentiu-se tocada pelas perguntas: "por que a
sandice?", "a loucura?", e "os dementes", quê condição
irrepreensível, a condição humana...
#riodejaneiro#, 30 de julho de 2019#
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