CRÍTICA LITERÁRIA DA ESCRITORA E POETISA Sonia Gonçalves AO AFORISMO 233 /**TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE COMO QUEM ENCONTROU A ETERNIDADE NO NADA**/
Coisa mais linda esse texto Manoel Ferreira Neto...
Roubaram de mim tantas coisas que me deixei roubar de mim! Ninguém nos rouba a
não ser o tempo, né, meu querido poeta?... O resto quem nos rouba somos nós
mesmos que nos damos certas corujas de estimação e uma hora entendemos que elas
são do eterno, têm sua vida e liberdade assim como nós... Teu texto é muito
lindo com um lirismo esplendoroso em cada linha... Re veja mesmo e re verse e
regresse aos escritos e aos seus ritos noturnos ou diurnos quantas vezes
precisar... Regresse sempre que não é vergonha nenhuma homem saber e exercer
seu poder chorar seja por solidão, seja de verdade ou apenas um sentimento
interior... Um dos seus textos mais profundos viu Manoel...Escreveu com a alma
em nostalgia....lindo lindo!!!Bjoss
Sonia Gonçalves
#AFORISMO 233/TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE COMO
QUEM ENCONTROU A ETERNIDADE NO NADA**
Roubaram de mim o echo de vozes que ouvia em
silêncio, sentindo em mim dentro os sons do sublime. Roubaram de mim o absoluto
que me legava as dimensões da verdade, em cujos eidos re-colhia e a-colhia a
visão nítida e trans-parente do vir-a-ser de conquistas, realizações e glórias.
Roubaram de mim o eterno nos interstícios de que vislumbrava, con-templava a
perfeição solene da vida, vida de felicidades e alegrias incólumes. Roubaram de
mim o éden de prazeres, êxtases, onde refesteleva-me à sombra de árvore
frondosa, as águas cristalinas passando leves e serenas, con-templando
maravilhoso panorama, a beleza em sua pureza e simplicidade.
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Roubaram de mim o verso que embelezava as letras
com os sons silenciosos do espírito, com o sibilo solitário da alma, de cuja
inspiração retirava o eidos das metáforas dos desejos e vontades, das
esperanças e sonhos. Roubaram de mim a metafísica do ser, em cujo cerne dava
asas à plen-itude da etern-idade, do perpétuo, deixando-me a leveza do ser.
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Vazio, tive de criar o verbo para eivar o desejo de
buscas, mas arranquei de dentro o efêmero de todas as coisas, seus modos e
tempos acontecem num átimo de segundo, e nasce o nada em cujo "érito"
se localiza, habita o vir-a-ser do outro, se o outro se faz na continuidade dos
efêmeros e nada, os efêmeros e nada se fazem na continuidade dialética do tempo
e do verbo.
Angústias, tristezas, naúseas, melancolias,
nostalgias, saudades, passo a passo encontros e des-encontros, passo a passo
medo e coragem, passo a passo inspiração e sentimento frígido, emoção
impotente, passo a passo o amor e a ausência do espírito supremo da vida, passo
a passo a con-tingência e a morte, passo a passo o tempo e o vento, passo a
passo a dialética do efêmero e do nada.
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Roubaram de mim... Leguei-me, doei-me a duras penas
o re-verso vazio da solidão que peregrina no deserto rumo à montanha de
orquídeas e cáctus, sabendo de antemão às revezes que se a-nuncia e envela-se a
cada vintém de leguas, mas a esperança do encontro cria a verdade do ser, o
sonho do ser cria o verbo da conquista e glória, a fé cria o divino.
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Em verdade, em verdade, a vida são itinerários por
alamedas, becos, estradas, caminhos da roça, terrenos baldios em direção ao
nada que coloca nas mãos feitas concha a bússola de outras trilhas junto com a
ampulheta em cujo interior passam os grãos de areia revelando a fin-itude do
estar-no-mundo, do ser-com as coisas, objetos e homens.
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Tem dias que a gente se sente como quem encontrou o
tesouro na caverna, o pote de ouro no fim do arco-íris, a eternidade no nada, e
a gente pensa haver tornado nítida e trans-parente a luz no caminho de trevas,
mas em verdade a gente eiva de cor-agem os verbos da esperança, de colocar a
liberdade em questão, seguir a floresta de sendas e veredas do mistério e
iluminação, a estrada de poeiras e in-verdades do pó, por vezes orando nos
templos de fé, igrejas de dogmas e preceitos.
(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE OUTUBRO DE 2017)
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