#À LUZ DE DIALÉCTICA DE SILÊNCIOS A ALGAZARRAS# - PINTURA: GRAÇA FONTIS Manoel Ferreira Neto: PROSA
Epígrafe:
"M esmo no vácuo das turvas paisagens
A s gotas de orvalho, o vento desfaz
N as entranhas do solo, força elementar
O espetáculo desencadeia espasmos e
desproteção..."(Graça Fontis)
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Em tempos de outrora, saí a semear as esperanças em
versos, terras, nuvens e estrelas, um viajante de silêncios e sublimidades,
perdi-me mil vezes nestas andanças, dores que adubei, tive de colhê-las,
sofrimentos que reguei, tive de re-colhê-los, medos que senti profundo, tive de
armazená-los, memorizá-los. Compreensível isso: esvaziei-me, era mister
encher-me novamente. Tudo em torno corria a passos largos, não movia sequer
única perna, não era necessário, a eternidade cuidava por si da continuidade da
conquista, da glória; permanecia estagnado e a vida era rio que fluía
incessantemente, e era eu navio encalhado em fantasmas, e era sargaço. Tudo em
volta estourava, explodia e era pavio que engolia o fogo e implodia fracasso
(até as musas perceberam o meu triste e indizível cansaço, assumiram o ser de
mim, generosas e solidárias que sempre foram, o objetivo era ajudarem-me, não
queriam ver a minha estrela apagada de todo) e naquele mundo pleno andava tão
vazio, o peito me dizia de modo eufórico e extasiante: “Re-nasça, re-nove-se,
inove-se, os horizontes e universos para si estão todos abertos e escancarados,
entre por essa porta e siga a sua viagem”.
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Do turbilhão dos turvos pensamentos, retirei os que
se fizeram luz, os que a-nunciaram verdades outras que antes apenas intuía, e
entreguei meus melhores momentos à vida e ao mundo, estava presenteando-lhes
como se faz a um ser querido, à mulher estimada e amada, ao amigo de todas as
jornadas e itinerários, às amigas de todos os sextos sentidos e sensibilidades,
um gole de cachaça que me embriaga o coração, fá-lo pulsar sensações várias,
re-versas de minhas utopias e sonhos, in-versas de meus projetos e propósitos
puros e singelos. Seguirei os caminhos do tempo, tomei nos pés outras veredas,
senti-as bem fortes e presentes em mim, mostrar-me-iam outros horizontes e
uni-versos.
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Das luzes e contra-luzes das turvas paisagens do
mar no alvorecer de cerração, neblina, colhi a constante procura de sede e não
de linfas, o que exaure, desolado no seu ermo, con-templar é saciar a sede de
conhecimento. Seara orgulhosa, deserto de re-flexões, ornamento de melancolias,
porventura de carências pretéritas. Assim vos respondo aos versos de vossa obra
acróstica, a brisa da noite de inverno, a maresia do mar, a balada sai da boca
introspectiva, circunspectiva, en-si-mesmada, a brisa ma traz, e a leva a
brisa, não cantarei o riso que não rira, não chorarei o choro que não chorara,
só a própria balada a modelar campinas no vazio da alma, no nada das idéias e
pensamentos, no mesmo engano outro retrato emoldurado no quadro.
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Um quadro não é soma de tela e de tintas, lápis,
nem sequer de linhas e cores, nem sequer sentimentos e emoções, projetos e
sonhos, nem sequer a síntese disso, nem sequer o que viso por inter-médio
disso, sim a intenção com que tudo isso trespasso e trans-cendo e re-construo,
lá onde ec-siste o meu apelo de beleza. Porque, então, o quadro ec-siste apenas
como quadro que é e a minha intenção como a voz da minha procura. Uma verdade
não é apenas a concordância que quiser e nela descobri, porque ela então é
apenas a exatidão de si, indiscutível, presente, petrificada.
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Mas o quadro, música, verdade, para que eficazes,
proficientes e eloquentes ec-sistam no mais abismático, insondável de mim,
precisam de encontrar-se com o insondável que me transcende e sou eu ainda no
que sou mais do que a vida e o mundo, mulher estimada e amada, a companheira de
todos os momentos e instantes, amigo e amigas, lilases a leste do éden. A todos
o amor propõe problemas e conflitos, quem é só, furiosamente sonha e crê ser
sua condição medonha, tenebrosa, e exagera a dor em seus poemas. Se pelo menos
quem não amasse com o ermo de si mesmo contentasse!
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Há uma verdade além da verdade, há uma beleza além
da beleza, há uma poiésis além da estesia, há uma poesia além da metafísica, há
uma filosofia além de todas as razões puras e práticas, há uma prosa além da
realidade do quotidiano de situações e circunstâncias, do folk-lore popular,
das lendas, mitos e ritos, há um mundo além do mundo e só aí ele ec-siste, há
caritas além da amizade sincera e séria pelas sensibilidades que extasiam,
conquistam, pelos sentimentos e emoções que o coração, prazerosamente, guarda
no seu lugarzinho bem singular, como o belo e o verdadeiro, como o absoluto e o
eterno, como o amor, síntese do desejo e da liberdade de tornar realidade as
letras e os desenhos.
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Espírito informe de uma fugitiva presença, luz
incerta que se acende por dentro do que é iluminado, invisível realidade
visível, é quando vem a mim o raro privilégio de assistir ao encontro desse
espírito e do que o manifesta, é quando o visível e o verificável se encontram
com o que se furta à verificação e visibilidade, é então que a verdade se
incendeia de fulgor, o belo de beleza, o eterno de eternidade, o imortal da
imortalidade, o ec-sistencial de ec-sistencialidade, o historial de
historial-idade, o histórico da historic-idade.
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O silêncio lentamente cala no peito, cobre-se no
sudário da re-flexão e meditação, em serena displicência vou vivendo acostumado
a ser mais-do-que imperfeito do indicativo, a ser-mais que perfeito do
subjuntivo, carente, o peito a chorar de tristeza e falta, ausência, a alma a
soluçar de carência e falta-{de}-ser, a carne a rogar a presença do verbo,
ajoelhado aos pés da vida e dos desejos da ressurreição e redenção; o cotidiano
compõe minha agonia, da vida se deduz o que se vai morrendo e anulo meu ser a
cada dia, e a cada dia busco-lhe de outros modos, em estilos e linguagens
outros, até de manhãs diferentes em que trilho os mesmos caminhos vou tecendo
outras ilusões de arrebiques, contudo os olhares e sentimentos se dirigem a
outros panoramas e vou acreditando que ele é o que me fora dado desde a
eternidade, desde o nascimento no per-curso da minha jornada sem limite e
fronteiras em busca de mim, na querência de outras luzes e incidência delas na
imagem dos louvores e conquistas reais, verdadeiras, a verdade sob a luz do
DIVINO e do ESPÍRITO.
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Do divino e espírito,
Tecendo ilusões de arrebiques,
Bordando ornamentos de fantasias,
Em estilos e linguagens outros,
O imperfeito se veste de perfeito,
Sentimentos se dirigem a outros panoramas,
As retinas fotografam a forma e o conteúdo
Da realidade,
Visão e sonhos do belo e sons do vazio,
Vazio de silêncios, silêncios de vazios sons
Transformam isso em estesias
Nada de vazio no silêncio das vozes
Do sonho,
Da utopia,
Das idéias e pensamentos...
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Com o vosso acróstico, tomando o tempo e as
conquistas da ec-sistência e do amor, gostava de lhe re-velar acerca de vosso
amor e companheirismo, esclarecendo o quão o que dizeis e sentis dessedentam a
sede de conhecimento e verdades.
O nosso Amor, Carinho, Ternura por jornada tão
enriquecedora e sublime. Gracias muchas pelo acróstico.
(#riodejaneiro#, 24 DE JULHO DE 2019)
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